Dirigido por Cris D’Amato, Viva a Vida apresenta belos cenários em uma história rasa e rápida demais para seu próprio bem
A comédia é um dos gêneros mais difíceis de se fazer, principalmente em uma sociedade atual em que é muito fácil quebrar a barreira do chamado “politicamente correto”. No Brasil, existem algumas variações do gênero da comédia, existe a comédia que se fundamenta em uma estética cinematográfica por si, como Saneamento Básico (2007, Jorge Furtado) e O Auto da Compadecida (1999, Guel Arraes), utilizando tudo o que o cinema permite para construir algo grandioso, porém, muitas vezes atingindo um nicho muito específico.
Em contrapartida, existe a comédia popular, filmes como Os Farofeiros (2018, Roberto Santucci), Vai que Cola (2015, César Rodrigues), diversos filmes de Leandro Hassum, entre outras, se utilizam do humor que veio da televisão e do Youtube, em programas como Pânico na TV e Porta Dos Fundos, para tentar falar com uma camada popular pertencente à classe social C,D,E. Este é o caso de Viva a Vida.
Apesar do crédito que estas comédias populares devem legitimamente receber, afinal, elas se comunicam com a grande maioria da população brasileira, mantém o cinema brasileiro vivo, e conseguem trazer algumas discussões que variam do melhor ao pior, seu grande problema é a construção narrativa que apresentam. Ao se utilizarem de personagens marginalizados e “barraqueiros”, tentam construir uma empatia com o público, de um modo fraco e sem peso, colocando o maior número de piadas possíveis, em pequeno espaço de tempo, para ver se alguma gruda, não fazendo cinema e sim um show de humor sem graça ou um esquete de Youtube.

Diego Martins em Viva a Vida- Créditos Raisa Verbickaya
Viva a Vida se utiliza de uma humorista conhecida como Thati Lopes, para contar a história de Jéssica, uma funcionária de antiquário que vai com o primo para Israel na tentativa de conseguir a herança de uma avó, que uma semana atrás nem sabia que existia.
Apesar de uma fotografia estonteante ao mostrar Israel, o roteiro se baseia em piadas rápidas, esteriótipos como o do bonitão medroso, o alivio cômico do amigo gay, e um drama que nunca decola por conta de uma história confusa.
Mais para o final de Viva a Vida, após Jéssica drogar e sequestrar seu suposto avô, em pró de “uni-lo” com seu verdadeiro amor, ela é presa em Israel e interditada para o Brasil, assim, é pega por dois policias e colocada em um teco-teco, porque é assim que a justiça brasileira funciona. O motivo você pergunta? Ela roubou e penhorou uma jóia, do antiquário que trabalha, com o intuito de conseguir dinheiro para ir até Israel, dando a sua palavra que iria devolver.
Jonas Block e Regina Braga, que interpretam os avós de Jéssica, discutem este fato. Enquanto Regina defende que ela fez por amor, Jonas, antes de seu arco de redenção, defende que ela é uma vigarista. E sim, a protagonista de Viva a Vida é uma bela de uma vigarista, que em nenhum momento traz empatia ou razão para seus atos, por mais flashbacks dramáticos que tentem nos empurrar garganta abaixo.

Regina Braga e Jonas Bloch em Viva a Vida- Créditos Raisa Verbickaya
Jéssica é uma personagem insuportável, desde suas decisões por impulso, suas justificativas furadas para seus atos horrendos, seu egoísmo, seu narcisismo, seu humor que raramente cola, e apesar de tudo, Thati Lopes faz de tudo para mantê-la de pé em um filme que se tivesse focado mais em sua jornada ao invés de piadas atrás de piadas, teria se provado muito melhor do que se tornou.
Viva a Vida apresenta boas atuações, na medida que o próprio roteiro não se ajuda. Thati Lopes e Rodrigo Simas tentam a todo custo trazer química para o casal, porém, falham muitas vezes. O público não sente empatia ou vontade de vê-los juntos pois a relação entre eles é confusa. Eles se conhecem após Gabriel, Rodrigo Simas, entregar as coisas da avó na loja de penhores ou já se conheciam anteriormente? O modo como o roteiro foi construído, traz confusões demais para o seu próprio bem, além do fato de usar coincidências demais como garrafas que quebram por acidente e carteiras de motoristas que permitem dirigir ônibus.
Os momentos em que Viva a Vida realmente se destaca, são quando o foco está em Regina Braga e em sua jornada dramática. Nestes poucos minutos, Viva a Vida traz uma força e um joie de vivre que se tivesse em todo o filme, poderia ter sido uma das melhores comédias dramáticas nacionais do ano, ao invés de um filme vazio, clichê e sem graça dentro de um mar de outras comédias populares que se utilizam de um roteiro simples, vazio e no carisma de um humorista de peso para fazer um entretenimento barato, se dando satisfeito por isso e partindo para o próximo.
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