Uma meditação sobre a persistência da verdade; Silêncio de Rádio acompanha a jornalista mexicana Carmen Aristegui durante a sua carreira nos últimos anos. Aristegui foi demitida do seu programa de rádio após uma denúncia de corrupção contra o novo presidente trumpista, assim o México perde o programa com a maior audiência radiofônica. Essa censura clara a motivou a fundar a própria plataforma de notícias e a se reerguer independente.
Tecnicidades
A diretora Juliana Fanjul apresenta um filme belo, quase familiar. Aí você nota que Silêncio de Rádio copia claramente a linguagem de Democracia em Vertigem. Recebemos o mesmo b-roll (em outras palavras, são takes secundários que servem para intercalar a informação principal de forma bonita) minimalista e melancólico, a mesma narração monocórdia, o mesmo ethos resoluto de quem está do lado certo da revolução. Apesar dos temas curiosamente similares, o longa funciona. A falta de sentimentalismo e a posição não-messiânica de Fanjul vende algo menos melodramático do que a magnum opus de Petra Costa.
Ainda mais, a montagem em ondas cria um respiro entre as cenas mais intensas de diálogo sério. Esta “pausa” é feita normalmente com cenas de pessoas dirigindo ou presas no trânsito. Assim, além de ajudar a criar essa interrupção meditativa, a montagem insere a sensação de progresso e bloqueio, assim como a narrativa mostra isso na vida de Aristegui.
Ethos
Silêncio de Rádio é claro na sua mensagem. Assim, o longa julga veementemente as ações homicidas do governo mexicano contra o povo assim como a corrupção da polícia. Nesse jogo político, o conglomerado midiático Televisa é o mensageiro e relações públicas do governo Enrique Peña. O povo brasileiro está acostumado ao apoio da grande mídia a um governo despótico.
Em resumo, é um filme intensamente político que não parece se importar muito com dar a cara a tapa. Por um lado, invadem a casa de Fanjul durante as filmagens, por outro, Aristegui é ameaçada de morte várias vezes. Infelizmente o feminicídio no México é uma questão seríssima de violência urbana e ocorre muita violação dos direitos das mulheres. Esse filme não decepciona quanto a realidade e o tom.Afinal, a luta pelos direitos não só das mulheres como de toda a população é uma parte essencial do ato de noticiar a verdade.
Finalmente, o Silêncio de Rádio será exibido no dia 02/10, você porá acessar por este link.
Enfim, veja o trailer:
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