Um dia, zapeando, dei de cara com cenas belas e rostos orientais. O Carteiro das Montanhas era o filme sobre um velho trabalhador que está para se aposentar e ensina a poética profissão de entregar cartas para um jovem. Enquanto isso, revê sua vida.
“O itinerário do carteiro é para ser feito a pé”, diz ele para o filho que quer pegar carona. Tem o clássico embate entre a velha e a nova geração. A experiência da sabedoria contra o futuro iminente. Encontram a idosa que não enxerga, mas ama receber cartas dos netos. É um dos momentos mais tocantes, dentre tantos que surgem.
Em verdade, lembrei de quando viajei pela América Latina e passei pela Ilha Taquile, no Peru. Sentado e hipnotizado pela paisagem, vi um senhor passando. Acabei filmando aquele momento e virou um curta-metragem que inscrevi em um concurso. Nunca me esqueci daquele senhor, apesar de tê-lo visto por somente um minuto. Utilizei a saudação que tinha aprendido na língua quéchua e ele, simpático, respondeu.
Veja:
Seguia andando, vivente. Ainda trabalhando no fluxo de sua vida. O que teria vivido? O que viu? Passou toda a vida na ilha? Nunca saberia. Só poderia imaginar.
No filme, além das lindas imagens, o longa tem toda uma delicadeza, com uma trilha sonora que mescla música oriental típica com algumas outras em inglês em momentos específicos.
A fotografia é louvável, como na cena em que o novo carteiro e a moça de uma aldeia se divertem cozinhando sopa. A luz entra pelas frestas da janela, sombreando com singeleza ambos enquanto sobe a fumaça da panela.
Durante o longa, os verdes são tão vivos em seus diversos tons que impressiona muito e brilha na tela. A vontade é de seguir aqueles dois por entre as montanhas. Um belo trabalho do diretor chinês Jianqi Huo.
O rio é a metáfora da passagem do tempo. As lembranças do senhor escorrem em sua face como as águas correm entre as pedras quando o filho o carrega nas costas.
Quando as cartas voam, o desespero do velho é tocante para pegá-las no ar. A preparação do seu único filho como seu sucessor é o traço do fim de uma jornada para o início de outra. O ciclo da vida não para.