venenos de deus, remedios do diabo é um livro do moçambicano Mia Couto, um dos melhores escritores lusófonos da atualidade. Famoso, em especial, pelo ótimo “Terra Sonâmbula”. Passei por uma livraria e o título me chamou atenção. Acabei lendo muito mais rápido do que imaginava, no começo, nem tanto, mas, depois, a curiosidade foi se aguçando. Os personagens em suas contradições e a verdade. Onde estaria essa tal verdade?
A obra traz um médico português, Sidónio Rosa, que vai para Moçambique em busca da mulher que ama. A princípio, acabei me identificando com esse personagem nesse sentido – já fiz coisa parecida. Será que vale a pena fazer tal coisa? Sidónio acaba encontrando os pais de sua amada, em Vila Cacimba. Munda e Bartolomeu, a família dos Sozinhos. Cada nome tem um significado mais profundo no meio de alguns mistérios que vão surgindo. Naquela viagem, me vi como Sidónio, perdido entre novidades e esperanças, tristezas e andanças.
A escrita de Mia Couto é fluida e com traços de poesia entre fuligem de nuvens. Aos poucos, conhecemos – ou desconhecemos – as mágoas dos personagens. O Bartolomeu marinheiro com saudade dos mares, a Munda, esse mundo tão estranho que nos pede atenção. O político que fala a verdade quando bebe uísque. Mais uma vez voltamos a essa questão que acaba permeando o livro: a verdade. Sidónio Rosa tem as lições que precisa, apesar das flores que auxiliam no esquecimento. É melhor esquecer e seguir em frente, com o perigo de repetir erros, ou, afinal, nada importa, só o caminho?