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Literatura

Último dia de inverno | Por Pillar Paladini

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Despedida do inverno

A estação do recolhimento vai dando adeus, trazendo boas novas: dias de flores virão. Contudo, para uma boa primavera, é preciso perguntar: como você irrigou sua árvore e cuidou de suas folhas? Cuidou de si? Acolheu-se, procurou se entender, olhou para o que incomodava? Aliás, praticou a auto-responsabilidade ao observar o caos do qual reclama?

No meio de uma pandemia, é mais fácil ainda sermos dominados pelo caos – externo e interno.

Essa foto é do outono/inverno. No papel, meus planos a médio prazo com o título “Plenitude“. A Begônia Rex foi minha primeira planta e me apaixonei de cara, justamente porque tinham as duas cores do chakra cardíaco, que estava e ainda estou trabalhando.

Não adianta desejar a exuberância das flores e o sabor das boas frutas se não soube cultivar os frutos. A natureza ensina: é preciso semear, para fazer germinar. A primavera é isso.

Último dia de inverno

Inverno exige paciência. Não sei por aí, mas por aqui o processo foi bem difícil. Deparei-me com diversas sombras, algumas inclusive que nem conhecia. Teve/tem muito choro, muita piração. Foi bom, mas não foi bonito. Nem suave. Não podemos romantizar o crescimento/desenvolvimento – geralmente dói e vem com bruscos saltos.

O recolhimento é muito mais difícil. Mas tem sua beleza também, pode apostar. Assim como os dias de sol não são eternos, a tristeza e a constatação de uma dor também não o são. Só é possível semear novos frutos quando percebemos o que queremos e, pra isso, muitas vezes é necessário o recolhimento, o silêncio, a interiorização, colocar o espelho na nossa frente e saber fazer as perguntas certas.

O que você quer saber? O que deseja curar? Quem deseja ser? Tem a coragem necessária para se perguntar? Tem a força pra caminhar por onde deseja ir e tornar-se o que almeja?

É preciso recolher-se e juntar forças. Por isso o inverno.
A natureza é muito sábia. Saímos da cisão humanos/natureza e vemos os ciclos, o quebra-cabeça se completa mais rápido. Está tudo bem interiorizar, olhar fundo pra dentro.

Acolha o seu sentir.

Ciclos, consciência e desenvolvimento.

Em tempo: quatro planos foram concretizados, um ruiu, outro não reverbera mais em mim, três ainda em processo/necessidade de ação.

A begônia morreu e algumas partes de mim, também. Não pense duas vezes quando for investir em si mesmo/a.

Seguimos buscando a plenitude.

Amanhã é dia de flores.

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Mulher, professora da rede pública, mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas. Falando sobre a vida, apresentando pelas mais diversas lentes: educação, política, poesia, imagens e reticências. O intuito é expandir, não limitar.

Literatura

‘Princesa Violeta’ | Resenha por Paty Lopes

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Princesa Violeta.

Penso que essa leitura tem muito a dizer sobre o futuro das mulheres em nossa sociedade, principalmente diante do que estamos atravessando em todo o território brasileiro. Temos que lembrar que essa mulher que sofre violência hoje, um dia foi uma menina. O mesmo pode-se dizer do homem agressor. Ele também um dia foi um menino. Pergunto, portanto: qual foi a base educacional deles? O que leram? Qual o caminho que os orientaram a seguir um dia?

Embora tenhamos um livro com uma protagonista princesa, a leitura também educa o menino a respeitar os sentimentos de uma mulher. O que deveria acontecer quando uma mulher, por exemplo, resolve romper uma relação, seja esse o motivo que for? Assim, todavia, fica livre para viver a vida dela, o que sabemos que muitas vezes não acontece.

Diversidade

Veralinda Menezes é a autora do livro. Como mãe, traz aos leitores mirins a primeira princesa negra da literatura brasileira e o primeiro conto de fadas com personagens negros. Além disso, os descreve com delicadeza. Quando sua filha não pode ser princesa em uma brincadeira, devido ao seu tom de pele bombom, a autora percebeu a importância dessa comunicação. Assim, o livro chegou em 2008, e volta após 16 anos com uma edição especial, o que merece ser comemorado.

Interessante é como a autora trouxe a miscigenação brasileira, trazendo tons de pele ligados a doce de leite e chocolate, doces que crianças adoram.

Enredo

Um belo conto de fadas de muita ação, cujo protagonismo está na força da figura feminina e o toque de encantamento está na mistura de seres humanos, seres mágicos, reis, rainhas, fadas, guerreiros e piratas, heróis e heroínas que se juntam na luta do bem contra o mal.

Uma princesa guerreira à frente de um exército é revolucionário. Coloca, assim, as mulheres no imaginário coletivo desde a infância, em um espaço de poder que influencia a sociedade e suas futuras relações familiares, sociais e econômicas.

Focado na diversidade e no resgate de valores, também ensina o cuidado e o respeito à natureza e aos mais velhos. A inovação estética com personagens protagonistas negros, representando a maioria da população de um país nem tão distante, é um grande diferencial. Ele fica por conta do traço naturalista do talentoso ilustrador gaúcho Rogério M. Cardoso. Criado para ser um clássico da literatura, Princesa Violeta, em suas versões em prosa e em poema, encanta as crianças de todas as cores e de todas as idades do Brasil, na literatura, no teatro e na música.

O livro apresenta músicas da autora que também colam no ouvido, o velho chicletinho.

Por que ler o livro para uma criança?

Vivemos em um país de forte patriarcado. O machismo ainda permeia no seio da sociedade. Portanto, educar é necessário. Tentar romper essa cultura deve ser uma luta de todos. No livro, a princesa escuta que o pai dela queria um filho homem. Depois, um dos súditos, um dos chefes da guarda real entende que a princesa Violeta deveria se casar com ele, por ter a ensinado a lutar. São situações na contramão dos dias atuais, onde nós, mulheres, fazemos nossas opções, como a princesa do livro fez, no entanto, ainda pagamos um preço alto por nosso posicionamento.

Observei também que no livro não há questões raciais em pauta, apenas protagonistas negros. Inclusive, há príncipes de pele alva que tentam casar-se com a princesa, assim como antagonista negro também. A vida é mesmo assim, está tudo ilustrado através dos desenhos coloridos.

Conclusão

Levar crianças negras a entenderem que podem ser princesas e fadas é um bom trabalho de autoestima e merece ser exercitado todo o tempo.  Não é mais possível aceitar somente a história da Cinderela da Disney – embora eu adore. Contudo. confesso que fiquei mais animada quando chegou a  Pocahontas, pois esse desenho falava muito mais sobre mim.

Observei que a leitura tem mais de um desdobramento, o que penso ser bem diferente. Geralmente, o conflito é um só, mas Veralinda, como mulher, sabe que as nossas lutas são diversas.

Longe da bipolarização hierarquizante em preto e branco, como disse o professor Kabenguele Munanga, antropólogo, a autora entende mesmo do Brasil atual. Seguiu, paralela às estúpidas verdades adultas, a realidade da vida por meio de uma linguagem infantil apropriada, cheias de fadas e mágicas!

Ficha Técnica

PRINCESA VIOLETA

Autora: Veralinda Menezes
Editora: Editora Príncipes Negros
Preço: R$ 24,46
Onde encontrar: Amazon

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