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O Senhor Águia | Filme russo mostra o potencial cinematográfico na simplicidade

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The Lord of Eagle, Toyon Kyyl, filme russo

Conhece o filme ‘O Senhor Águia‘(The Lord Eagle, Toyon kyyl), dirigido por Eduard Noviko? A União Soviética: uma união de repúblicas socialistas que supostamente mantinha uma união entre diversas nacionalidades, culturas e crenças. Na realidade o vasto território soviético era marcado por diferenças na multiplicidade de costumes e modos de vida. Enquanto o governo soviético buscava solidificar-se como uma potência industrial, grande parte do território soviético ainda era basicamente rural e atrasado. As religiões por serem vistas como um estorvo no novo regime socialista, foram perseguidas e proibidas.

Este cenário, as vezes contraditório, surgido após a revolução de 1917, é simbolizado pela história do filme “O Senhor Águia”. Ambientado em uma região remota da União Soviética oriental, o filme conta a história de um casal idoso que vive em sua pequena propriedade rural e que um dia é surpreendido pela presença de uma águia nos arredores. Contudo, como eles tem uma visão sacra do animal como um mau presságio, buscam tentar afugentá-la através de oferendas e cerimônias religiosas.

Conflito entre gerações

Situado na década de 30, a história mostra sutilmente o conflito entre gerações pré e pós revolução na oposição dos personagens idosos com os mais jovens. Este descaso da nova geração com o antigo é simbolizado pelos jovens soldados que patrulham a região que acham graça da arma antiquada que o protagonista (Mikipper) carrega. A total negação das tradições esteve muito presente na revolução e implementação do novo regime.

Na intenção de extinguir qualquer resquício do Czar e os tempos anteriores ao novo regime, tudo ligado ao tradicional era proibido e negado. Esta oposição de pensamentos simboliza de forma direta como a União Soviética buscou uma integração forçada, onde as antigas tradições eram banidas. As pessoas em geral não consideravam a vida antes de 1917 melhor. Mas havia muitos povos distintos com diversas peculiaridades em demasia para abrirem mão de suas individualidades por decreto. O casal protagonista ao pedir ajuda a um xamã exemplifica essa dualidade, onde as pessoas não abrem mão de suas crenças religiosas, mas precisam praticá-las de forma escusa, pois a religião é proibida no novo regime.

Um único cenário

O filme utiliza basicamente um mesmo cenário: uma cabana e poucos atores. O casal de protagonistas está predominantemente dominando a ação do filme, assim como a águia que não chega a ser um personagem, mas a personificação da tênue linha que separa a vida camponesa e religiosa da vida devota e ateia do regime socialista. Ao mesmo tempo que eles desejam livrar-se da águia, eles a temem. Essa simplicidade de cenário e personagens remota a alguns filmes do cinema soviético mudo que eram concentrados na história e que buscavam representar de forma mais realista possível a vida soviética.

Todas estas questões funcionam como analogia de características da vida no pós revolução de 1917. Características estas que são apresentadas por meio do drama peculiar do casal afim de traduzir as dificuldades, dúvidas e incertezas vividas pelo povo soviético, divididos entre suas tradições e seu apoio incondicional ao novo regime. Os atores inclusive são de uma simplicidade e originalidade tocantes em suas atuações. Ambos já com uma certa idade estão trabalhando pela primeira vez em um filme.

Modernizando os “atrasados”

O filme expressa de forma clara a diferença da postura entre a geração pós-revolução e a pré-revolução mostrando em pontos cruciais da história a tentativa do regime de “modernizar” a parte atrasada e rural da União Soviética, onde as pessoas viviam com seus bois, vacas e cavalos dentro de casa. O filme consegue através de uma história simples criar simultaneamente uma fábula e
uma alegoria histórica. O cenário inóspito da região também tem presença marcante no filme que mostra sua força dramática na honestidade e sinceridade dos “não-atores” que interpretam o casal protagonista. Apesar de sua aparente simplicidade, “O Senhor Águia”, é de um potencial cinematográfico impressionante.

Enfim, o filme foi exibido no Festival de Cinema do BRICS que ocorreu entre setembro e outubro de 2019 na cidade de Niterói (RJ) e infelizmente parece que não teve estreia no circuito comercial brasileiro ou perspectiva disso. Quem tiver curiosidade e meios para isso sugiro fortemente que busque em algum lugar da internet este filme para assistir ou baixar.

Trailer do filme com legenda em inglês:
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Crítica | ‘Meu Vizinho Adolf’ uma dramédia impactante

‘Meu Vizinho Adolf’ aborda as consequências do nazismo em uma dramédia tocante.

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Após a Segunda Guerra Mundial muitos nazistas se refugiaram na América do Sul, algo que já foi abordado das mais diversas formas no cinema. Meu Vizinho Adolf, traz o tema novamente agora colocando um suposto Hitler como vizinho de um judeu que sofreu com o Holocausto. Um tema delicado que o diretor Leon Prudovsky consegue tratar bem e com um tom de humor mais discreto.

Mr. Polsky (David Hayman) perdeu toda sua amada família e decidiu viver isolado em uma velha casa na Argentina. Sua paz termina quando Mr. Herzog (Udo Kier), um alemão irritadiço, se muda para a casa ao lado. A aparência e o comportamento dele fazem com que Polsky desconfie que seja Adolf Hitler disfarçado.

Um clima triste mas que ainda nos faz rir

O personagem de Hayman passou anos evitando contato humano, sequer aprendeu espanhol, ele carrega uma dor que aperta o coração desde o início. Ainda, assim ele é um velho teimoso e também ranzinza do tipo que nos faz rir. Ao colocar na cabeça que seu vizinho é o próprio Führer, ele tenta alertar as autoridades sem sucesso.

Com isso Polsky começa a estudar a figura funesta para poder provar sua teoria. Todas as brigas e tentativas de invasão e espionagem são divertidas, não é aquele humor de fazer gargalhar e provavelmente não era essa a intenção do diretor. Conforme o filme avança, ambos vão criando uma amizade que obviamente é extremamente incômoda para Polsky. Mas ele começa a achar que estava errado até encontrar provas um pouco mais substanciais.

Um filme simples mas bem feito

Meu Vizinho Adolf não é um longa que exige cenários grandiosos, é tudo muito simples, são poucas locações. O foco são as atuações de David Hayman e Udo Kier que consegue cativar. Ambos os personagens carregam um passado cruel e toda a dor que eles sentem é revivida com força no final. A comédia fica um pouco de lado para falar de algo sério de forma acertada. Ao final temos um bom filme que consegue mostrar a crueldade do nazismo sem ter que colocar nenhuma cena pesada demais.

Estreando hoje nos cinemas brasileiros, Meu Vizinho Adolf é uma boa opção para quem quer fugir dos pipocões. Fique com o trailer:

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