Sabe aquela artista que tudo em que decide colocar as mãos faz tão bem feito que é impossível não ficar encantada com o resultado final? Essa é a Mahmundi e ela chega com um novo projeto impecável. Sua voz melodiosa e aprazível aos ouvidos desta vez dá espaço a produtora que em “Sorriso Rei”, lançado nesta sexta-feira, 20 de novembro, homenageia a cantora Jovelina Pérola Negra e Gilberto Gil. A parceria realizada com a Universal Music celebra o mês da Consciência Negra.
Artistas pretos dão voz aos clássicos
O nome tem um significado simples, ele surgiu ao juntar as músicas “Sorriso Aberto” revisitada por Mumuzinho, Malía, Mc Zaac e Ruby; e “Tempo Rei” que traz as vozes de Xande de Pilares, Léo Santana e Priscila Tossan. Mahmundi conheceu e se aprofundou em novas vertentes do seu trabalho explorando os seus dotes já exibidos em seus próprios álbuns e em faixas de artistas como: Liniker, Linn da Quebrada e Diogo Nogueira, além de carimbar “Sorriso Rei” estreando como diretora criativa.
Documentário “Sorriso Rei”
Há ainda um documentário dirigido por Yasmin Thayná, cineasta carioca que recebeu o prêmio de “Melhor Curta-metragem” da Diáspora Africana da Academia Africana de Cinema (AMAA Awards 2017). Lá, os profissionais envolvidos contam suas experiências como artistas pretos de uma forma emocionante e muito bonita. Ao mesmo tempo que é descontraído, é forte, e traz imagens domaking off das gravações.
Em coletiva aberta aos jornalistas e convidados, a produtora que esbanja bom-humor e espontaneidade, contou sobre o desenvolvimento do projeto em que se sentiu muito à vontade para atuar. Ela, que iniciou nos bastidores como técnica de som, consolidou-se como cantora e hoje volta para o estúdio nesta nova experiência.
“Eu sou uma produtora musical que canta, como eu não tinha achado ninguém para produzir aí eu cantei. E de repente deu certo. Estou desenvolvendo e me apaixonando pela minha própria voz, mas eu adoro produzir e acho que o meu chamado é esse mesmo”, explica quase contemplando e deixando explícita a sua vontade.
Os “brasis” do Brasil
A ideia inicial do “Sorriso Rei” era trazer a diversidade e os “brasis” que existem dentro do nosso país e as escolhas das canções vieram daí. A MPB tem uma extensão que o público precisa conhecer, principalmente as pessoas que estão escutando esses novos artistas como a Ruby, Malía e o Mc Zaac, por exemplo.
“A gente está falando de uma música popular brasileira que acaba ficando no imaginário de uma elite popular que é Gilberto Gil, ele está na casa das pessoas, é maravilhoso, é belo; e também estamos falando de Jovelina Pérola Negra que era uma empregada doméstica. Foi um link de dois “brasis”, pessoas muito inspiradoras para a cultura popular.”
Mulheres negras que abriram os caminhos
É muito importante revisitar obras de mulheres que abriram caminhos para que a juventude negra da música também pudessem ocupar novos espaço, Mahmundi diz aprender constantemente:
“Eu, como uma mulher de 34 anos, vejo como é infinito o poder da música e cada história que tem por trás dessas histórinhas. Existem pessoas muito corajosas até a coragem artística de dispor isso, de fazer da dor um outro lugar. Eu aprendi muito nesse processo. Acho que o amor que essas artistas todas apresentaram com a sua própria origem é uma coisa muito de geração mesmo. Como a gente vê que a energia já está focada para isso”, completa.
Desafios
Sobre assumir a direção criativa pela primeira vez, ela fala que é preciso entender o caminho do artista para que ele se comunique com aquilo. O objetivo sempre foi um projeto original, não um cover, e executar isso foi um dos seus maiores desafios. A observação define o trabalho que Mahmundi teve que fazer. Foi preciso olhar para o outro, recebê-los, entendê-los e a partir disso imaginar o resultado final.
“A Adriana Calcanhoto falou para mim uma vez que sou uma pessoa perigosa porque a música vira outra. Não é um cover. Eu não quero fazer a coisa de novo e também não tenho tanto apego com a música brasileira. Eu ouço Phil Collins, sabe? Manter essa distância com a música do Brasil e poder mexer nela sempre a respeitando, acho que é o melhor que eu consigo fazer”, relembra e afirma.
Por não ter muitos pedidos, a produtora se sentiu à vontade para fazer o que quisesse nas canções. Ela teve liberdade para conhecer os artistas do casting da gravadora e diz ter conseguido incluir pouquíssimas vozes se comparado ao catálogo extenso. Seu desejo é ocupar esse lugar da produção, auxiliar artistas e descobrir vozes.
Geração diversa
“Sinto que nós somos uma geração muito diversa. Vejo Calvin Harris, Papatinho, todas essas pessoas são produtores que estão na música assumindo o papel de produção sem estar exatamente cantando, mas participando do processo. Eu quero galgar esse espaço de ser uma mulher na música. Ainda tenho que falar que sou uma mulher preta, mas a gente sabe que é importante. Quem está dentro desse corpo já está de saco cheio, mas tem que dizer porque temos que inspirar pessoas e entretenimento é isso”, complementa a multi-instrumentista.
Quando perguntada sobre o movimento político que busca trazer pautas e questionamentos com o objetivo de conscientizar a população a agir contra o racismo, a artista responde enfática: “Eu acho que o maior movimento político que a gente pode entender hoje é ter no casting das três maiores gravadoras do mundo essas pessoas trabalhando lá, tocando lá, tendo autonomia para fazer. Eu não caio nesse papo de “Black Lives Matter” não porque isso pra mim é na prática. Política para mim é o corpo presente habitando nos lugares. O meu jeito de fazer política é tendo autonomia e é uma coisa muito de troca de energia porque ninguém foi obrigado a fazer isso. Fui falando com cada um com esse respeito, com essa dedicação.”
Gilberto Gil envia gravação de “Tempo Rei”
A produtora teve uma grata surpresa ao receber uma gravação da música do próprio autor da obra tocando e diz ter ficado muito feliz. O vídeo poderá ser visto em breve. É possível que “Sorriso Rei” tenha uma continuidade com novos singles lançados e logo, logo poderão surgir mais notícias sobre o projeto.
Ademais, veja mais:
Aliás, olha O Abrigo de Kulê, que aborda questões raciais e sororidade
The boys in the band | Filme da Netflix discute LGBTfobia
Por fim, a Feira Preta 2020 traz palestras e shows com Luedji Luna, Anaïs e Tássia Reis