“Morte no Nilo”; um título perfeitamente autoexplicativo para um filme que não perde tempo, mantendo a audiência tensa, atenta e entretida durante toda a sua extensão. A mais nova obra do diretor/estrela Kenneth Branagh, retrabalha o detetive belga Hercule Poirot em uma das suas aventuras mais famosas.
Diferente de “Assassinato no Expresso do Oriente”, “Morte no Nilo” conta com um time de atores menos bombasticamente famoso, o que parece um downgrade, mas na realidade não afeta em nada a história ou o bom trabalho dos atores. Em termos de atuação, “Morte no Nilo” tem os seus altos e baixos, mas ainda assim é um filme que funciona muito bem.
O entorno da história
A princípio, a passada de pano no imperialismo é algo muito latente e preocupante nessa nova adaptação de um clássico da literatura inglesa. Tanto o livro como o filme se passam, obviamente, no rio Nilo, Egito. Esse país foi diretamente controlado pelo império britânico entre 1822 e 1922, depois disso foi instaurado um governo marionete até a revolução de 1953.
O problema de se retratar um território colonial num filme como “Morte no Nilo” é justamente a falta de espaço para se criticar e julgar esse governo injusto dentro da trama. Se o diretor abordar o assunto ele foge do roteiro e vai ser detonado pelos críticos; por outro lado, agora que ele já ignorou, o filme parece condescendente com a desumanização que o povo egípcio sofreu sobre o jugo britânico. Pior ainda, quase nenhum dos personagens nativos tem um falas ou um nome, mesmos os serviçais predominantemente brancos a bordo do navio.
Pela enésima vez, um problema social é ignorado quando se readapta um clássico. Acredito eu que o humanista Poirot não deveria ter o seu julgamento enevoado mesmo quando de férias num um país governado e abusado por um império racista e violento.
O diretor e a direção
Para quem leu o livro da Agatha Christie, algumas mudanças foram feitas, mas nada que descaracteriza a obra nem que fere o legado dessa mestra do suspense. Para simplificar, e evitar os temidos spoilers, o diretor Branagh tem um olho especial para os detalhes, além de ideias bem interessantes para a fotografia. Os movimentos fluidos de câmera ajudam a focar no que é importante e descarta todo o extra.
Dessa forma, o filme se paga quando todas as peças caem nos seus respectivos lugares. E o clímax é orquestrado de forma a ser mais do que apenas satisfatório, dando espaço para cada teoria da audiência ser destruída no caminho. Não tem do que reclamar em termos de direção, fotografia e montagem. De “Thor” em 2011 até agora, foi muito chão, e o Branagh se provou de novo e de novo como um diretor de respeito.
Os atores e os finalmentes
O resto do elenco está funcional, pelo menos os coadjuvantes. De longe o casal principal é o mais decepcionante, seja por conta da Linnet (Gal Gadot) não ter sido bem escalada, ou pelo Simon (Armie Hammer) não ter nenhuma profundidade de personagem. Faltou uma explicação das motivações do Simon, ao contrário de todos os outros personagens, o que dificulta se importar com o personagem.
Por outro lado, a Jacqueline (Emma Mackey) esculacha com o todo mundo. Da alegria, para a inveja, passando por pânico e ódio, essa menina é uma leoa da atuação pronta para estraçalhar Hollywood. Não vejo a hora de a rever em um filme que possa explorar mais do seu range, do seu sorriso encantador e do seu olhar magnético.
Por fim, me resta elogiar. Branagh teve um bom ano de trabalho, o que resultou no seu outro filme, “Belfast” que está concorrendo nos Oscars desse ano. “Morte no Nilo”, apesar da falta de julgamento crítico, pega uma história complexa e a apresenta de forma clara, sem fanfarrice nem drama desnecessário (salvo a cena do champagne, não quero pensar naquilo nunca mais).
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