“Autorretrato de uma filha obediente” teve lançamento em 2015. Um drama com direção de Ana Lungu, que está disponível no serviço de streaming da Supo Mungam Plus. No seu elenco tem Elena Popa, Emilian Oprea, Andrei Enache, Iris Spiridon, Dan Lungu e Magdalena Lungu. A princípio, este filme romeno traz uma realidade muito próxima de toda a classe burguesa contemporânea. Cenas certamente já vistas por quem pertence ou convive com o grupo e que nos transportam pra uma interpretação de adultos acostumados a serem geridos como inaptos, forçadamente tratados como incapazes ou indignos e que de tão incrédulos de si e do mundo que os cerca passam a pensar que talvez mereçam e nem ao menos se indignem a resistir ao controle de todo um círculo social cheio de opiniões tóxicas e desrespeito à sua vontade e individualidade.
Enfrentar ou encarar com firmeza tais situações poderia significar a perda do pouco apoio afetivo que recebem e do auxilio financeiro vexativo que se veem obrigados a aceitar, isto é bastante claro. Uma geração que ainda não pôde, como a anterior, se estruturar e formar sua independência, num mundo de salários precários e bolsas de estudo risíveis se comparados à estrutura da família de onde vieram, tenta sobressair ao sufocamento social e apagamento de sua existência quanto ser único e dono das escolhas de sua vida.
Visão do Outro
“Autorretrato de uma filha obediente” é atual demais, ainda que tenha sido lançado há mais de cinco anos. A narração da historia de vida de uma geração que semana atrás de semana se depara com os mesmos dilemas e que enxerga os outros com distância, inundados de caos e tristeza não verbalizada. Alguns escolhem até mesmo não ver os problemas e aderem aos valores perpassados e cruéis de seus pais.
Com muita hipocrisia, regras feitas para oprimir, fingimentos, sofrimentos abafados e seres humanos parciais que não sabem respeitar limites ou acolher pela visão do outro, foi feito o ambiente retratado no filme e que espelha muitas realidades. Estes jovens adultos acabam esquecendo que é inerente do viver estar integralmente em alguns momentos e com o outro numa troca minimamente recíproca de interesses, coisa que o cinema retrata muito bem, e nos estimula resgatar o quão rápido seja possível.
Aliás, veja o trailer, e siga lendo:
Espero de todo meu coração que criemos a próxima geração dentro de uma comunicação não violenta, respeitando tempos e avanços, sem imposições, com apego seguro e gerando nelas a autoestima e confiança que nos foi tolhida a cada vez que nos faziam duvidar de nós mesmos e que por esse motivo teve de ser conquistada sem estímulos e mais arduamente, ou quando, por falta de perspectivas, acabamos fugindo dos vários desafios da vida, por mais simples que fossem.
Criações que respeitem o neurodesenvolvimento de cada pessoa, principalmente na infância, com sua individualidade e que os estimulem a se orgulhar de suas conquistas sem comparações. É algo com que sonho todos os dias e em grande parte a realidade que desejo ver acontecer, pois é pra isso que servem os ideais, para apontar um norte, e nós, fluidos e criativos como somos, nos adaptaremos e criaremos soluções e novas respostas a essas dúvidas conforme a realidade mostre serem precisas.
Fé
Torço e luto para que a ode à obediência abusiva perca força e desapareça com os anos, sendo colocada num momento histórico frio e que não queiramos revisitar jamais. (Tenho muita fé nas gerações que estão amadurecendo!) Lembremos ainda que seres humanos não são cobaias, experimentos dos pais ou muito menos meros herdeiros de um dinheiro que mais separa do que une. Saibamos conscientemente fazer com que cada momento não vivido em busca de dinheiro seja revertido em presença verdadeira e em atenção compartilhada entre entes queridos a fim de nos sentirmos integrados e valorizados.
O ser humano pode até mesmo escolher entupir sua casa com objetos ou esbanjar conhecimento letrado, mas sem humanidade no olhar e tato com o íntimo do outro estará, a meu ver, desperdiçando a existência que recebeu. Cada um preenche seus vazios com o que julga mais adequado, porém entendo que bendito seja aquele que se encontre completo em sua solitude, para então, quando estiver rodeado de pessoas, ser sua versão mais pura e agraciar o mundo com sua presença.
Certamente “Autorretrato de uma filha obediente” é um bom filme para se refletir a forma como educamos, criamos e convivemos uns com os outros.