Entrevistas
Alec Silva fala de Sertãopunk e ‘Alma Artificial’ | “É bonito falar sobre nordestino no papel, mas dar espaço é outra conversa”
Publicado
3 anos atrásem

Tive uma conversa com o escritor, editor e pesquisador de símbolos e mitos, Alec Silva. Ele está envolvido com o movimento literário do Sertãopunk e a organização da aguardada antologia ‘Alma artificial: histórias de máquinas e homens‘, que reúne diversos autores de todo o Brasil para falar de um futuro possível. Comecei questionando sobre como esse gênero da ficção científica, supostamente, não tem uma tradição no país, seja no cinema, na literatura, nos quadrinhos.
“Antes de tudo, acho bastante complexo afirmar que não temos uma tradição de ficção científica. Não é bem assim. Tivemos manifestações, sim, de teor que lembra a ficção científica mais em seus primórdios, com elementos do gótico, com elementos mais fantásticos sobre fenômenos científicos. Eu diria que a gente apenas não deu o devido valor antes, contudo aos poucos tem surgido, por meio de outras editoras, um resgate desse passado fantástico de nossa literatura”, argumentou o pesquisador.
Em seguida, Alec Silva contou um pouco sobre essa nova empreitada: “Agora, sobre os dois volumes de ‘Alma Artificial’, me envolvi no tema pelo desafio. Foi proposto, no início do ano, um calendário temático, e entre eles alguns de ficção científica, incluindo sobre inteligência artificial. É um desafio para mim, mais acostumado a escrever e ler contos de fantasia e terror, embarcar nisso. Até o momento, tem sido satisfatório, a julgar que é a única antologia da Cartola Editora este ano a pegar dois volumes, devido ao tanto de contos que recebemos, e a maioria com muita qualidade e originalidade.”

Aliás, saiba mais sobre ‘Alma Artificial’ da Cartola Editora: https://www.catarse.me/almaartificial
Sertãopunk
Alec mostra personalidade e não foge da polêmica quando questiono sobre o Sertãopunk e se foi uma resposta ao cyberagreste.
“O termo, em si, não é novidade. Mas o conceito todo que foi dado pelos criadores (G. G. Diniz, Alan de Sá e eu) busca ‘devolver’ aos nordestinos o interesse em falar de sua região. Buscamos incentivar histórias sobre o amanhã, seja daqui um ano, uma década ou mais. Temos algumas características definidas, afinal trata-se de um movimento e um gênero, mas uma vez preenchidos os requisitos (entre os quais está ser nordestino, tanto de nascença quanto de criação), o céu é o limite. E sim, é uma resposta ao falecido (risos).”
Então, fiz uma pergunta da qual já sabia a resposta, mas que achei válido ressaltar. Se estar distante do eixo sul-sudeste dificulta ou ajuda um escritor. “Dificulta. Em praticamente tudo. As oportunidades de publicação são mais escassas, o mercado que adora falar que busca representatividade olha para o Nordeste mais como um planeta estranho, com seres alienígenas. É bonito falar sobre o nordestino no papel, mas dar espaço pro nordestino é outra conversa.”, respondeu Alec. Existiria um racha crescente entre as regiões do Brasil, favorecida pelo momento político? Alec deu uma resposta corajosa.
“Talvez. Eu costumo brincar com o tema, e é uma das características do sertãopunk e eu o explorei em alguns contos, mas acho que o lado mais ofensivo seja o eixo Sul-Sudeste. Nós, do Nordeste, seguimos de boas e se tiver que separar, a gente separa, sim. Cansa carregar o país nas costas, às vezes.”
Realismo Mágico
Quando comentei que o Nordeste é estereotipado pelo eixo sul-sudeste, Alec veio com: “Bastante! É uma coisa que o sertãopunk defende: sem estereótipos, apenas o olhar do nordestino sobre sua realidade, sua região. Um nordestino que nasceu e cresceu aqui terá uma visão diferente de um que nasceu noutro estado e mora aqui há cinco anos; é algo que buscamos, é o que nos move. Não queremos sudestinos reforçando o estereótipo de que aqui é tudo seca, cangaço e cangaceiros. Por isso, o movimento é para os nordestinos, e apenas para eles, para nós.”

Apesar dessas diferenças entre as regiões, fica bem clara a vontade de Alec Silva de elevar a literatura brasileira como um todo. Trouxe para a pauta se precisamos valorizar mais a arte nacional e se somos escravos de um eurocentrismo e da cultura norte-americana. “Precisamos, sim, e muito. E somos bastante. Lembro que quando montávamos os elementos do sertãopunk, foi sugerido alguns elementos estrangeiros importados dos EUA ou Europa. Um deles foi o new weird. Eu perguntei ‘Por que não o realismo mágico?’, e agora temos isso. Assim como temos oportunidade de falar sobre nossas origens afros, e o folclore vem em cheio também, cabendo todos os aspectos possíveis. Não nego a importância da globalização, mas não devemos ser reféns disso.”, disse o escritor de “A Jornada Para Encontrar a Felicidade da Mamãe”.
Jornada e depressão
Pensando em um dos trabalhos de Alec, perguntei se a noite nordestina tem mil olhos. “E um homem é uma coisa muito pequena, como diria Lord Dunsany. A noite sempre me deu uma sensação de enigma, de coisas além do que posso ver, mas estão lá. As corujas são olhos da noite. As mariposas. Os grilos. E algo mais. ‘A noite tem mil olhos’, minha estreia do sertãopunk, é sobre esse algo mais que habita na noite.”, respondeu.

Afinal, questionei sobre o livro que lançou “Jornada para encontrar a felicidade da mamãe”:
“Uma metáfora para a depressão. Sem brincadeira, é isso. Mas no olhar de uma menininha de uns seis anos. E ela não está sozinha. Tem amigos especiais, tem o segredo poderoso que só quem ama os livros conhece’, finalizou Alec Silva, com o romantismo literário necessário.
Ademais, leia mais:
Aliás, conheça ‘Angola Janga’ e a luta de Zumbi dos Palmares em HQ
Alma Artificial | Antologia de ficção científica ganha campanha
Pedro Gerolimich luta para democratizar a leitura | “A gente quer oferecer uma possibilidade diferente”
Jornalista Cultural. Um ser vivente nesse mundo cheio de mundos. Um realista esperançoso e divulgador da cultura como elemento de elevação na evolução.

Você pode gostar
‘A Terra Negra dos Kawa’, longa nacional de ficção científica estreia nos cinemas | Veja o trailer
Entrevista com o escritor Juan Molina Hueso | ‘Ansiedade é pecado no sentido de falta de confiança, incredulidade’
‘Luísa e os Alquimistas’ vão do brega ao piseiro em novo EP
Resenha | Vidas provisórias de Edney Silvestre
Entrevista com Anna Carolina Ribeiro | ‘Me sinto quase uma médium, anotando as coisas e traduzindo ideias em palavras’
Loucuras de Verão | Leia gratuitamente o novo livro da Editora Lettre
7 Comments
Escreve o que achou! Cancelar resposta
Cinema
O Pastor e o Guerrilheiro | Confira entrevista exclusiva com Johnny Massaro
Longa-metragem chega aos cinemas brasileiros com distribuição da A2 Filmes
Publicado
2 meses atrásem
13 de abril de 2023Por
Redação
Nesta quinta-feira, dia 13 de abril, o longa-metragem O Pastor e o Guerrilheiro, do cineasta José Eduardo Belmonte, chega exclusivamente aos cinemas brasileiros com distribuição da A2 Filmes. O protagonistas ganham vida através dos atores Johnny Massaro e César Mello, em grandes atuações. Além disso, o filme ainda conta com a presença do saudoso Sérgio Mamberti (O Homem Que Desafiou o Diabo e Castelo Rá-Tim-Bum), em seu último trabalho.
A trama se passa nas décadas de 1960, 1970 e nos últimos dias de 1999, na virada do milênio. Em 1968, o jovem comunista João (Johnny Massaro) deixa a universidade e vai para uma guerrilha na Amazônia. Lá é preso, sofre torturas e vai para a prisão em Brasília, onde encontra Zaqueu (César Mello), um cristão evangélico, preso por engano. Então sofrem juntos, superam diferenças ideológicas, se ajudam e marcam um encontro para 26 anos depois, à meia-noite, na virada do milênio, em cima da Torre de TV de Brasília.
Em seguida, confira nossa entrevista com Johnny Massaro:
Produzido por Nilson Rodrigues e com o roteiro de Josefina Trotta, inspirado em uma história real, o filme foi rodado no Estado do Tocantins, às margens do Rio Araguaia, e em Brasilia, e conta com a produção executiva de Caetano Curi, direção de fotografia de Bárbara Alvarez, direção de arte de Ana Paula Cardoso, direção de produção de Larissa Rolin, música de Sascha Kratzer e figurino de Diana Brandão.
Quer saber se é bom? Já vimos. Olha aí a crítica:
Com distribuição da A2 Filmes, a estreia do filme O Pastor e o Guerrilheiro aconteceu no Festival de Gramado e o filme chegará agora no dia 13 de abril de 2023 aos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Vitoria da Conquista, Tocantis, Palmas, Campo Grande, Niterói, Macéio, Natal, Manaus, João Pessoa, Guararapes, Goiania e Fortaleza.
Ah, também conversamos com Túlio Starling, que também participa do filme. Confira:
Por último, leia mais:
O que sobrou | Espetáculo no estilo documentário fala das consequências da ditadura militar
Coala Festival terá carimbó com Suraras do Tapajós, hits de Simone e especial Novos Baianos
Star Wars | Novidades sobre filmes, séries e trailer de Ahsoka


Mês do Orgulho | Confira 8 livros com protagonismo LGBTQIAP+

Crítica | Transformers: O Despertar das Feras

Irmãos Por Escolha | Filme sobre a rotina de cadetes da AMAN chega à Netflix

Feira Carioquíssima realiza duas edições na Urca em junho com muito forró
Cultura


Feira Carioquíssima realiza duas edições na Urca em junho com muito forró
Evento chega ao bairro nos dias 10 e 11 na Praia Vermelha e de 23 a 25 no Parque Bondinho...


Zona Franca | Espetáculo da Cia Suave com direção de Alice Ripoll estreia no RJ em temporada popular
O que acontece quando uma sociedade opta pela barbárie, pela guerra, e o indivíduo se surpreende impotente?


Cora do Rio Vermelho | Espetáculo passeia pela vida e a obra de Cora Coralina
Peça sobre a poeta, contista e doceira acontece nos dias 16, 17 e 18 de junho, no Centro Cultural Justiça...


Anime Friends completa 20 anos e traz ao Brasil atores de séries japonesas dos anos 80
Takumi Tsutsui, o inesquecível ninja Jiraiya, será um dos convidados
Crítica


Crítica | Transformers: O Despertar das Feras
Sétimo da franquia é mais do mesmo, mas superior a outros


EO – O mundo visto pelos olhos de um burro
Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023


Benjamin, o palhaço negro | Uma homenagem ao primeiro palhaço negro do Brasil
Parece até piada que notícias como a do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vini Jr. ou um aplicativo que...


Crítica | ‘Meu Vizinho Adolf’ uma dramédia impactante
'Meu Vizinho Adolf' aborda as consequências do nazismo em uma dramédia tocante.
Séries


Aruanas | Segunda temporada apresenta poluição urbana como o inimigo
Série original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo em coprodução com a Maria Farinha Filmes, acompanha a saga de ativistas ambientais


The Sympathizer – Nova série da HBO Max traz Robert Downey Jr.
Trailer mostra que o ator interpreta vários personagens.


The Acolyte | Ilha da Madeira é cenário de nova série Star Wars sobre os Sith
Destino português recebeu parte das filmagens de 'The Acolyte'


Belas Maldições – Neil Gaiman fala sobre trailer da 2º temporada
Série segue sem data de estreia mas agora temos noção de quando o trailer pode sair.
Literatura


Mês do Orgulho | Confira 8 livros com protagonismo LGBTQIAP+
Há uma obra que veio de pesquisas sobre a homossexualidade e as divindades mitológicas, texto sobre as vivências trans nas...


Conheça a biografia do controverso Vladimir Putin em HQ
Obra da Conrad é uma leitura importante para quem quer entender as complexidades da política russa e suas estratégias globais


A Voz do Tempo | Conheça a história real de uma paixão entre um padre beneditino e uma jovem aristocrata
Escritora Lenah Oswaldo Cruz transforma em autobiografia manuscritos que encontrou do pai sobre o romance que chocou as sociedades paulista...


A plenitude do ser: O guia para uma vida transformada | Conheça a filosofia de Tina Turner
"Acredito que cada um de nós nasce com uma missão particular, com um propósito de vida que só nós podemos...
Música


Leoni & Outro Futuro se apresentam no Circo Voador | Hoje é dia de Festa
Show celebra os 40 anos de carreira de Leoni e os 62 anos do artista


Itaipava Jazz & Blues Festival acontece em junho com atrações nacionais e internacionais
O Soberano Itaipava recebe a partir do dia 8 de junho a primeira edição do festival


Em Cantos de Oriṣà | Irma Ferreira lança seu novo álbum
Entre os Oríkìs e Àdúrás, o álbum mostra parte da beleza do repertório religioso afro-brasileiro do Candomblé, em uma junção...


Afeto e Luta – Bruna Caram canta Gonzaguinha | Show acontece no Cesgranrio
No dia 02 de junho, a multiartista fará sua estreia na capital carioca
Tendências
- Cinema1 mês atrás
Crítica | Deixados Para Trás: O Início do Fim
- Cultura2 meses atrás
Abba The Show chega ao Brasil com turnê de 11 shows
- Cinema2 meses atrás
Crítica | ‘Beau tem Medo’ é bizarramente bom
- Cinema2 meses atrás
Crítica | ‘Herói de Sangue’ é destaque no Festival Filmelier
- Cinema2 meses atrás
‘Ninguém é de ninguém’ faz pré-estreia no RJ
- Música3 semanas atrás
Festival Halleluya 2023 acontece no Terreirão do Samba com entrada gratuira
- Cinema2 meses atrás
Crítica | A morte do demônio: A ascensão
- Música2 meses atrás
Francisco, el Hombre | Novo show da turnê de 10 anos acontece no Circo Voador
blogdodavipaiva
7 de junho de 2020 at 05:22
Parabéns pela entrevista.
É muito boa.
Alvaro Tallarico
24 de junho de 2020 at 10:00
Gratidão, meu amigo!
Alvaro Tallarico
24 de junho de 2020 at 10:01
As respostas do Alec foram muito interessantes.
Pingback: Editora do Brasil lança desafio literário digital para crianças
Pingback: Projeto Sinto e Digo realiza sarau virtual
Pingback: A Caverna | Ficção científica apresenta armadilha do tempo
Jose Filho
21 de junho de 2021 at 15:12
Esse Alec Silva é muito ruim. O cara produz uma quantidade imensa de lixo e sai vendeno a 1 real na amazon. Peguei alguns e quase travou meu kindle. Escrita é ruim, enredo ruim, o cara é grosso e se auto intitula o fanfarrao da internet. Péssimo dos péssimos