De Quem é o Sutiã? (The Bra) estreia nas plataformas digitais nessa quinta-feira, dia 9 de abril, especificamente no NOW, VIVO e LOOKE. O filme, que conta com a participação da atriz Paz Vega, ainda estava nos cinemas quando as salas foram fechadas devido a pandemia do COVID-19. O longa, dirigido por Veit Helmer, acompanha a jornada do solitário Nurlan, um maquinista de trem que vive numa aldeia nas montanhas e tem uma pacata rotina. Todo dia leva o trem pelo subúrbio da cidade, o qual passa impressionantemente rente às casas. Além disso, sempre que o trem está chegando, o menino Aziz interrompe seus afazeres na casa de chá onde trabalha e sai pelos trilhos com um apito avisando aos moradores para saírem do caminho.
Crítica do Vivente Andante
De Quem é o Sutiã? (The Bra) é um filme que preza por uma beleza em suas imagens, como o início em câmera lenta, em planos-detalhe. Cada som do longa-metragem nos coloca mais dentro da experiência imersiva naquele mundo, onde um trem passa no meio de uma comunidade. A direção de Veit Helmer percorre paisagens muito bonitas e iluminadas, contrastando com o escuro e melancólico quarto do protagonista. Inclusive, o mérito dessa fotografia enaltecedora da poesia presente no filme é de Felix Leiberg, o qual aproveita desde os cenários dramáticos montanhosos ao triste quarto de hotel. Aliás, o roteiro de Veit Helmer traz algo que pode incomodar alguns: o filme não tem diálogos.
Isso mesmo. Lembra os antigos filmes mudos em diversos momentos, contudo, usa tal fato como diferencial, e, como citado no parágrafo anterior, os sons estão presentes – e muito. Apitos, gemidos, risos e músicas permeiam a exibição. A cinematografia não decepciona, é o clássico “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Para isso, o diretor Veit Helmer usa o tempo necessário para construir o mundo que quer nos apresentar. Como no caso de Kamai (vivido com comicidade por Denis Lavant), um maquinista conectado com a música, o que é demonstrado logo no início, quando ele faz com um martelo em vários pontos do trem. Inclusive, esse personagem é responsável por bons momentos cômicos.
Nurlan, o maquinista solitário
Predrag ‘Miki’ Manojlovic vive o protagonista, um solitário maquinista de trem, Nurlan, que acaba iniciando uma aventura em busca da dona de um sutiã azul. Predrag, com seu rosto de cão abandonado, grita com seus olhares e expressões de surpresa e decepção. Nurlan, está indo a Baku (Azerbaijão) pela última vez antes da aposentadoria. Porém, seu trem esbarra em um varal e derruba esse sutiã. Em verdade, na maioria das vezes que o trem passa, pega alguma peça esquecida em algum varal, afinal, a linha do trem passa bem no meio de uma localidade em Baku. Essas cenas são uma diversão à parte, com um menino fofo e trabalhador que, ao ver o sinal, sai pelo meio da linha com um apito, avisando que o trem está vindo. Aí é aquela correria para todo mundo sair do caminho. Nurlan precisa estar atento para evitar acidentes.
Visando escapar da sua existência solitária, Nurlan embarca atrás de um amor, de uma Cinderela. Ou seja, De Quem é o Sutiã? é um grande conto de Cinderela no Azerbaijão. Mas essa seria uma forma fútil de resumir o filme, o qual está milhas longe de ser tão simplório, pois Nurlan segue na jornada mais emocionante de sua vida rotineira por cenários pitorescos, querendo um amor que faça seus últimos anos ganharem significado. Ainda por cima, temos a participação da atriz espanhola Paz Vega com toda sua graça e talento.
Enfim, aqui o fato de não ter diálogos faz o espectador aproveitar mais a experiência. O longa foge da lascividade – o herói tem coração puro, e está longe da pecha de galã ou aproveitador, viajando entre a melancolia e o humor. Além disso, a rota que o trem de Helmer escolhe passa por vários desvios satisfatórios antes de chegar a um destino bem-vindo – e merecido.