12 anos ou A memória da queda é uma poética montagem que se inspira no livro “12 anos de escravidão”, de Solomon Northup. A peça apresenta uma releitura da história através da direção de Onisajé e Tatiana Tiburcio em dramaturgia de Maria Shu.
Ao ser convidado para ver o espetáculo, fiquei com receio de assistir e, de alguma forma, comparar com o excelente filme 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), de 2013, vencedor de vários Oscars, incluindo Melhor Filme. Entretanto, 12 anos ou A memória da queda tem um estilo próprio e deveras marcante. A princípio, traz o contexto para a época atual, para falar da escravidão que ainda existe no Brasil. Ainda por cima, cita Emicida e complementa com um videografismo caprichado de Allan Fernando.
A iluminação dá um show e favorece um dos destaques da obra, que é a dança contemporânea. Sim, além dos diálogos, os personagens interagem através da dança, e, dessa forma, as mudanças nas luzes, com suas diferentes nuances, envolvendo o corpo dos atores, cria uma aura quase mística. Palmas para o desenho de luz de Jon Thomaz, e a operação de luz de Pedro Domingos. É tudo muito certeiro e bem coreografado.
Rosa e a liberdade real
No dia em que assisti, Cíntia Rosa viveu a protagonista com muito charme e talento. Sua entrada, linda, num tango, namora com a melancolia e grita contra a opressão, buscando um liberdade real. No geral, é louvável a expressividade corporal de todo o trio de atores, completo por Carmo Dalla Vecchia e David Júnior.
A peça usa a metáfora do mar, dos aquários, para abordar esse tema tão relevante. Temos o tubarão branco destruidor de sonhos e os peixes que nadam em busca de seus caminhos, desejando serem livres e tendo um fio de esperança, o amor, como norte. Aliás, tudo isso acontece com uma inventiva cenografia.
Além disso, traz o uso da religião para justificar a escravidão dos povos negros, a partir de Joaquim Alcântara (Carmo Dalla Vecchia), que ainda cita a maldiçaõ de Noé, presente no livro da Gênesis, no Antigo Testamento.
Afinal, amo cinema, mas nada como a proximidade do teatro e poder presenciar o suor da entrega, tão presente em 12 Anos ou A memória da queda.
SERVIÇO:
Teatro I – CCBB RJ
Temporada: 16 de novembro a 16 de dezembro
Quarta a sábado às 19h30 | Domingo às 18h*
*Não haverá espetáculo nos dias 24/11 e 02/12
As sessões estão sujeitas a alterações de elenco.
Na sessão do dia 20 de novembro haverá acessibilidade com intérprete de libras e audiodescrição
Inteira: R$ 30 | Meia: R$ 15 , disponíveis na bilheteria física ou no site do CCBB (bb.com.br/cultura)
Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada
Classificação indicativa | 12 Anos
Duração | 90 min
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ
Tel. (21) 3808-2020 | [email protected]