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Crítica

Me casei com uma colega para calar os meus pais | Leia a resenha sobre esse mangá LGBTQI+

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Me casei com uma colega para calar os meus pais

“Me casei com uma colega para calar os meus pais”, é o mais novo mangá trazido pela editora Newpop, feito por Naoko Kodama, de volume único. Vem pelo selo Pride da editora que é focado e especializado em obras LGBTQI+, sendo uma obra conhecida como Yuri, ou seja, relacionamento amoroso entre duas mulheres.

Na história acompanhamos Machi, uma mulher que sempre viveu com as expectativas de seus pais em cima de si, agora sendo pressionada para se casar. Cansada de tudo, acaba se casando de fachada com sua amiga Hana que, quando eram adolescentes, havia se declarado para Machi. Agora além de finalmente tentar dar um ponto final na relação tóxica com seus pais, Machi verá que a companhia de Hana não lhe parece tão irritante assim.

Expectativas

Machi é uma personagem constantemente sobrecarregada com as expectativas dos outros, seja no âmbito profissional ou pessoal. Ela acaba por fazer como muitos de nós durante a vida, que é tomar decisões simplesmente porque outras pessoas ou a sociedade espera algo de nós. Às vezes podem ser pequenas escolhas, mas que vão se somando, nos estressando, sobrecarregando e deixando infelizes com o tempo. A protagonista escolhe sua carreira baseada nos pais, pois acha que com isso teria menos problemas com eles. Apesar de ir bem no trabalho, ela mostra no início certa insatisfação pessoal, pois, no fim, não era o que queria realmente. São situações que com certeza acontecem com muitos no cotidiano, como escolher um curso ou uma profissão porque “meu pai sabe o que é melhor para mim”.

Ela também tem que aguentar amigos que falam o tempo todo de relacionamentos e, de certa forma, acabam botando pressão para que os outros também entrem em relacionamentos. Afinal, você nunca saberá o quanto é bom enquanto não tiver um e todos nós temos que ter simplesmente porque é o que todos esperam.  Além de também se sobrecarregar devido as pressões e injustiças de ser uma mulher, ainda mais uma mulher japonesa no Japão, onde mesmo seus chefes reconhecendo sua grande competência, estão mais inclinados a dar melhores cargos para algum outro homem, mesmo ele sendo menos competente que Machi, porque “ela é um risco, pode engravidar”.

Amor

Mais do que um mangá de romance, onde aos poucos Hana e Machi vão se ligando até verem que se amam, “Me casei com uma colega para calar os meus pais” acaba sendo principalmente uma história sobre liberdade e ser você mesmo. Já que no processo, não só de amar Hana, Machi começa a se libertar do que a oprime e começa a não só ser ela mesma, mas a fazer o que ela tem vontade e desejo de fazer.

Além disso, a história tenta mostrar como pessoas LGBTQI+ são exatamente isso, PESSOAS. Simplesmente tão normais quanto qualquer outra. E, quando temos uma amostra de extremo preconceito no mangá ao chamarem Hana de anormal, é extremamente gratificante como esse momento de extremo preconceito é mostrado como extremamente ruim, tirando Machi do sério na hora e solucionando esse grande problema que acabou de acontecer.

Já faz um tempo que a Newpop vem trazendo várias obras LGBTQI+ e quanto mais eu leio, fica mais difícil não querer mais obras assim. No final do volume ainda se tem mais uma história curta chamada “Amor anaeróbico”. Essa por sua vez acaba não chamando tanto atenção devido a história principal ser bem melhor. Sem contar a química das duas personagens e o enredo.

Porém de um modo geral, “Me casei com uma colega para calar os meus pais” é um ótimo mangá para começar caso você nunca tenha lido nada LGBTQI+, principalmente por ser mais leve e tentar manter os temas trabalhados, mesmo eles sendo sérios, mais fáceis e leves de se acompanhar. E, caso você já leia mangás LGBTQI+, ele também é muito bom para se apreciar algo mais curto, bonito e que nos passa reflexões, enquanto procura nos deixar mais tranquilos e até otimistas e felizes com a experiência dessa agradável leitura.

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Estudante de Cinema, editora de vídeo e formada em Design de Animação. Ama jogos, filmes, séries, quadrinhos, mangás, livros, não importa a mídia sempre procura histórias.

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Cinema

Crítica | ‘Pedágio’ tem atuações e direção impecáveis

Novo longa de Carolina Maskowicz estreia nos cinemas em 30 de novembro.

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Pedágio.

Pedágio entra em circuito no dia 30 de novembro. Todavia, ele esteve na programação do Festival do Rio e da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com roteiro e direção de Carolina Markowicz, tem Maeve Jinkins e Kauan Alvarenga nos papéis principais. Também integram o elenco Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino, que, mais uma vez, faz par com Maeve (como na série Os Outros).

A sinopse é a seguinte: uma mulher trabalha em um pedágio. Mãe solo, ela faz tudo por seu filho, porém, começa a se incomodar com vídeos performáticos que ele faz para a internet. Achando que uma terapia de conversão possa dar um basta ao que o filho faz, ela começa a juntar dinheiro para pagar uma cura gay ministrada por um famoso pastor internacional. Contudo, a forma que ela faz isso é ilegal.

Por enquanto, fique com o trailer do filme:

Brasil retratado

O filme mostra uma realidade muito comum: até onde uma mãe vai para proteger um filho. No caso, o que essa mãe acha que é proteção. Porque, para ela, colocá-lo em uma terapia de conversão é uma forma de proteção. Portanto, retrata também outra realidade mais comum ainda, infelizmente: o imenso preconceito que ainda existe contra pessoas LGBTQIAP+. E as consequências desse preconceito.

A diretora traz esse tema de uma forma muito original e criativa. Além de todo cenário não ser um que costumamos ver em filmes – todavia, afinal, é um cenário bastante brasileiro -, mostra uma mãe que tem um medo muito grande do que pode acontecer com seu filho em um lugar tão cheio de preconceitos, mas que não isola ou rechaça o filho. O longa também mostra a hipocrisia tão comum entre pessoas preconceituosas, que afirmam que ser gay é errado, mas não hesitam em trair seus companheiros sempre que há oportunidade, sendo que, segundo as regras que seguem, trair é tão errado quanto ir para a cama com alguém do mesmo sexo (enfim, a hipocrisia, não é mesmo?).

Revelação

Pedágio é um filme que consegue passar muito bem sua mensagem. E grande parte disso se dá por causa dos atores. Maeve Jinkings já é grande conhecida do público. Além de atuar em novelas, também participou de longas de renome, como O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e Boi neon, de Gabriel Mascaro. Espera-se que ela se entregue à personagem, pois o público está acostumado com essa característica da atriz. E é o que ela faz. É possível ver como a mãe retrata ama aquele filho, e manda-lo para a dita terapia não vem de um lugar de maldade. Nem todas as outras coisas que faz. Vem de um lugar de cuidado e proteção extremos, já que, como é comum, ela é tudo que ele tem, mãe E pai.

Os atores Kauan Alvarenga e Maeve Jinkings e a diretora Carolina Maskowicz
em debate sobre o filme no Festival do Rio 2023. Imagem: Livia Brazil.

Contudo, Kauan Alvarengua, que dá vida ao filho, é uma grata surpresa, já que é novato nos longas. O jovem ator mostra um equilíbrio perfeito ao interpretar Tiquinho. Ao conversar com o ator, ele se mostrou muito feliz e chocado com a resposta do público ao filme e à sua atuação. Se continuar nesse caminho, Kauan tem muito a mostrar e a nos surpreender. E obviamente que as atuações incríveis são graças, também, à direção certeira de Carolina Markowicz.

Premiações

Pedágio foi exibido nos festivais de Toronto (Canadá) e San Sebastián (Espanha). Além disso, recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Roma (Itália). No Festival do Rio, venceu quatro categorias: melhor atriz (Maeve Jinkings), melhor ator (Kauan Alvarenga), melhor atriz coadjuvante (Aline Marta Maia) e melhor direção de arte. O longa também foi um dos pré-selecionados para a edição de 2024 do Oscar, mas Retratos fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, acabou sendo o escolhido.

A diretora Carolina Markowicz, e o ator Kauan Alvarenga conversaram um pouco comigo sobre a recepção do filme no Brasil e no exterior. Carolina também comentou sobre a mensagem de Pedágio e como é fazer cinema sendo uma mulher. Está tudo no vídeo abaixo.

Ficha técnica

PEDÁGIO

Brasil | 2023 | 101min.

Direção e Roteiro: Carolina Markowicz

Elenco: Maeve Jinkins, Kauan Alvarenga, Aline Marta Maia, Isac Graça e Thomás Aquino.

Produção: Biônica Filmes.

Distribuição: Paris Filmes.

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