Na década de 1910, muito antes de tornar-se um ícone mundial do comunismo, Ho Chi Minh encontra o marinheiro brasileiro Faca Cega na cozinha de um navio francês em que ambos trabalhavam como cozinheiros. Eles se tornam amigos e passam quase um ano no Rio, onde o futuro herói da independência e da reunificação do Vietnã – que derrotou seguidamente França e Estados Unidos em guerras sangrentas – entra em contato com as ideias socialistas.
Dessa forma, este encontro casual mudou a trajetória do século XX. Esta história é contada por Luiz Antônio Pilar, neto de Faca Cega, em O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh, filme de ficção disfarçado de documentário de busca, que estreia dia 14 de julho nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Aracaju, Salvador, Tocantins e Curitiba, com distribuição da Pipa Pictures e produção assinada pela Moviola Filmes.
Em uma época de notícias falsas como a nossa, O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh pode ser descrito como um falso filme verdadeiro ou um verdadeiro filme falso. Cabe ao espectador decidir. Tudo neste filme é ficção. Menos as verdades. Esta é a ideia central de O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh, estreia de Claudia Mattos na direção de longas de ficção e que conta com Eduardo Vaisman na supervisão de direção.
Invenção?
O filme usa a estética documental para fazer uma invenção parecer um documentário histórico sério (não cômico). Seu tema central é a possibilidade de conjugar história e memória, fatos e ficção, verdades e mentiras. Seu objetivo é fundir e confundir todas estas categorias.
O filme desdobra o falso documentário em dois diferentes níveis: a busca de o making of. No primeiro, temos a amizade de Faca Cega e Ho Chi Minh e suas aventuras no Rio, em um período de extrema vivacidade cultural, com o nascimento e a disseminação do samba e a popularização do futebol, por exemplo. Eis o documentário de Pilar, neto de Faca Cega. Na segunda, acompanhamos as aventuras de Pilar, tentando realizar o documentário, suas dúvidas e incertezas. Eis o making of, realizado por Claudia, pesquisadora do projeto.
Além disso, o filme apresenta um riquíssimo material de arquivo, com filmes e fotografias de época, que mostram o Rio e o Vietnam do início do século 20. No entanto, alguns materiais foram deslocados espacial e temporalmente com o objetivo de servirem ao jogo de ficção e realidade que o filme propõe.
O mesmo se aplica às entrevistas. Especialistas e atores que fingem ser especialistas são entrevistados. Especialistas podem contar mentiras e atores podem falar sobre fatos históricos, ou não. O fato é: todos os testemunhos – falsos ou verdadeiros – foram escritos no roteiro. Não há como saber quem diz a verdade e quem mente.
O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh foi realizado com o apoio da Riofilme, Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e Ancine – FSA. Seu roteiro foi finalista do Festival de Havana (categoria Roteiros Inéditos) e recebeu consultoria do Laboratório Europeu de escritura Audiovisual.