Uma Mulher Só é uma peça necessária. É necessária porque, apesar de ser um texto escrito nos anos 70, apresenta uma situação que, infelizmente, acontece ainda nos dias de hoje. E como a arte é sempre estopim para diálogos sobre diversos assuntos, a peça abre a porta – ou a janela, caberia melhor – para uma importante discussão sobre abuso e violência doméstica.
O monólogo nos apresenta uma mulher que está sozinha em casa, passando roupa. Cena trivial. Então, ela repara uma vizinha nova no prédio da frente e começa a conversar com ela, em um nítido alívio por ter alguém com quem falar. Porém, à medida que a conversa vai passando, ela conta àquela vizinha como sua vida não é tão trivial e bonita como inicialmente parecia.
Nessa peça online, Martha Meola consegue passar para o espectador, que faz as vezes da nova vizinha, toda a complexidade de uma mulher que se vê presa em casa, condição imposta pelo marido, e precisa cuidar da casa, do filho bebê e do cunhado doente e abusivo. Como se já não bastasse, ainda precisa aturar o assédio verbal do vizinho do prédio em frente e constantes trotes de alguém que fala profanidades em seu ouvido.
No limite
Ao longo dos 40 minutos de Uma Mulher Só, vemos a protagonista demonstrar nítidos sinais de que não aguenta mais a sua situação. Apesar de no começo ela parecer achar que merece viver aquele suplício, como acontece com muitas vítimas de violência doméstica, parece que, ao longo da conversa e ao se ouvir falando, ela vai tomando consciência de seus próprios desejos – porém, não sabe como sair daquela condição.
É surpreendente, sobretudo, como a atriz consegue passar todas as nuances emocionais da personagem em um só quadro. Transmitida via Zoom, a câmera não se movimenta e mostra, durante todo o espetáculo, a sala da “mulher só”. Ela, apesar de não estar sozinha fisicamente, se sente extremamente solitária. A propósito, vale aqui um destaque à direção de arte, feita por Raphael Gama, por conseguir reproduzir com fidelidade uma sala típica dos anos 60, 70, dentro da sala de casa da atriz!
Denúncia
Uma Mulher Só é uma denúncia aos vários tipos de abusos que os homens cometem e como pode afetar psicologicamente as mulheres. Um aviso de que ainda há, como anteriormente dito, tantas mulheres na mesma situação da protagonista da peça. E como é preciso fazer algo, individualmente e como sociedade, para que isso mude.
Por fim, não perca o espetáculo fica cartaz somente até esse final de semana. Sextas e sábados, às 20 horas, e domingo, às 17 horas. Os ingressos vão de R$10 a R$25 e a venda é feita pelo Sympla.