Iara Ferreira, cantora e compositora de São Paulo, lança seu primeiro álbum solo, VERDEAMARELA (Tratore), em 30 de junho. Com uma carreira de 15 anos, Iara já compôs cerca de 300 músicas. Suas composições já foram gravadas e interpretadas por músicos como Yamandu Costa e Roberta Sá, entre outros. Para seu álbum de estreia, Iara selecionou cuidadosamente nove músicas inéditas de seu extenso repertório musical.
VERDEAMARELA incorpora o conceito essencial de “ver para poder amar”. Através de sua música, Iara explora a beleza, as tragédias, as pessoas, o amor e as lutas do Brasil. O álbum abrange diversos ritmos, incluindo baião, samba de roda, bolero e ijexá, abordando temas como as lutas dos povos indígenas e a religiosidade rural. Iara colaborou com aproximadamente 80 parceiros de composição para criar essa coleção que celebra o Brasil e sua rica música, reconhecida mundialmente.
Em seguida, as faixas do álbum:
A primeira faixa, intitulada “Pai Brasil”, apresenta o país como o eu-lírico que indaga seus filhos sobre o amor que já lhe tiveram, fazendo referência à canção infantil “Ciranda, Cirandinha”. Com uma fusão musical que combina ijexá e influências dos “Afro-sambas”, a música questiona o que restará quando os recursos naturais se esgotarem.
Em seguida, temos “Mais Uma Hora”, uma canção com uma atmosfera de samba de roda, inspirada por uma enquete do presidente Lula no Twitter sobre a volta do horário de verão. A música aborda, de forma divertida, a ideia de ter “mais uma hora” no dia e as situações que poderiam ser vivenciadas ao lado do ser amado se houvesse esse tempo extra. “Espero que entendam a piada”, brinca Iara Ferreira.
A próxima faixa é “Curumim da Mata”, um samba moderno que exalta a força e a determinação dos jovens indígenas brasileiros. A música defende a importância de diminuir a influência do “homem branco” nas decisões que afetam o país, priorizando as vozes dos povos originários. “Saia curumim da mata, mande mensagem pelo celular, percorra o mundo até os EUA”, canta Iara na música.
Aliás, ouça o álbum, enquanto segue lendo:
A quarta faixa, intitulada “Rosalina Xique-Xique”, conta a história de um migrante nordestino em busca de uma vida melhor nas grandes cidades. A composição, fruto da colaboração entre Bebê Kramer e Iara Ferreira, faz parte de uma trilogia que revela a jornada de uma família do sertão do Cariri, revelando os desafios, a saudade e o amor que permeiam suas vidas.
A seguir, “Bicho de Pinicar”, é um cururu estilizado que presta homenagem à Baixa Mogiana, região do interior de São Paulo, terra natal da artista. Com raízes nas violadas e na religiosidade caipira, a música transmite a simplicidade e a intensidade das paixões. A letra descreve a paixão como algo incômodo, algo que coça tanto o peito quanto o calcanhar.
A seguir, temos “Xamã”, mais uma colaboração com Bebê Kramer. A música já existia como instrumental há muitos anos, mas agora ganhou uma letra especial. Inspirada pela leitura do livro “A queda do céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, a canção é uma homenagem à luta dos povos originários. Na letra, o xamã convoca a comunidade para despertar os espíritos da mata, as crianças, e realizar uma festa para afastar a tristeza e a morte trazidas pelos “caraíbas”, os homens brancos.
Maré
A sétima música, “Maré de Quarto”, surgiu a partir de um encontro de bar entre Iara Ferreira, Ney Souza (seu parceiro nesta composição) e um músico que estava por lá e também era pescador. Durante a conversa, eles ouviram a expressão que dá nome à canção, que se refere à maré de quarto crescente da lua, ideal para a pesca de certos peixes. “Quando ouvi isso, disse para Ney: isso é nome de bolero. Ney adorou a ideia e logo me enviou a melodia, e essa é a nossa primeira parceria”, conta Iara. A letra descreve a entrada da maré no quarto dos amantes, simbolizando a intensidade da paixão que depois diminuirá, assim como as fases da lua.
A penúltima faixa do álbum, “Katendê”, é um ijexá dedicado a Mestre Moa do Katendê, fundador do Badauê e grande mestre da cultura popular, da capoeira angola e do samba de roda. Mestre Moa foi tragicamente assassinado em 2018 por motivações políticas, deixando um vazio na comunidade. Essa música é uma forma de honrar sua memória e destacar a importância de sua luta pela reafricanização da juventude. É também uma homenagem a todos os mestres e mestras da cultura popular com raízes africanas, que enfrentam obstáculos e persistem em espalhar conhecimento.
Em “Revolução”, a nona e última faixa do álbum, somos convidados a entrar em um mundo onde a imaginação poética desafia os limites da realidade, possibilitando uma verdadeira revolução. A poesia é retratada como uma fonte essencial de vida, tão vital quanto a farinha, o pão, a palavra e a oração. Inspirados pelas palavras de Manoel de Barros, somos encorajados a “transver” o mundo, enxergando além do óbvio e descobrindo a beleza oculta nas entrelinhas da existência.
Turnê
Antes da gravação do álbum em janeiro deste ano no estúdio The Magic Place, em Florianópolis, Iara vinha apresentando o repertório com seu trio (Ney Souza e Tom Cykman) em shows, incluindo participações no festival Floripa Jazz 2022 e apresentações em Portugal. Para a gravação, juntaram-se ao trio os percussionistas Carlinhos Ribeiro e Carolina Miranda, além das cantoras Iara Germer, Emília Lira e Ellen Cristina.
Para celebrar o lançamento do álbum, Iara dará início a uma turnê em sua cidade natal, Florianópolis, em 7 de julho no Bugio Centro, com entrada gratuita. Em seguida, ela se apresentará no SESC Piracicaba, em Piracicaba, São Paulo, em 14 de julho, apresentando músicas de VERDEAMARELA, bem como faixas selecionadas de seus trabalhos anteriores.