Na exposição “Diáspora” que segue na Caixa Cultural (RJ) até 19 de janeiro de 2020, pelo olhar poético do artista brasiliense Josafá Neves, o visitante tem a chance de conhecer mais sobre a influência dos povos negros que deram forma à cultura brasileira. É bela e contundente, crítica e pontual. A história brasileira a partir da chegada dos negros e a mescla cultural que cria esse país diverso salta aos olhos.
Esculpidos em madeira estão orixás como Oxóssi, o senhor das florestas, que recebe o visitante; assim como Xangô, senhor da justiça. Oxalá, com sua sabedoria, aparece retratado numa pintura em óleo sobre tela. Tais obras usam a natureza para dar vida aos Orixás, ou seja, tudo a ver com suas raízes. São extremamente marcantes e diferenciadas. Além disso, o artista apresenta também séries de pinturas em óleo sobre tela e pastel de personalidades negras da cultura nacional, como Pixinguinha, Milton Santos, Clementina de Jesus, Cartola, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Nelson Sargento, Itamar Assumpção, dentre alguns outros. São retratos que prezam pela poesia, fugindo do senso comum, onde cada um tem peculiaridades que sobressaem interpretadas por Josafá. Como Elza Soares com uma grande leoa.
A princípio, a palavra “diáspora” vem do grego “dia”, “à parte, separado”; “sopra”, disseminar sementes para que elas cresçam. No sentido contemporâneo, tem outra significação “dispersão”, retirada de povos de seu local de origem. A saber, entre 1500 e 1900, milhões de africanos foram transportados e escravizados em vários continentes.
Navios Negreiros
Josafá Neves trabalha visões fortes desse transporte forçado de africanos. Em “Navios Negreiros” estão pinturas nas quais os escravos parecem, algumas vezes, retratados como feras que disputam restos e seres sem identidade. Aliás, o artista autodidata percorre diversas técnicas, da escultura à gravura, colagem e pintura em óleo sobre tela, óleo sobre tela e pastel e acrílico sobre madeira. Ao invés de utilizar o habitual suporte branco, ele inicia seus trabalhos a partir de um fundo escuro.
“Escureço para clarear. É assim que me afirmo como negro na arte”, destaca o artista.
Criados como gravura em ponta seca, estão duas figuras históricas da Diáspora Negra para Josafá Neves: o ator Grande Otelo e o escritor Luiz Gama. Dois painéis em pintura exprimem os patrimônios imateriais da cultura negra no Brasil: “Capoeira”, que apresenta movimentos e golpes dessa arte marcial, e “Terreiro de Candomblé”, uma releitura da tela Festa do Pilão de Oxalá, do artista Carybé.
Painel Afro-Indígena
Há, ainda, um grande painel afro-indígena que é resultado das oficinas que Josafá Neves realiza com crianças e professores da educação básica de escolas públicas do Distrito Federal, e com estudantes da Universidade Católica de Brasília. Em 2017, a mostra foi apresentada na Caixa Cultural Brasília, onde ficou em cartaz de 24 de março a 14 de maio, e foi considerada uma das exposições com maior número de visitantes. No ano passado, ficou exposta na Caixa Cultural São Paulo entre os meses de outubro a dezembro de 2018, repetindo o sucesso anterior.
Sobre o artista
Nascido na cidade do Gama, em Brasília-DF, em 20 de setembro de 1971, Josafá Neves, autodidata, começou a desenhar aos cinco anos de idade nas calçadas e ruas onde morava. Posteriormente, aos sete anos, mudou-se para Goiânia com a família onde passou a se dedicar integralmente às artes plásticas, a partir de 1996.
Afinal, artista plástico conhecido mundialmente, Josafá já participou de quinze exposições individuais e dezoito coletivas, em cidades como Brasília, Goiânia, Havana/Cuba e Caracas/Venezuela. É famoso por preparar as telas de forma paternal e zelosa, pinceladas na cor preta, visando atingir a emoção dos espectadores. A prática da pintura para o artista tem valor incontestável em seus 20 anos de dedicação integral ao ofício das artes.
Serviço:
Exposição ‘DIÁSPORA’
Visitação: Até 19 de janeiro de 2020
Horário: de terça a domingo, das 10h às 21h
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro
Endereço: Av. Alm. Barroso, 25 – Centro, Rio de Janeiro – RJ.
Classificação: livre para todos os públicos
Entrada franca
Acesso para pessoas com deficiência
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