Rosa e Momo, o lançamento da Netflix de produção Italiana tem boa direção de Edoardo Ponti. A saber, foi baseado no romance de Romain Gary que utilizou o pseudônimo de Emily Ajar em La Vie Davanti Soi, que na Italia foi publicado como La Vita Davanti a Sé.
A princípio, é um filme cheio de representações. Quantas pessoas vemos em Momo? Uma criança órfã de origem senegalesa, pobre, negra e filha de pais que viviam a margem da sociedade. E Madame Rosa nesta história? Uma Sophia Loren que nos faz refletir e encarar este seu novo local de atuação, sua fragilidade e altivez inigualáveis, enquanto reúne em si diversas faces da vida. Que retorno!
A Netflix já havia nos presenteado outras vezes com menções à cultura brasileira em produções estrangeiras e nesta existe um momento breve, porém encantador de se ver. Mi raccomando.
O filme descama a realidade, revelando como cada grupo social é visto e tratado dentro daquele país; não muto distante do que temos aqui no Brasil. Mudam-se as origens e os nomes, mas o espectro vigente nos países de economia capitalista é persistente.
Por detrás
Vemos um mundo onde não nos responsabilizamos ou sequer questionamos o que está por detrás das ações de cada indivíduo e o que os levou a estar ali. A globalização tem nos afastado das primárias relações sociais, das amizades de bairro e longa data, com quem nos importamos e podemos verdadeiramente contar, não só para receber ajuda material, mas para preencher uma lacuna de afetos. Este é, de fato, o motriz deste filme; o que somos ou seríamos sem afeto e ternura no olhar.
Ajuntamentos familiares complexos e visibilizados são uma bandeira Netflix, temos neste filme o que está aí, sem floreios ou muitas explicações, e isso é bom, naturaliza.
São nessas formações que mais se depende do outro e do seu não preconceito, por saber que o outro também vai enfrentar, ele mesmo, estigmas e dor. E daí que vem o respeito e admiração que vemos entre os personagens do longa.
“Aprender a sobreviver e aceitar o impossível”
(Laura Pausini – Io Sí, Seen – tema do filme)
Quando estamos mais vulneráveis. Quando amadurecemos muito cedo e contra nossa vontade.
Sobre ter referências na vida. Sobre ser falho. Ter liberdade e instantes de pura felicidade.
Este é Rosa e Momo.