A música dos chorões nasceu no Rio de Janeiro pouco depois da metade do século XIX, a partir da apropriação das danças europeias (polca, valsa, etc.), que incorporaram um sotaque sentimental, de onde vem o nome “chorão” e as surpresas rítmicas trazidas da África. Em pouco tempo esse jeito de tocar (estilo) foi aproveitado por compositores de grande talento (acervo de repertório) e essa música se espalhou através das rodas de choro (prática musical que une memorização e improviso).
Na década de 1910, o gênio do Choro, Pixinguinha, deu forma a essa música (gênero musical). Em seguida, o Choro não parou de se diversificar, assimilando influências da música de concerto e do jazz e influenciando diretamente gênios como Heitor Villa-Lobos e Tom Jobim.
O álbum ‘Choro 150 Anos”, que saiu pela Sony Music e já está disponível em todas as plataformas digitais, resume essa trajetória. Ou seja, busca mostrar ao longo da linha do tempo esses quatro itens: estilo, acervo de repertório, prática musical e gênero.
Clássicos
Após a abertura com o clássico “Noites cariocas”, o roteiro se desenrola desde a década de 1870 até os dias atuais. As faixas de 2 a 5 mostram o trabalho dos inventores do Choro. Afinal, foram aqueles que estabeleceram um alto padrão de elaboração. São eles: Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Joaquim Callado e João Pernambuco.
Logo após, as faixas de 6 a 9 mostram o gênio de Pixinguinha e seu mais talentoso colega de geração, Bonfiglio de Oliveira. Por fim, a partir da faixa 10, aparecem os modernizadores da era do rádio, que fizeram experiências de assimilação de elementos da música de concerto (Radamés Gnattali, Garoto) e do jazz (Severino Araújo, K-Ximbinho). As faixas finais ilustram desde a retomada na década de 1970, com o surgimento da geração de intérpretes aqui presentes até o primeiro standard do Choro do século XXI, “Chorinho em Cochabamba”.
Dessa forma, a diversidade de instrumentações se soma com a diversidade de abordagens interpretativas, que podem sugerir desde um ambiente de concerto até a deliciosa informalidade da roda de choro. Ao completar 150 anos, o Choro segue sua trajetória entre mundos culturais, entre a academia e a rua, entre o escrito e o improvisado. E como afirmou o antropólogo Hermano Vianna no prefácio do meu livro “Choro: do quintal ao municipal”, o melhor da cultura brasileira acontece no “entre”.
Afinal, confira o álbum aqui: https://SMB.lnk.to/Choro150Anos