Pedro Gerolimich é professor, escritor e Mestre em Comunicação pela UERJ, idealizou os projetos Booktruck e Livro de Rua, que se baseiam numa experiencia internacional, a bookcrossing, onde as pessoas deixam os livros em locais públicos como metrôs, praças, ônibus. Conversamos antes da pandemia de coronavírus se espalhar pelo mundo, dentro da bela e reformada Biblioteca Parque Estadual que fica no Centro do Rio de Janeiro. Durante a entrevista, Pedro criticou o alto preço dos livros no Brasil. Ainda disse que busca realizar eventos em comunidades distribuindo livros gratuitamente, pedindo que, após a leitura, passem adiante, é o projeto “Libertação de Livros”.
Histórias por Telefone
Atualmente, durante a pandemia, idealizou o projeto “Histórias por Telefone”, focado em idosos. Afinal, além de estarem no grupo de risco do novo coronavírus, muitos ainda sofrem com depressão e solidão. “Uma colaboradora de nossa equipe, moradora da Cidade de Deus, estava muito assustada, com sintomas de depressão, e nos enviou mensagem pedindo ajuda. Liguei e conversamos por cerca de trinta minutos, no final ela estava melhor, mas na minha cabeça essa conversa durou dias. Fiquei pensando nos meus pais, tios, no grande número de pessoas idosas que não tem com quem conversar. Foi dessa experiência que surgiu a ideia de fazer ligações por telefone, contando histórias, lendo poesias, daí foi um pulo para institucionalizar a ação e criar o projeto, conversei com a Secretária Danielle Barros, que amou a iniciativa e colocou toda a secretaria para apoiar a causa dos idosos”, declarou Pedro.
O resultado foi rápido e em menos de um dia foram mais de 50 voluntários e 300 inscritos. Para participar, basta preencher o formulário abaixo, com seus dados e telefone, ou de alguém que você saiba que precisa de ajuda. Voluntários poetas e contadores de histórias entrarão em contato, via telefone, e contarão uma história exclusiva para você e sua família. Os interessados devem acessar este link.
A missão com os livros
Pedro Gerolimich me informou que começou essa missão com a leitura meio de brincadeira. Estudou na Escola Técnica Estadual Visconde de Mauá, em Marechal Hermes, e foi se envolvendo na política estudantil até chegar a ser vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes (UBES), onde começou a conhecer as realidades de estudantes em todo o Brasil. Foi quando sua mente se abriu de outras formas, ao perceber a precariedade de diversos lugares, onde muitos alunos “tinham que maratonar para chegar até a escola”.
De lá para cá, são mais de dez anos nessa luta pela leitura. Essa batalha culminou com o convite para ser Superintendente de Leitura e Conhecimento, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. Ali pôde começar a fazer mais, participando da política de leitura do estado do Rio de Janeiro, fortalecendo as Bibliotecas Parque (Rocinha, Manguinhos, e outras). Uma série de políticas que visavam democratizar os livros foi surgindo. Entre elas, a criação de salas de leitura em presídios e em todas as unidades do Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (DEGASE), por exemplo. “As pessoas que cometeram crimes podem perder seu direito à liberdade e precisam passar por um processo de ressocialização. Só que elas não podem perder nunca o direito de sonhar. O direito de sonhar tem que ser um direito inerente a qualquer ser humano.
Oportunidades
“A gente acredita que esses presos e essas crianças que estão no DEGASE, que cometeram delitos e estão presos vão voltar de alguma maneira para a sociedade… Cabe a gente, sociedade, escolher se a gente quer que volte alguém que ficou olhando para o teto o tempo todo e pensando em formas de arquitetar sua fuga ou crimes… É um espaço que ressocializa muito pouco… O que a gente quer é oferecer uma possibilidade diferente, que o mundo dos livros possa oferecer a eles uma porta de saída dessa vida (do crime). Que possa oferecer uma perspectiva de sonhos, de futuro diferente daquele ali, e eu acho que só a cultura e a educação conseguem.”, me disse Pedro.
“O Brasil passa por uma crise de valores”, falou também. E coloca esses valores como sendo os de empatia, solidariedade, compreensão de outras realidades, explicando que não há soluções fáceis para problemas complexos, mas a cultura pode ser a base dessa transformação. “Existe uma deficiência muito grande educacional”, deixa claro Pedro. Explica que a grande maioria do povo brasileiro não tem o hábito de ler, e essa deficiência acaba vindo desde a infância, contudo afirma que sem leitura não é possível criar um país melhor.
“Nossa tarefa é fazer com que as pessoas possam ter acesso. Não cabe a mim julgar a vida que a pessoa levou”
Quadrinhos e UERJ
Pedro afirma que quer que as pessoas tenham a oportunidade de ter livros em suas mãos, seja em ruas, ONGs, creches, escolas. Além disso, louva a UERJ e as vivências que teve lá. Impressionava-se com o comprometimento dos alunos que queriam melhorar a educação do Estado e diz que essa universidade formou sua vida. Louva a UERJ é fundamental como um dos pilares do Rio de Janeiro.
Como fã de quadrinhos, questionei sobre a cena brasileira da nona arte. Pedro Gerolimich falou que a cena de quadrinhos no Brasil pode avançar bastante. Inclusive, deseja que tenham um estímulo constante contando com o incentivo do estado. Aliás, aproveita e sugere a visita à maior gibiteca do Rio de Janeiro, em Copacabana, totalmente gratuita, com um acervo fantástico. Enfim, fiz uma pergunta tradicional por aí afora, e por aqui dentro do Vivente Andante, sobre arte, e ele colocou como “algo indefinível que toca a alma, o combustível que nos faz acreditar em uma vida diferente”.
Por fim, confira a entrevista completa:
“Sem sonhos a gente envelhece”, Pedro Gerolimich.