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Crítica

Notícias Populares | Série sobre jornal de São Paulo estreia no Canal Brasil

A série Notícias Populares estreia essa sexta-feira, 29 de setembro, no Canal Brasil. Ela mostra o dia a dia da redação do famoso jornal.

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Sete pessoas na redação de um jornal segurando um jornal aberto.

Já ouviu falar de Notícias Populares? Pois hoje é dia. Da série, não do jornal. Essa série que é baseada no jornal, já que foi criada pelo jornalista André Barcinski, que de fato trabalhou no Notícias Populares por um ano e meio, e pelo cineasta Marcelo Caetano.

André conta que a ideia de fazer algo baseado no “Notícias Populares” já existe há muito tempo. “Vi no jornal uma escola muito grande de jornalismo cultural.”, diz. “É uma história que me fascina.”

Notícias Populares estreia hoje, dia 29 de setembro, às 22:30. Seu lançamento faz parte dos 25 anos do Canal Brasil, onde a série será exibida. Ao todo, serão sete episódios, lançados toda sexta-feira.

Pra entrar no clima, fique com o trailer:

Notícias Populares – O jornal

O “Notícias Populares”, mais conhecido como NP, foi um jornal de São Paulo. Circulou por quase 38 anos, entre outubro de 1963 e janeiro de 2001. Era conhecido por suas matérias sensacionalistas e escandalosas, que deixavam dúvida se eram verdadeiras ou não. Notícias como “Bebê Diabo” e “Gangue dos palhaços” foram temas do NP. Mas ele também foi precursor e avant-garde em algumas áreas. Foi, por exemplo, o segundo meio de comunicação do Brasil a ter uma coluna LGBTQIAP+. E a tratar pessoas dessa comunidade com respeito. Também havia mais profissionais negros e editoras mulheres do que em outros jornais.

Por ser popular, não era muito bem-visto. Era publicado pelo Grupo Folha, mas sua estrutura estava longe de ser a mesma de outros jornais do grupo. Os computadores, por exemplo, eram todos de segunda-mão. Quase tudo por lá era de segunda mão, aliás. O que a “Folha de São Paulo” não queria mais, enviava para o “Notícias Populares”. Portanto, era um ambiente bem desordenado. Por causa da estrutura, mas também pelo tipo de notícia que cobria. E por sempre receber visitas do público na redação.

É esse ambiente de caos que o espectador poderá ver na série.

Notícias Populares – A série

É início dos anos 90. O “Notícias Populares” está em crise. Vem sofrendo muitas críticas exatamente por seu teor sensacionalista. Para colocar ordem (ou tentar) na loucura que é o NP, chega Paloma. Vinda de Paris, onde trabalhou como correspondente de um dos maiores jornais do Brasil. Seu objetivo – e o que lhe foi prometido – é ficar seis meses no Notícias Populares, organizar a bagunça e ir para a Folha. Mas ela vai ver que não vai ser tão simples assim.

Crédito da imagem: Arthur Costa.

A personagem de Paloma, interpretada por Luciana Paes, não existiu. Ela está ali como uma representação do espectador, jogado aos leões, no meio da desordem que é a redação do NP. Paloma, assim como quem assiste, não sabe como aquele jornal funciona. Ela vem de fora, vem da Europa, não está mais acostumada com o Brasil. Muito menos com o Brasil “de verdade”, o Brasil sem frescura que é o NP. Luciana Paes está no ponto na pele da jornalista. Acostumada a fazer comédia e personagens mais escrachados, que externalizam muito no corpo, a forma como Luciana interpreta o jeito comedido de Paloma faz o espectador sentir junto com ela todo seu incômodo.

Cenografia

Apesar de Paloma não ter existido, grande parte do que se vê na tela é real. Ou foi. Não de forma exata. Até porque a intenção dos criadores não era de documentação, e sim de ficção. Mas muito do que ocorreu no Notícias Populares pode ser visto na série. Como as matérias bizarras. A cada episódio, o espectador se depara com uma das notícias que o jornal realmente publicou. O Bebê-diabo está lá. A Gangue dos Palhaços também. E muitas outras esquisitices.

O que também está lá são vários objetos que existiram na redação. Não o mesmo objeto, mas reproduções. A produção da série teve acesso a um documentário feito dentro da redação do jornal, portanto tiveram muita matéria-prima para reproduzir o cenário tal qual era nos anos 1990. Gravada em dos prédios do jornal Folha de São Paulo, o fato também ajudou a levar o clima do NP para as telas.

Estética e clima

Esse vibe meio trash da série permitiu que produção e elenco abusassem dos exageros. Isso ajuda o espectador que nunca teve contato com o Notícias Populares a entender o que era ler o jornal na época. Chegar na banca de jornal e ler reportagens absurdas. Essa era a intenção do diretor com o tom absurdo e excessivo visto na tela.

Assumidamente com referência de Pedro Almodovar, é possível notar a inspiração nas cores utilizadas tanto em figurinos e cenários, quanto na própria fotografia. Bruna Linzmeyer, que interpreta a personagem Rata, que aparece nos últimos episódios, diz que uma de suas referências foi Andrea Cara Cortada, de Kika, longa do diretor. Ana Flávia Cavalcanti, que dá vida à Greta, colunista social do NP, disse ter aproveitado para atuar um tom mais acima do que está acostumada, o que, segunda ela, foi muito divertido de se fazer.

Crédito da imagem: Arthur Costa.

Aliás, os personagens são um caso à parte e cada um deles poderia virar uma matéria no jornal, de tão interessantes e únicos. Do diretor do jornal ao “foca” (jornalista novato), passando pelos personagens das matérias, todos têm características irreverentes que divertem o espectador. Indo quase para um extremo, um absurdo, meio nonsense, mas conseguindo parar bem no momento que seria demais. Bem no clima do jornal mesmo. Essa é uma das características mais fascinantes da série: valorizar o que se considera ridículo em cada pessoa.

Diversidade

Por falar em personagens, uma curiosidade: para Notícias Populares, houve inscrição online para o elenco. O diretor revelou que acha primordial haver sempre renovação de casting, para não se ter sempre as mesmas pessoas nas produções. “É vital para ter novos rostos surgindo e de locais que não são agenciados. É uma função política até”, afirmou. Por conta disso, o elenco é bastante diverso. E com muitos rostos desconhecidos do grande público e que esbanjam talento.

Outro fato interessante é a troca de atores de seus gêneros audiovisuais mais usuais. Como a já mencionada Luciana Paes, que geralmente faz humor, no papel de uma jornalista muito comedida. Ou Ana Flávia, uma mulher séria e ativista, interpretando uma colunista social escrachada. “Quis fazer a troca de atores para ter um estranhamento. Pegar o sério para fazer o engraçado e o engraçado para fazer o sério”, contou. Foi uma boa escolha porque aumenta ainda mais o impacto do espectador para essa redação tão conturbada.

Crédito da imagem: Arthur Costa.

Enredo

O roteiro é de André Barcinski em parceria com o diretor Marcelo Caetano e, também, Anna Carolina Francisco e Ricardo Grynzpan. Os roteiristas conseguiram deixar a série redonda, sem pontas soltas. E com um equilíbrio perfeito entre comédia, suspense e até um pouco de drama. Há temas que são críticas nem um pouco veladas a alguns assuntos. Mesmo trabalhando com notícias surreais, como um jacaré que come crianças e é apelidado de “jacaré-cocô”, o roteiro consegue tocar em temas de forma leve e divertida, mas que geram análise e discussões. “A discussão crítica se mantém. O politicamente incorreto não deve ser celebrado, e, sim, colocado para discussão.”, afirma Marcelo.

Quanto à pesquisa para a escolha das matérias utilizadas, os roteiristas pesquisaram em mais de mil exemplares do jornal. Além disso, a produção também entrevistou profissionais que trabalharam no NP. Segundo André, há material para fazer ainda mais 5 temporadas. Estamos contando com isso, porque é uma série muito diferente e que deixa o espectador ávido por mais!

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Cinema

Crítica | ‘Pedágio’ tem atuações e direção impecáveis

Novo longa de Carolina Maskowicz estreia nos cinemas em 30 de novembro.

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Pedágio.

Pedágio entra em circuito no dia 30 de novembro. Todavia, ele esteve na programação do Festival do Rio e da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com roteiro e direção de Carolina Markowicz, tem Maeve Jinkins e Kauan Alvarenga nos papéis principais. Também integram o elenco Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino, que, mais uma vez, faz par com Maeve (como na série Os Outros).

A sinopse é a seguinte: uma mulher trabalha em um pedágio. Mãe solo, ela faz tudo por seu filho, porém, começa a se incomodar com vídeos performáticos que ele faz para a internet. Achando que uma terapia de conversão possa dar um basta ao que o filho faz, ela começa a juntar dinheiro para pagar uma cura gay ministrada por um famoso pastor internacional. Contudo, a forma que ela faz isso é ilegal.

Por enquanto, fique com o trailer do filme:

Brasil retratado

O filme mostra uma realidade muito comum: até onde uma mãe vai para proteger um filho. No caso, o que essa mãe acha que é proteção. Porque, para ela, colocá-lo em uma terapia de conversão é uma forma de proteção. Portanto, retrata também outra realidade mais comum ainda, infelizmente: o imenso preconceito que ainda existe contra pessoas LGBTQIAP+. E as consequências desse preconceito.

A diretora traz esse tema de uma forma muito original e criativa. Além de todo cenário não ser um que costumamos ver em filmes – todavia, afinal, é um cenário bastante brasileiro -, mostra uma mãe que tem um medo muito grande do que pode acontecer com seu filho em um lugar tão cheio de preconceitos, mas que não isola ou rechaça o filho. O longa também mostra a hipocrisia tão comum entre pessoas preconceituosas, que afirmam que ser gay é errado, mas não hesitam em trair seus companheiros sempre que há oportunidade, sendo que, segundo as regras que seguem, trair é tão errado quanto ir para a cama com alguém do mesmo sexo (enfim, a hipocrisia, não é mesmo?).

Revelação

Pedágio é um filme que consegue passar muito bem sua mensagem. E grande parte disso se dá por causa dos atores. Maeve Jinkings já é grande conhecida do público. Além de atuar em novelas, também participou de longas de renome, como O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e Boi neon, de Gabriel Mascaro. Espera-se que ela se entregue à personagem, pois o público está acostumado com essa característica da atriz. E é o que ela faz. É possível ver como a mãe retrata ama aquele filho, e manda-lo para a dita terapia não vem de um lugar de maldade. Nem todas as outras coisas que faz. Vem de um lugar de cuidado e proteção extremos, já que, como é comum, ela é tudo que ele tem, mãe E pai.

Os atores Kauan Alvarenga e Maeve Jinkings e a diretora Carolina Maskowicz
em debate sobre o filme no Festival do Rio 2023. Imagem: Livia Brazil.

Contudo, Kauan Alvarengua, que dá vida ao filho, é uma grata surpresa, já que é novato nos longas. O jovem ator mostra um equilíbrio perfeito ao interpretar Tiquinho. Ao conversar com o ator, ele se mostrou muito feliz e chocado com a resposta do público ao filme e à sua atuação. Se continuar nesse caminho, Kauan tem muito a mostrar e a nos surpreender. E obviamente que as atuações incríveis são graças, também, à direção certeira de Carolina Markowicz.

Premiações

Pedágio foi exibido nos festivais de Toronto (Canadá) e San Sebastián (Espanha). Além disso, recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Roma (Itália). No Festival do Rio, venceu quatro categorias: melhor atriz (Maeve Jinkings), melhor ator (Kauan Alvarenga), melhor atriz coadjuvante (Aline Marta Maia) e melhor direção de arte. O longa também foi um dos pré-selecionados para a edição de 2024 do Oscar, mas Retratos fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, acabou sendo o escolhido.

A diretora Carolina Markowicz, e o ator Kauan Alvarenga conversaram um pouco comigo sobre a recepção do filme no Brasil e no exterior. Carolina também comentou sobre a mensagem de Pedágio e como é fazer cinema sendo uma mulher. Está tudo no vídeo abaixo.

Ficha técnica

PEDÁGIO

Brasil | 2023 | 101min.

Direção e Roteiro: Carolina Markowicz

Elenco: Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino.

Produção: Biônica Filmes.

Distribuição: Paris Filmes.

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