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Crítica

Pós-F | As contradições e a potência de Fernanda Young com Maria Ribeiro e Mika Lins

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É difícil falar da peça Pós-F sem falar de Fernanda Young. Afinal, o espetáculo é baseado em livro homônimo da escritora, roteirista e, por vezes, atriz, lançado em 2018 pela editora LeYa. Mas esse não é o único motivo. O outro motivo é que fica impossível assistir a peça e não enxergar Fernanda, principalmente os que conheciam mais a fundo sua obra literária.

Pós-F é um monólogo encenado pela atriz Maria Ribeiro, que parece encarnar a escritora ao pisar no palco do Teatro Porto Seguro. Seu jeito de falar, a forma com que se movimenta, a liberdade ao usar as palavras, a força. Maria reflete com maestria a força de Fernanda Young, uma mulher que, se ainda estivesse viva, seria cancelada uma vez por semana – como já era antes de seu falecimento, em 25 de agosto de 2019 – pela coragem de dizer o que pensava e sentia.

“Finalmente eu tinha achado um texto que me deu vontade de voltar pro teatro!”

No folder da peça, Maria Ribeiro escreve que devorou o livro no mesmo dia em que o comprou. Então, mandou mensagem para Fernanda pedindo seu aval para fazer uma peça baseada nele. “Finalmente eu tinha achado um texto que me deu vontade de voltar ao teatro!”, escreveu na mensagem. Fernanda concordou e convidou a diretora Mika Lins para dirigir.

Mudança de opinião

Em seguida, as três se debruçaram sobre a obra para fazer a montagem, que teria as duas em cena, Maria e Fernanda, como dois contrapontos: a Fernanda do livro e a Fernanda da peça, que discordaria, em muito, da Fernanda do livro. Pois, como ela – ou Maria – diz no monólogo, Fernanda Young nunca teve medo de mudar de opinião. Porém, com a morte da escritora, os planos não se concretizaram. Mas a ideia não saiu da cabeça da atriz, que começou a movimentar a produção com Mika Lins e finalmente estreou, dia 12 de setembro, em formato digital, transmitindo diretamente, ao vivo, do palco do teatro.

É um formato novo de se fazer teatro, mas necessário devido à pandemia do covid-19, porém, em vez de afastar o espectador, aproxima. Por se utilizar de ângulos não convencionais, movimentações de câmera e inserções de vídeo da atriz em outros espaços que não o teatro, a peça não é somente uma filmagem horizontal de forma tradicional, e todas as escolhas feitas parecem ter a finalidade de trazer o espectador para mais perto do palco, da atriz e das palavras de Fernanda. Inclusive, o chão e todo o cenário são repletos de desenhos da escritora, retirados do livro. Somam-se a eles ilustrações feitas pela diretora e por Estela May, uma das filhas mais velhas de Fernanda, que também assina a trilha sonora. A iluminação de Caetano Vilela, assim como os elementos anteriormente citados, ajuda a trazer a atmosfera intimista – e emocionante – que tem a peça.

Desejos para um mundo Pós-F

Caetano, aliás, foi um dos adaptadores do texto junto de Maria Ribeiro e da diretora Mika Lins. Texto esse que se faz muito atual com a discussão de feminino e masculino que Fernanda trazia no livro, primeiro não ficção da autora, onde discorre sobre o que é ser um homem e o que é ser uma mulher nos dias de hoje. O “F” do título, inicialmente, queria dizer feminismo, mas também poderia significar Fernanda. Seria, então, um pós-Feminismo, ou um pós-Fernanda. E os capítulos e trechos escolhidos para a peça trazem um importante debate acerca desses assuntos, tão essenciais de serem discutidos, como amor, respeito, direito de ser quem se é e liberdade, pois isso sabemos que Fernanda foi: livre. E nesse mundo pós-Fernanda Young nada mais justo do que uma peça que preza exatamente por isso.

Pós-F está em cartaz no Teatro Porto Seguro, de forma virtual, aos sábados e domingo, às 20h, até o dia 04 de outubro. Os ingressos, a partir de R$20, estão à venda pela plataforma Tudus e têm 20% da renda destinado a campanhas que auxiliam profissionais das Artes Cênicas afetados pela pandemia. Após o espetáculo, Maria Ribeiro recebe um convidado em seu perfil no Instagram (mas há, concomitantemente, transmissão pela plataforma do teatro) para conversar sobre a peça, sobre Fernanda e sobre o livro Pós-F Para além do masculino e do feminino. No dia da estreia, ela recebeu o marido de Fernanda, o roteirista Alexandre Machado, e no domingo, dia 13, a atriz Malu Mader, que também entrou em contato com Fernanda para fazer uma montagem da peça (Maria, porém, foi mais rápida).

“Pós-F” (www.teatroportoseguro.com.br). Sábados e domingos, às 20h. A partir de R$ 20. Até 4 de outubro

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Cinema

Crítica | ‘John Wick 4: Baba Yaga’ é um épico de ação

A aventura derradeira de John Wick mostra um caminho possível para ele derrotar a Alta Cúpula

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john wick 4

John Wick 4 traz novamente Keanu Reeves como um matador incomparável

O novo filme do assassino John Wick é apontado como o melhor da franquia. Mas por que? A princípio, o elenco cresce com atores como Donnie Yen (O Grande Mestre), Hiroyuki Sanada (Mortal Kombat), Shamier Anderson (Passageiro Acidental) e Bill Skarsgard (IT: A Coisa). Além disso, Aimée Kwan como Mia encanta com beleza e ferocidade. São ótimas aquisições e até abrem espaço para o futuro. Todos atuam com eficiência e tem carisma.

Na sinopse ofical, a aventura derradeira de John Wick mostra um caminho possível para ele finalmente derrotar a Alta Cúpula. Mas, antes que possa ganhar a liberdade, deve enfrentar um novo e cruel inimigo com alianças em todo o mundo e capaz de transformar amigos em inimigos.

Com a direção de Chad Stahelski, o filme é o mais longo da franquia com 2h49, mas nem parece. Passa rápido, pois é extremamente frenético. John parece um super-herói invencível e imortal. Seu terno é uma armadura potente, inacreditável. Contudo, não é um filme sobre credulidade e sim sobre ação desenfreada. A base é tiro, porrada e bomba, mas com espaço para planos bastante criativos, uma cenografia impressionante. A direção de arte merece os parabéns, bem como a cinematografia de Dan Laustsen e seus jogos de cores. As cenas no Japão, a sequência entre obras de arte orientais, e os tiroteios em Paris são criativos e a direção de Chad Stahelski não deixa o ritmo cair.

O melhor John Wick

Como já citei, John Wick 4: Baba Yaga está sendo visto como o melhor da franquia. Não posso dizer algo sobre isso pois não vi os anteriores, talvez somente cenas aleatórias. Sou daqueles que acha que um filme deve funcionar sozinho, mesmo sendo uma sequência e que você não tenha visto nenhum dos outros. Dessa forma, afirmo que esse funciona. Não senti falta de ter assistido o que aconteceu antes e não precisei disso para entender o que ocorria ali. Ou seja, mais um ponto para o longa. Pude me divertir e aproveitar aquele entretenimento sem preocupações. E é para isso que o filme serve. É exatamente o que busca entregar, e consegue.

Em verdade, talvez esse seja um dos melhores filmes de ação que vi nos últimos tempos. Há cenas belíssimas e divertidas. No clímax, a longa cena da escada até Sacre Couer no terceiro ato apresenta boas coreografias e comicidade na subida até o inferno. O diretor conduz muitas vezes como um videogame, escolhendo ângulos que nos colocam dentro daquela zona de guerra.

Afinal, John Wick 4: Baba Yaga chega aos cinemas em 23 de março.

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