Crítica
Tantão e os Fita | Piorou, Vai piorar, qualquer hora piora
Publicado
2 anos atrásem
Por
Pedro Pessanha
Tantão nos alertou, e piorou. Início do ano sempre rola uma revisão do último amontoado de meses que formam o famoso ano. Dessa forma, em janeiro, no verão infernal do Rio de Janeiro, o carioca tenta de todas as formas arrumar um jeito de ir à praia aliviar o clima de inferno, mescla de sol e caos urbano que nos é familiar.
Mas 2021 é um ano que começa já diferente, ainda com pendências do ano que passou, com uma doença matando centenas de pessoas. Infelizmente o caos urbano é o mesmo, o calor infernal também, e, apesar das recomendações de isolamento social, as aglomerações seguem firme. Como resultado, temos um início de ano catastrófico
É nesse clima tenso que aproveito pra visitar – com algum atraso – um lançamento de novembro de 2020 que não só traz muito do sentimento do ano que passou, mas também se aplica à sensação do presente e talvez futuro.
Tantão e os Fita
Carlos Antônio Mattos, o Tantão, figura presente da Lapa, junta-se à Abel Duarte e Cainã Bomilcar para o terceiro registro da parceria. Lançado pelo selo QTV, famoso por lançar projetos experimentais e alternativos, o álbum foi lançado em novembro de 2020 e sintetiza um pouco do sentimento confuso do ano, e de certa forma adiantou o mês de janeiro, com o caos advindos das aglomerações de festas de fim de ano e suas consequências.
É o terceiro álbum do grupo que une a poesia de Tantão com a música eletrônica por vezes dançante, por outras angustiante. A linha segue coerente com os outros lançamentos do grupo. Tem a cara do Rio de Janeiro sendo bem diferente do esteriótipo carioca, o que traz uma aura de renovação forte!
“High Society da música eletrônica”
O som do álbum transita entre o eletrônico, industrial, noise e traz a poesia de Tantão dando seguidos tapas na cara! A sensação é de desconforto constante, até por isso me parece ser um ótimo retrato do ano. A metralhadora de barulhos não procura confortar, mas ao mesmo tempo dialoga com a cidade, dialoga com a sensação geral de piora.
Contudo, o diálogo com o funk e com a música dançante é bem presente! O funk é constante no disco, no meio de barulhos de sintetizadores nervosos a batida surge de forma alegre e contrastante, a “grande arte”. À essa mistura juntam-se samples de alarmes de carros, de sons de celular e sons da cidade. Assim cria uma linda confusão organizada.
Fod..-se A KU-KLUX-KLAN
Em “Jogação”, Tantão canta repetidas vezes “Foda-se a Ku-Klux-Klan!”, e o clima político do álbum é esse! Em “Hora do Brasil” declara que aqui é nós! “Pessoas do mal” dá o papo de que “tá mandado!”, além disso aconselha a todos manterem uma rota de fuga, pois se pá piora ainda mais!
Para fechar, a arte da capa traz uma pintura de Tantão feita por Pedro Barassi. A imagem de capa com Tantão gargalhando é, além de bonita, bem interessante para compor o clima do álbum!
Piorou e vai piorar!
O título é breve e direto. Piorou, e como Tantão alerta, Vai piorar, qualquer hora piora.
Como diz o ditado, “Nada é tão ruim que não possa piorar”
E não é que piorou?! Tá pior! 2021 começa com UTIs lotadas, contaminação em alta, mortes em alta, alta no preço da comida, alta nas concentrações de pessoas ignorando a calamidade pública, ignorando as mortes… piorou e vai piorar antes de melhorar.
O sentimento é que vem piorando tem tempos. Com certeza muitos de nós pensamos algumas vezes que o fundo tinha chegado e que daqui pra frente o único caminho possível seria subir. “Pior que tá não fica!” Pois ficou pior…
Enfim, o álbum está disponível nas plataformas de Streaming, no Youtube e no Bandcamp, onde é possível comprá-lo.
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Historiador, mestrando em história do Brasil. Se interessa por arte de todo tipo e suas ligações com história, política e com a vida.

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Crítica
Crítica | Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado
Musical traz a sensação de como se você estivesse lendo um livro de contos
Publicado
4 dias atrásem
26 de março de 2023Por
Livia Brazil
A sensação de assistir o musical é como se você estivesse lendo um livro de contos, todos baseados na mesma situação, ou em um mesmo acontecimento. No caso, a situação, ou o acontecimento é a banda Los Hermanos. Ou as músicas da banda.
No início, parece ser quase uma biografia. O primeiro personagem conta a história da formação da banda da visão de Rodrigo Amarante, um dos guitarristas, vocalistas e compositores da banda. Mas, com o passar da peça, o público percebe que não é bem isso. Ou não é SÓ isso.
Como tudo que Michel Melamed, o diretor, faz, não é um musical tradicional. Nem mesmo é uma peça tradicional, do sentido que o espectador vai sentar na sua cadeira e entender o rumo que a peça vai caminhar. Não. Cada vez que parece que ela está caminhando para um lado, bum, vem um desvio e ela anda para outro totalmente diferente. Mas não pense você que isso deixa a peça confusa ou sem nexo. Muito pelo contrário: é exatamente o fio condutor sem direção certa que deixa tudo muito bem costurado e poético. Exatamente como as músicas de Los Hermanos.
Avisa que é de se entregar
Foram escolhidas 28 músicas dos quatro álbuns de estúdio da banda carioca para compor o musical. Das mais conhecidas (e tocadas até exaustão), como Anna Júlia, até as conhecidas apenas pelos fãs fervorosos, como “A Outra” ou “O pouco que sobrou”. E esses – os fãs – podem até matar a saudade de cantarem, eles mesmos, um pouquinho as músicas que os acompanharam por tantos anos quando Ariane Souza propõe uma espécie de desafio. Da ponta do palco, ela canta frases de diversas canções dos Los Hermanos (me intriga saber se em toda apresentação serão as mesmas) e aguarda a plateia continuar. A plateia, obviamente, continua. Todas as vezes. Não importa a música escolhida e nem se é um trecho do refrão, do início ou do final, a plateia sempre continua. Fãs, não é mesmo.
Mas, aqui, vou fazer uma pausa para falar o único ponto negativo da peça, na opinião dessa que vos fala. Qual seria ele? O local. “Los Hermanos: Um Musical Pré-Fabricado” está em cartaz no Teatro Casa Grande. Teatro esse que fica no Leblon. Para não conhece o Rio de Janeiro ou por aqui chegou há pouco tempo, o Leblon é um bairro rico e caro. Bastante elitista, e conservador. E o público “Los Hermanístico” não é uma galera conservadora. Longe disso. Tudo bem que aqueles jovens cresceram e hoje têm condição de pagar mais de 30 reais em um show, mas o Leblon com certeza não é o bairro que vem à cabeça quando se pensa na banda.
Talvez tenha sido esse o motivo de, justamente no desafio lançado por Ariane, não se ouvir um grande número de vozes em uníssono (como acontecia em todos os shows da banda), e somente alguns gatos pingados aqui e ali – mas que sabiam as letras inteirinhas. Nisso a produção do espetáculo errou e se fosse em um bairro mais “alternativo”, o público condiziria mais com a proposta.
Pra fazer da nossa voz uma só nota
Quem está totalmente condizente à proposta, contudo, é o elenco. Formado por oito atores e sete músicos, pois, sim, os músicos também integram à peça de forma física, esse elenco é um verdadeiro achado de Melamed e da produção. Um elenco que, além de diverso (o que é, sim, muito importante ser dito), é altamente qualificado. Em todas as vertentes propostas por um musical, mesmo sendo ele não convencional: atuação, canto, dança. E no caso dos músicos, claro, proficiência em seus instrumentos.
É visível a entrega de cada um dos atores (e músicos, mas vocês entenderam, não preciso ficar repetindo aqui, né?) para cada um dos personagens que fazem ao longo da peça. Não importa se você está sendo perto do palco ou quase na ultima fileira do balcão (onde a repórter aqui estava), é possível sentir na pele a emoção que eles despejam em seus movimentos, falas e, lógico, no seu cantar. E que cantar, senhoras e senhores! Aquelas vozes em cima do palco fazem qualquer um sair arrepiado do teatro.
É difícil, também, não sair arrebatado pelas cenas construídas por Michel Melamed. Cada uma delas, que, no geral, tentam dar um sentido, verdadeiro ou inventado, às letras das músicas dos Los Hermanos, parece ter sido feita pra não só encantar o espectador no sentido musical (cada arranjo lindo!), mas, também, e principalmente, na evocação de sentidos. Sejam eles físicos (um arrepio, uma boca aberta, uma lágrima que escapa), sejam eles mentais (é um musical que também faz pensar e sair se questionando sobre a vida). O espectador passa por várias emoções durante os 130 minutos de peça: da gargalhada ao choro solto. Os atores preenchem o palco de forma espetacular (louros, também, da coreógrafa e preparadora de corpo, Daniela Visco).
Prepara uma avenida
Não vou me prolongar muito nos aspectos mais técnicos do musical, como cenografia, figurino, iluminação, som, porque sei que são coisas muito específicas e que nem todo mundo se interessa tanto assim. Mas não posso deixar de mencionar que tudo se encaixa perfeitamente para formar a moldura mais clara e simples e linda possível. Tudo é o que se vê, e tudo que se vê (e se ouve) está em seu devido lugar, mesmo quando o lugar é inesperado – e a peça inteira é formada de lugares inesperados (ainda bem).
O cenário, composto por 4 cubos que se movem, lembram muito a capa do DVD “Los Hermanos no Cine Íris”. E a escolha de, no início, cada música ser decomposta aos poucos em cada um dos cubos foi sensacional. Como uma história mesmo, vamos entendo o enredo em cada palavra – ou nesse caso, imagem – e a escolha da divisão dos cubos foi muito acertada. A iluminação brilhou – perdão pelo trocadilho infame -, principalmente no segundo ato. Não vou adiantar o que acontece, pra não dar um spoiler. Mas posso dizer que ficou difícil não chegar às lágrimas, e a iluminação teve grande papel nisso. Mas não foi só a iluminação, foi cada aspecto dessa obra de arte que se discorre em cima do palco.
Pra resumir e não deixar essa resenha, crítica, resumo, mais longo do que já está, é uma peça completa, que até os que não são fãs de musical vão gostar. Ou os que odeiam Los Hermanos. Ok, talvez não esses.
Enfim, quando tudo tiver fim
Quem se animou com o musical, fique ligado! A peça tem curta temporada no Rio de Janeiro e fica em cartaz até o dia 07 de maio. A partir de 13 de maio entrará em cartaz no Teatro Liberdade (R. São Joaquim, 129), em São Paulo. Ou seja, galera de São Paulo, vocês também terão chance de assistir esse musical espetacular!
Serviço
Los Hermanos: Musical Pré-Fabricado
Apresentações: Quinta a Sábado, às 20h | Domingo, às 18h. Até dia 07 de Maio.
Ingressos: Plateia VIP R$180 | Plateia – R$1600 | Balcão R$75.
Local: Teatro Casa Grande.
Endereço: Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Loja A (Shopping Leblon).
Duração: 130 minutos.
Classificação: 14 anos
Dramaturgia e Direção Artística: Michel Melamed.
Direção Musical: Felipe Pacheco Ventura e Pedro Coelho.
Elenco: Ariane Souza, Estrela Branco, Felipe Adetokunbo, Leandro Melo, Matheus Macena, Mattilla, Paula Fagundes e Yasmin Gomlevsky.
Músicos: Bianca Santos, Estevan Barbosa, Evelyne Garcia, Felipe Pacheco Ventura, Marcelo Cebukin, Pedro Coelho e Yuri Villar.
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