O documentário “Vidas descartáveis”, de Alberto Graça e Alexandre Valenti é um filme contundente ao expor o tema da escravidão moderna no Brasil. Uma mazela que ainda assola o país e condena diversos brasileiros ao sofrimento e a humilhação do trabalho escravo.
A investigação em fazendas de cidades de diferentes estados mostra que a prática não é isolada, mas algo sistêmico que vem de anos e que conserva-se dentro de estruturas familiares. Ou seja, o exercício da exploração desumana de trabalhadores passa de uma para outra.
A escravidão acabou?
O filme mostra de forma simples, direta e potente que a escravidão está longe de ter sido extinguido no Brasil. Pelo contrário, diversos empresários escolhem o caminho do crime de explorar e desumanizar pessoas necessitadas tendo em vista a economia do próprio bolso. É a exploração da força de trabalho em seus níveis mais desmesurados
O filme também apresenta a exploração de migrantes estrangeiros na grande São Paulo. Outro aspecto que diz respeito às penúrias enfrentadas por pessoas que migram para o Brasil, em busca de oportunidades e uma vida melhor. Algo muito comum, infelizmente, na trajetória de refugiados.
Dramas individuais
O filme mostra depoimentos corajosos de pessoas que foram escravizadas e sofreram todo tipo de maus tratos. Alguns dos depoimentos são exclusivos para o documentário. A coragem está no ato de expor traumas que permanecerão em suas vidas e denunciar seus algozes.
É comovente perceber como muitas dessas pessoas não tinham noção da importância da denúncia e da fiscalização. Após o resgate e a possibilidade de que suas vozes sejam finalmente ouvidas, essas pessoas conseguiram quebrar um silêncio e enfrentar poderosos interesses.
Traumas da escravidão
Por mais que o filme apresente como grande exemplo o caso da Fazenda Brasil Verde, julgado com uma indenização para os trabalhadores, deixa-se claro que estas pessoas jamais terão uma vida confortável. Muitos não conseguem mais trabalhar e vivem sentindo-se acuados.
Se o filme não apresenta soluções, ele aponta os problemas e os sujeitos que permitem a continuidade da escravidão e atrapalham seu combate. A mensagem é clara: Não é possível que nenhuma pessoa possa admitir qualquer tipo de sofrimento para ganhar seu sustento. Em tempos de propagação de resiliência, é um alerta importante.
Busca por dignidade e Impunidade
Pode-se apontar a busca pela dignidade como o principal objetivo da investigação deste filme. Se, por um lado, o documentário não chega a ser inventivo na forma, por outro lado, seu objetivo está na potência de seu material. Na urgência de seu tema, que ainda traz sofrimento para milhares de brasileiros e uma mancha para a imagem do Brasil no mundo.
Assim , não tem como assistir ao filme e não pensar na impunidade, que é tão citada nele. Afinal, clama-se por mudanças. Mesmo soluções provisórias como a divulgação da lista de empresas que utilizaram trabalho escravo é barrada pelo governo Temer, por exemplo. Por fim, o filme dá voz também ao lado dos exploradores (Os poucos que aceitaram falar algo). Mas, percebe-se que seus argumentos são tão absurdos, que seus próprios depoimentos servem como confissão de crimes.
Onde assistir
Portanto, com uma mensagem significativa e necessária, “Vidas descartáveis” precisa ser visto por sua ousadia e por apresentar, sem moderação, a verdade nua e crua da escravidão moderna.
Por fim, você pode conferir o filme nos cinemas. Nesse sentido, consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.