Dirigido por Len Wiseman, Bailarina tem muita ação e algumas novidades não vistas na franquia, porém, ainda é prisioneiro de um Baba Yaga bem maior
O Grande Assalto ao Trem (1903, Edwin S. Porter), pode ser considerado dos primeiros filmes de ação, assim, podemos afirmar que o gênero existe, em sua forma mais bruta, a mais de 100 anos, entretendo o público com sequências rápidas de violência, um herói determinado, muito tiro e correria, dentro de uma ideia narrativa que foi evoluindo com os anos, e cresceu mais ainda com a ascensão dos chamados anti-heróis.
Com a Nova Hollywood da década de 1960, e as narrativas mais complexas que surgiram, podemos enxergar um boom para o gênero de ação, que alcançou seu auge durante a década de 80, em um misto de espetáculo e sequências grandiosas de violência e ação, em cima de narrativas que variavam do luxo, como Aliens: O Resgate (1986, James Cameron), ao extremamente divertido, como Duro de Matar (1988, John McTiernan), aos memoráveis, como Mad Max (1980, George Miller), apresentando características como personagens fortes, determinados, que usam armas e saem explodindo tudo em pró de um ideal pessoal.
O gênero de ação está longe de morrer, porém, após tantos anos, é cada vez mais difícil uma produção se destacar, ainda mais construir uma franquia e um universo tão amplo como é o caso de John Wick, contando com 4 filmes, um 5º em pré produção, uma série na Amazon Prime, um spin off intitulado Bailarina, além de outros projetos futuros.
Seja graças ao carisma de Keanu Reeves, às inovações técnicas e narrativas no quesito da jornada de vingança que sempre foi um chamariz para o público, ou a mise in scene estrategicamente planejada, que cresce mais ainda com o cuidado em cenas de ação, em que tudo e qualquer coisa pode virar uma arma, não é a toa que a franquia esteja sendo sugada até a última gota.
Confira abaixo o trailer de Bailarina e continue lendo a crítica
Podendo ser considerado um “John Wick 3.5”, na medida que se passa cronologicamente entre John Wick 3: Parabellum (2019, Chad Stahelski) e John Wick 4: Baba Yaga (2023, Chad Stahelski), Bailarina expande o rico universo de assassinos e castas, já apresentado anteriormente em outros filmes da franquia, porém, desta vez, não temos o olhar de alguém tão imponente como o Bicho Papão de Keanu Reeves, mas sim o olhar de uma jovem assassina, Eve Macarro, treinada nas artes da Ruska Roma, que sai em uma missão para vingar o assassinato do pai.

Ana de Armas em Bailarina- Divulgação Paris FIlmes
Ana de Armas não é nenhum Keanu Reeves, seja em carisma ou potência, porém, Bailarina sabiamente usa muito bem as suas habilidades, principalmente na diferença de estilo de luta entre Eve Macarro, a Kikimora, e John Wick, o Baba Yaga.
Eve é mais fraca e menor do que John Wick, porém, após 4 filmes de praticamente um estilo de luta, é revigorante ver algo novo, ainda mais um embate tão mais corporal como o que ela usa para com seus inimigos, além disto, Bailarina amplia ainda mais a quantidade de itens que podem virar uma arma nas mãos de uma assassina habilidosa, incluindo, mas não limitado à: machados, facas, katanas, armas de fogo, patins de neve, mangueiras de bombeiro, entre outras.
Bailarina tem sequências de ação bem executadas, permitindo que a ação se desenrole de forma contínua, sem cortes rápidos, e direcionando organicamente o olhar do espectador, permitindo maior fluidez nos movimentos e nas lutas.
Em questão de narrativa, a produção amplia o mundo que já conhecemos, e que é sempre divertido revisitar, porém, apesar de ter sido imaginado originalmente como um projeto independente, sem relação com a franquia John Wick, Bailarina não consegue sair da sombra de seu maior protagonista, chegando ao ponto que ele aparece com destaque no pôster da produção, e suas cenas terem sido obviamente acrescentadas durante as turbulentas refilmagens da produção.

Keanu Reeves em Bailarina- Divulgação Paris Filmes
Sim, é muito interessante finalmente enxergar um outro ponto de vista, alguém lutando com Wick ao invés de ser derrotado por ele, porém, poderíamos facilmente tirar John Wick do filme, e nada interferia narrativamente. O público almeja ver o Baba Yaga, nem que seja por 10 minutos, este é o tamanho do fantasma a que Bailarina está acorrentado, um que ele tenta a sua maneira se destacar, e em certos pontos consegue, porém, tristemente, ao final, somente será lembrado como parte de um universo maior, em que ela não será a protagonista.
Apesar de tentarem dar maior profundidade psicológica para Eve, enfatizando sua vingança com o pai, o grande vilão ser o seu avô, uma irmã que aparece e desaparece do nada, sem o peso narrativo que deveria ter tido, e uma relação espelho entre Eve e Pine, que remete ao seu falecido pai, entre outras tentativas de se aprofundar a narrativa, a história aparenta nunca alçar voo, traçando uma linha clássica que se inicia ponto A, é descoberto algo que leva a protagonista ao ponto B, ela encontra inimigos, que a levam ao ponto C, e por aí vai, em uma narrativa básica, recheada por cenas de ação bem executadas, o que a produção tem de melhor.
Em um gênero que está ficando saturado, é necessário mais do que novas armas e um novo estilo de batalha, para a produção se destacar a algo mais do que apenas um filme divertido e um entretenimento pipoca, não conseguindo se desvincular nem mesmo na escolha musical, ao considerarmos que Vivaldi foi usado tanto em John Wick 3: Parabellum, na forma da sinfonia de inverno, e em Bailarina na forma da sinfonia de verão.
Em seu veredito final, Bailarina definitivamente vale o ingresso àqueles carentes de filmes de ação e boas cenas de luta, a batalha final com o lança chamas é digna de cinema, porém, ao final, aparenta ser somente um degrau, na medida que a protagonista encerra o filme da mesma forma que John Wick encerra sua segunda aventura, procurado por tudo e todos e sozinho no mundo. Se nem mesmo o final consegue ser original, como Bailarina vai se destacar dentro de um universo saturado até mesmo por seu “irmão de armas”?
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