Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes, “Retrato de Uma Jovem Em Chamas“, da diretora Céline Sciamma, é um romance arrebatador e inesquecível. Protagonizado e dirigido por mulheres, o longa tem ares de histórias ancestrais contadas ao redor das fogueiras pelos espíritos livres das bruxas cuja magia, assim como a de uma chama, é aquela força pulsante e inexplicável que nos mantém como que hipnotizados por sua beleza e potência.
O longa é uma poesia sobre a cumplicidade entre almas femininas. O fogo é o único personagem masculino relevante da história e é praticamente onipresente. Aliás, é ele quem ilumina e aquece a casa onde se passa toda a trama, um lugar longínquo, entalhado em meio à íngremes escarpas de uma ilha selvagem. Ali Marianne (Noémie Merlant), uma pintora corajosa e independente, conhece Héloïse (Adèle Haenel), uma jovem determinada e de temperamento indócil. Dessa relação nasce uma paixão ardente e intensa, que se desenrola ao som do crepitar da lenha na fogueira.
Lugar Inóspito
A responsável pela vinda de Marianne para esse lugar inóspito é a mãe de Héloïse (Valeria Golino), que deseja um retrato de sua filha para que o pretendente italiano da jovem possa conhecê-la. Héloïse havia se recusado a posar para o outro pintor que esteve ali, justamente por não querer que sua união com o jovem se concretizasse. Por isso, Marianne é obrigada a se esconder sob o disfarce de uma companhia para Héloïse, que acabou de perder a irmã em uma morte misteriosa. Entretanto, por trás dessa trama, servindo e cuidando, está Sophie (Luàna Bajrami), criada da casa. Ela também possui seus segredos e protagoniza algumas das cenas mais belas do longa.
Enfim, “Retrato de Uma Jovem Em Chamas” é um filme de beleza pungente. Uma obra-prima sobre a amizade e a compreensão entre mulheres, que retrata de maneira magnífica o amor e o desejo de maneira tocante e potente.