Tigertail é um drama escrito e dirigido por Alan Yang. Um filme que me fez lembrar de meu pai de alguma forma. Grover é um homem que, muito jovem, saiu de Taiwan para tentar a vida nos Estados Unidos. Vivido por Tzi Ma em ótima atuação, um personagem contido, que cresceu tendo que ser forte, sem demonstrar emoções. Quando o filme começa, o vento na colheita traz saudades e começamos a acompanhar a saga do jovem Grover e as lições que marcam seu crescimento. O ritmo é lento e a trilha sonora assume grande importância, cai como uma luva em mãos chinesas, ao mesmo tempo sendo delicada e firme.
Amor e sonho, necessidade e realidade. Decisões e sacrifícios que formam um caráter e uma personalidade ao longo de toda uma vida. Tigertail também fala sobre resgate e tempo. Enquanto há tempo, algo é possível, ao menos, expressar o mínimo de sentimentos acumulados e enterrados. Relações difíceis e o choro, as lágrimas que não caem. Chorar não ajuda em nada. Será?
Rio que chora
O choro é um grito da alma, um expurgo do corpo, rios que devem correr de vez em quando para que a vida flua. Não é possível ser feliz o tempo todo, há mágoas e tristezas que vão acontecendo. Ouço pessoas dizendo que não ligam, fica para trás. Mas não fica. Em verdade, vai para um baú dentro seu ser, e vai enchendo, até que pode estourar de péssimas formas. Aí que penso na importância da terapia, por exemplo. Hoje mesmo ouvi uma entrevista feita no instagram pelo Leonardo Lima com a educadora Bruna Saldanha. Ela disse que tinha vontade de ser vegetariana, por achar racional e correto, mas sempre dizia que não conseguiria. Um dia a terapeuta perguntou-lhe: “Você já tentou?”. A partir desse dia ela começou a tentar várias coisas que não havia feito. Hoje é uma ativista vegana.
Vale a pena chorar de vez em quando, nem que seja cortando cebola. Liberar um pouco desse amontoado de pequenas coisas que vai incomodando no cotidiano. Aquela palavra atravessada que te disseram e você não respondeu. A grosseria com que lhe trataram naquele dia. A falta de carinho no momento que você mais precisava. Ser humano é conviver com a imprevisibilidade do destino e com as consequências das escolhas que podem mudar todo um caminho. Dos campos chineses para os Estados Unidos, do Brasil para Portugal, da Irlanda para Honduras. É segurar no rabo do tigre e lidar com o perigo de viver enquanto toma um chá.