O currículo escolar brasileiro, e latino como um todo, não costuma dar enfoque à história da América Latina, afinal, o berço da civilização foi na Grécia, os grandes navegadores foram europeus, os símbolos da democracia contemporânea são norte americanos. Mesmo considerando que a história da América Latina é tão rica e ampla, pouco é estudado sobre em escolas fundamentais, o que ocasiona um problema, principalmente em nosso olhar identitário como latinos, afinal, nós somos brasileiros e por consequência, nossas lutas e angústias se aproximam muito mais de nossos irmãos peruanos, argentinos, colombianos, e outros países da América Latina do que dos norte-americanos ou dos Europeus.
Na medida que envelhecemos e recebemos bordoada atrás de bordoada, somente pelo fato de sermos latinos, vide os acontecimentos e o medo ocasionados pela reeleição de Donald Trump, acabamos caindo em um complexo de vira-lata, aonde enxergamos sempre que estamos em inferioridade perto dos “grandes norte-americanos”, por conta disso, é muito importante termos um filme como Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa, que de modo leve, nos relembra de nossa verdadeira identidade como latino americano.
Diferente de Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa (2014, Miguel Arteta), a nova adaptação é mais orgânica e fluída, apresentando um nível de maturidade cinematográfica que remete a uma estética do cinema silencioso, principalmente em produções de comédia física como as de Charlie Chaplin, Buster Keaton e Stan & Ollie, Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa une uma comédia eficiente com um drama familiar de reconexão, união familiar e busca identitária que une tudo.
Confira o trailer de Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa
A produção foca em Alexandre, um menino que se acredita amaldiçoado por conta de sua constante má sorte, um fato que Marvin Lemus nos bombardeia logo no primeiro minuto que o personagem está em cena. Novamente uma característica do cinema silencioso, o ritmo do filme é extremamente rápido, seja por conta de suas atuações que remetem aos absurdos do teatro, até uma fotografia muito cuidadosa e variada.
A cinematografia de Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa é primorosa, o cinematógrafo Jas Chelton está em seu ambiente mais confortável, usando todo o seu conhecimento para construir a melhor experiência ao público, com planos sequências, zenitais, câmera estática que facilita a comédia dos atores, plano e contra-plano, câmera direcionando mudança de olhar do espectador, uma interação no primeiro plano e algo interessante/cômico acontecendo no segundo plano, entre muitas outras qualidades primorosas que é muito auxiliado pelo design sonoro.
Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa apresenta um design de som que auxilia muito seus atores e o humor do filme como um todo, seja sons não diegéticos, como o leitmotiv da escultura amaldiçoada do macaco, quebras súbitas de uma música de alta intensidade, seja por motivo cômico ou para uma pausa na tensão, entre outros exemplo. A construção sonora funciona em perfeita harmonia com todo o resto da equipe técnica, que trabalha em conjunto para fazer com que o filme não seja somente uma experiência identitária para a família Garcia, mas, para o espectador como um todo.
Entre seus maiores acertos, a produção se destaca pelo seu simples roteiro. Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa, usa do artifício narrativa de uma road trip, eternizado em grandes produções como Pequena Miss Sunshine (2006, Jonathan Dayton, Valerie Faris) e obviamente Central Do Brasil (1995, Walter Salles), como um mecanismo que permite uma maior proximidade entre seus personagens e o espectador.
Apesar da família de Alexandre cair em sombras de seus arquétipos, afinal: Alexandre é um menino jovem e neurótico, Mia é uma adolescente que começa com uma cabeleira de princesa Leia, que vai se soltando na medida que ela amadurece, o vovô Gil é um rebelde que nunca nem mesmo pisou no México, etc. Estas simples interações entre eles ocasionam gag atrás de gag, algumas eficientes, outras nem tanto, na mesma medida que é fluido para as questões mais dramáticas da produção.

Pôster oficial de Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa- Divulgação Disney
Na jornada para devolver um ídolo amaldiçoado às suas respectivas donas, a família se une em diversas desavenças que beiram o absurdo, ao mesmo tempo que retornam ao simples, por meio do contato com suas raízes a filha mais velha ganha coragem, o avô entra em paz com seu passado, o pai descobre um novo caminho de vida, a mãe encontra a simplicidade, e por aí vai.
Ao considerarmos o contexto de um filme visado majoritariamente ao público infantil/infanto juvenil, baseado em um livro infantil de 1972 escrito por Judith Viorst, Alexandre e a viagem terrível, horrível, espantosa e horrorosa consegue ser muito eficiente em sua proposta de entretenimento com sutilezas de humor e um core dramático que transmite uma mensagem fundamental ao seu público, sobre reconexão com aquilo que lhe faz bem, além da mensagem óbvia da produção: tudo bem ter dias ruins, eles mesmo assim podem trazer coisas boas.
Com Eva Longoria, Cheech Marin e Thom Nemer, Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa estreia no dia 28 de Março na Disney +.
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