Foi num domingo à noite que vi Três Marcas da Existência. Estava nessa busca de filmes que tivessem o budismo como base. Desde jovem adorava Sete Anos no Tibet, que vi algumas vezes e li o livro em 2021. Memoria , do tailandês Apichatpong Weerasethakul, também me fez refletir muito sobre ensinamentos budistas e delusão. Sigo lendo algumas obras sobre o tema. Terminei em poucos dias O Sagrado na História do Budismo, curtinho, ótimo para curiosos e iniciantes, com textos de diversos estudiosos em cima de baluartes dessa filosofia como o Buda Sakyamuni, o imperador Asoka, Milarepa, e outros.
O mais fascinante desse livro é a forma como apresenta o budismo como uma filosofia, digamos, psicológica. Não é exatamente uma religião. Budistas já falavam sobre o inconsciente muito antes de Freud e o que é ensinado fortalece o autoconhecimento e proporciona uma via para um despertar.
Em Três Marcas da Existência, um confuso jovem tailandês viaja pela Índia (e Nepal), especificamente pelos lugares mais importantes da história do Buda. As coisas acontecem de uma forma divertida. Ele encontra pessoas distintas e encara seus sentimentos. Chega a ser extremamente didático em dados momentos, apesar de que algum conhecimento prévio do budismo pode ser útil. Então, no meio disso tudo, aprendemos um pouco de reencarnação, carma, desapego, “eu” e “meu”.
Iluminação
Para mim foi engraçado que o jovem sai de Bodhgaya, o local onde está a árvore que marca a iluminação de Buda e pega um carro compartilhado até Sarthna, onde Sidarta deu seu primeiro sermão. São 9 horas de viagem. Lembrei de uma viagem que fiz ao Peru, quando saí da mesma forma de Cusco até Santa Maria, visando depois chegar na hidrelétrica de Santa Teresa e pegar a trilha pela linha do trem até MachuPicchu. Foram longas horas ao lado de um homem bem esquisito de um lado e uma mãe com um bebê no colo do outro. Sentia como se estivesse entre a cruz e a espada, o Bem e o Mal.
Ilusão, desilusão, danço eu, dança você, na dança da solidão. Aliás, no budismo, as três marcas da existência são impermanência (anicc?), não-eu (anatta) e insatisfação ou sofrimento (dukkha), o qual é resultado do não entendimento das duas primeiras. Budismo é sobre gestão da mente.
Afinal, Três Marcas da Existência (Namaste India Song Krian Pai Rian Phut) tem uma condizente direção de Gunparwitt Phuwadolwisid, um budista que buscou apresentar os conceitos abstratos do budismo numa narrativa cinematográfica. No final das contas é um clássico filme de mochilão, mas que aborda um estudo da dicotomia maniqueísta em que vivemos: sim e não, bem e mal. Ou seja, direciona pelo caminho do meio e pela via da experiência e da meditação, onde você não se salva através de uma divindade, mas sim pela sua prática.