Quantas vezes você já escutou o presidente da república ou os seus apoiadores fazendo duras críticas à imprensa? Ou ofendendo e agredindo jornalistas, tentando censurá-los, ou propagando notícias falsas durante este ano que ainda nem acabou? Pois bem, o documentário Cercados, a imprensa contra o negacionismo na pandemia, dirigido por Caio Cavechini, mostra os bastidores da notícia e a cobertura da pandemia sobre a ótica dos profissionais que atuaram nos últimos meses lutando contra o negacionismo que inacreditavelmente recebeu grande popularidade nesse período.
O título pode fazer alusão ao cerco destinado aos repórteres de veículos de comunicação que fica localizado na portaria do Palácio da Alvorada ou à própria quarentena que manteve todos encurralados por algum tempo.
Aliás, vale ressaltar que a Folha de São Paulo e o Jornal O Globo, inclusive, suspenderam a cobertura no famoso cercado depois de uma série de ataques hostis à imprensa naquele lugar por apoiadores do presidente na presença do próprio Jair Bolsonaro, o documentário ilustra bem o episódio. “Foi um dia que eles passaram de todos os limites”, diz Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo da Globo em uma das cenas.

Três meses de filmagem
As filmagens, que duraram três meses, percorreram as cidades de Brasília, Fortaleza, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. O documentário não tem como foco principal as entrevistas, mas foram ouvidas ao todo 63 pessoas para a sua realização. O filme inicia com as notícias sobre a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde no dia 15 de maio, ele foi o segundo titular a deixar a pasta da durante o surto do coronavírus. Por aproximadamente duas horas de vídeo, passamos por cemitérios, hospitais cheios, redações de jornais esvaziadas, manifestações nas ruas e muitas histórias.
Cercados emociona ao exibir relatos de pessoas que perderam seus familiares para a Covid-19. Alguns depoimentos dos infectados e desabafos de profissionais da saúde e jornalistas esgotados por trabalharem arduamente na linha de frente da pandemia.
Aliás, veja o trailer e siga lendo:
O filme nos lembra também o quão decepcionante é viver num país onde a ciência é desclassificada e os profissionais são descredibilizados em meio ao caos.
Há momentos importantes dos bastidores como quando foi vazado o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. A ‘pane’ durante a transmissão do Jornal Nacional onde mostra a reação dos operadores que estavam na sala de controle das câmeras naquele dia, além do acompanhamento contínuo na frente dos hospitais.
Afinal, atrás das lentes das câmeras, microfones, notebooks, papéis e canetas, existem pessoas que buscam relatar fatos, questionar posições e mostrar o que não pode ficar vendado. Por fim, cumprir o papel do jornalismo. No mais, Cercados é um documentário que merece ser visto com atenção.
Ademais, veja mais:
A Incrível História da Ilha das Rosas na Netflix, vida real e a Ilha das Flores
Os Favoritos de Midas | Em seguida, uma história fechada e curta meio ‘Death Note’
Vozes que Inspiram | Netflix apresenta a força da juventude e do teatro