Entre os dias 9 de junho e 16 de agosto, a exposição Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto ocupará três salas do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro. A princípio, reúne cerca de 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, ao lado de peças de Lygia Clark e Zé Carlos Garcia, fotografias de Alice Brill, Rogério Reis e Rafael Bqueer, vídeos de Leon Hirzsman e Tiago Sant’Ana e aquarelas e fotos de Carlos Vergara.
A curadoria é do Estúdio M’Baraká, com consultoria do psiquiatra Vitor Pordeus e do museólogo Eurípedes Júnior. O CCBB RJ está adaptado às novas medidas de segurança sanitária: entrada apenas com agendamento on line (eventim.com.br), controle da quantidade de pessoas no prédio (1/5 do fluxo antes da pandemia), fluxo único de circulação, medição de temperatura, uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool gel e sinalizadores no piso para o distanciamento.
22
Neste 2021, completam-se 22 anos da morte de Nise da Silveira – e 22 é um número associado à loucura no imaginário popular, tema abordado de forma revolucionária pela psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). Médica formada enquanto única mulher em uma turma com mais de 150 homens, ficou mundialmente conhecida pela ideia vanguardista de usar o afeto como metodologia científica no tratamento às pessoas com sofrimentos psíquicos.
Ao buscar formas de acessar as camadas do inconsciente e criar um diálogo, através de ferramentas artísticas e com aplicações científicas, entre o inconsciente e a sua potente expressão em imagens, Nise reposicionou o entendimento de loucura na história da humanidade. A exposição do CCBB Rio valoriza a dimensão vanguardista e criativa de uma das maiores cientistas do Brasil, reconhecida internacionalmente.
“A Nise criou um método clínico centrado no afeto. Ela é herdeira de Juliano Moreira, de Baruch Espinoza, de Sigmund Freud, de Carl Gustav Jung. Jung foi aluno de Freud e professor da Nise, na Suíça. Homens revolucionários, que abandonaram a ideia do corpo máquina e trabalharam com a abordagem centrada na subjetividade, na emoção, na identidade, na simbologia, nas narrativas que restauram as memórias. A nossa dificuldade hoje é não deixar o afeto se apagar, num momento em que tudo virou máquina”, situa Pordeus, que trabalhou no Instituto Municipal Nise da Silveira de 2009 a 2016 e é um dos fundadores do Hotel da Loucura.
Arte e Inconsciente
No Engenho de Dentro, subúrbio carioca, o Museu de Imagens do Inconsciente foi criado por Nise em 1952. Inicialmente tinha a finalidade de reunir os trabalhos produzidos pelos seus clientes nos estúdios de modelagem e pintura , ou seja, verdadeiros documentos para ajudar na compreensão mais profunda do que se passava no universo interior deles.
O acervo bate 400 mil trabalhos diversos, registrados como patrimônio. Para a exposição há telas de Carlos Pertuis (que deixou cerca de 21 mil pinturas), Fernando Diniz (por volta 35 mil), Adelina Gomes (na base dos 17 mil), Emygdio de Barros (em torno de 3.300) e Arthur Amora, que fez uma série surpreendente com os princípios do dominó, entre outros, com apresentação também dos trabalhos de clientes contemporâneos, entre elas a Albertina da Rocha.
Para Isabel Seixas, produtora e sócia do Estúdio M’Baraká, “a exposição busca apresentar essa personagem e sua importância simbólica ontem e hoje. Nise é uma mulher revolucionária e representa um pensamento vanguardista brasileiro na ciência e, pela especificidade de seu trabalho, consequentemente, nas artes. Nise da Silveira (devemos reverberar esse nome) permitiria múltiplas abordagens – valorizar seu gesto revolucionário a partir do afeto é potente nos dias de hoje”.
Mergulho libertário
A expografia de Diogo Rezende, designer e sócio do Estúdio M’Baraká, traz ambientes preenchidos de improviso e sobreposições que contrastam a frieza da instituição de clausura, sob constante vigilância, com o calor, a humanidade e a liberdade do trabalho que a doutora Nise realizou nos ateliês do Engenho de Dentro.
Nas três salas, o público vai passear pelos precursores da arteterapia em oposição aos tratamentos da época, a questão do afeto, depois verá a chegada da alagoana Nise ao Rio de Janeiro, a passagem pela prisão, as mulheres com quem conviveu, entre elas a sambista Dona Ivone Lara, até fazer um mergulho no inconsciente, explorando também a questão territorial do engenho de dentro enquanto espaço de exclusão e metáfora engenho interior versus engenho de fora.
Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto tem patrocínio do Banco do Brasil e é realizada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal. A exposição também poderá ser visitada através de uma galeria virtual em 3D a partir de julho.
Exposição Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto
Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro
De 09 de junho à 16 de agosto
R. Primeiro de Março, 66 – Centro
Visitas presenciais diárias (exceto às terças), de 9h às 18h, com agendamento on line pelo site eventim.com.br