De longe, a mais impressionante obra do diretor japonês Mamoru Hosoda, “Belle” apresenta a Bela e a Fera no Metaverso. Curiosamente, o filme junta várias histórias ao mesmo tempo, dando a impressão de se estar realmente dentro de uma rede social: uma hiper conexão multitarefa que em duas horas te maravilha, revolta e entretém em várias histórias interconectadas.
A partir disso, dessa história múltipla, pode se observar um núcleo emocional, a titular história da Bela e da Fera, que se desdobra em dramas familiares, bullying virtual, romance adolescente, depressão, abuso emocional, e tantas coisas mais.
A história
Suzu, uma estudante que perdeu a mãe num acidente acabou perdendo o prazer na sua atividade favorita, cantar e compor. Eventualmente ela entra na rede social “U”, onde ela percebe que ali, longe da sua vida real, ela pode ser o que quiser, o que a liberta para cantar novamente.
Usando um avatar chamado Bell, a jovem rapidamente recebe atenção, tanto positiva quanto negativa. Eventualmente, um dos seus concertos é interrompido pela Fera, um avatar lutador que é visto amplamente como uma ameaça ao sistema de U. A jovem fica com pena do tratamento que a Fera sofre de um grupo de “heróis”, o que a compele a ajudar o monstro.
Temática e semelhanças
Além do sucesso repentino online, “Belle” parece tratar de outros temas contemporâneos como doxxing, forças paramilitares (sim), abuso parental e privacidade na era do streaming. A forma como o roteiro aborda todos esses temas é efetiva, mas finalmente decepcionante.
“Belle” como um todo está longe de ser a obra prima coesa como “A Garota que Conquistou o Tempo”, mas ainda assim tem os seus méritos, principalmente pensando na forma honesta e atual com que o diretor lida com problemas que se tornaram cada vez mais comuns.
Em ainda outro filme de Hosoda, “Guerras de Verão”, já pode se ver um ensaio mais limitado e preciso das ideias, tanto temáticas quanto visuais, do que é experimentado em “Belle”. Pode parecer estranho rever tanto dum filme em outro, mas dada a forma como Hosoda apresenta a história, é divertido para o fã catar detalhes, referências e ideias refinadas na obra mais nova do diretor japonês.
O mundo digital
Estamos na frente de um abismo chamado Metaverso. Você pode chamar de telepresença, realidade virtual ou qualquer outro nome, mas a próxima aposta das redes sociais é a vida num universo paralelo digital. Ainda assim, os chefões da internet acham que queremos usar avatares genéricos, que se limitam a simular a imagem humana em toda a sua previsibilidade.
Em “Belle”, temos U, em “Guerras de Verão” tivemos OZ, e anteriormente vimos Digimon em outra obra similar de Hosoda. Claramente, esse conceito já vem sendo trabalhado e purificado no cânone do diretor.
A experimentação visual em “Belle” é o suficiente para embasbacar a audiência, ainda mais com forma realística com que o estilo é empregada no seu universo. Mesmo com as licenças poéticas dada a tecnologias nas animações, “Belle” consegue alçar voo e procurar ser mais do que um filme bonitinho. O filme explora as dinâmicas sociais nas redes sociais que estão por vir e nisso, existe uma clareza de pensamento e intenção que são inéditas em qualquer lugar.
Conclusão e finalmentes
Da história que se desdobra demais até as canções pop bem dançantes, “Belle” é uma montanha russa. Em alguns aspectos muito bem-feito, em outros parece ter faltado mais tempo para trabalhar e pensar na história. Ainda que seja uma obra impressionante, com 2h de duração falta edição e um bom corte. Se a revelação final fosse mortalmente óbvia, o filme seria mais clichê, porém, possivelmente mais balanceado.
Por fim, “Belle” é belo, mas não deixa de ser pouco satisfatório na sua resolução. Mamoru Hosoda novamente dirigiu um baita filme divertido, visualmente incrível, animadíssimo e com uma concepção visionária, mas que peca na execução abarrotada de conteúdo.
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