Dirigido por Emma Benestan, Animale é previsível, porém, sua execução o torna uma excelente produção de terror
Obs: a seguinte crítica apresenta spoilers de Animale
Desde antes de Roman Polanksi filmar Repulsa ao Sexo (1965, Roman Polanksi), a arte já explorava um dos maiores medos femininos de todos os tempos: o do estupro. Desde histórias mitológicas como a de Apolo e Cassandra ou os casos de Zeus, até na literatura e por consequência no cinema, a violência sexual contra a mulher é um tema que ainda merece ser muito discutido, assim, cineastas utilizam de diversas imagens e alegorias para estruturar produções que lidem do melhor modo com este medo, e por consequência, esta raiva que existe dentro de cada mulher.
Seja Medusa (2021, Anita Rocha da Silveira), ou Bela Vingança (2021, Emerald Fennel), cada diretora encontra a forma que achar mais propícia dentro de sua própria linguagem, no caso de Animale, Emma Benestan escolheu trabalhar com um dos gêneros mais interessantes para lidar com esta falta de voz, e autoridade, feminina, dentro do universo masculino: o terror, mais especificamente, o subgênero de bodyhorror.
Confira abaixo o trailer de Animale e continue lendo a crítica
Animale conta a história de Nejma (Oulaya Amamra), uma mulher que almeja vencer a competição local de touradas. Nejma é uma estranha dentro de um mundo de homens, ouvindo diariamente frases misóginas que na superfície não significavam nada como: “Você foi ótima, para uma mulher” ou “Você é uma mulher, vai dormir”, entre outras, apesar disso, Nejma não se deixa abalar em seu objetivo de ganhar a tourada. Após uma noite de comemoração, Nejma acorda sozinha, sem lembranças dos acontecimentos da noite anterior, assim, começa a lidar com situações estranhas, na medida que aos poucos vai se tornando um touro.

Oulaya Amamra em cena de Animale- Divulgação oficial
O grande ponto de virada da narrativa, seria o fato que Nejma foi estuprada nesta noite que não apresenta lembranças, porém, pelo modo como foi construído seu roteiro, acaba não sendo surpresa nenhuma, ainda mais se considerarmos que um “misterioso touro” atacava somente aqueles que estavam com Nejma na noite de seu apagão.
Animale não constrói sua narrativa em cima deste ponto de virada, que é facilmente deduzido, ao invés disso, constrói sua história por meio de diversos simbolismos que vão dos mais óbvios, a mulher se transformando em um touro, um símbolo obviamente masculino, ou o fato de ao final os homens a perseguirem em cavalos brancos, como príncipes encantados prontos para matá-la.
São em questões técnicas que Animale prova o seu valor, seja o ponto de vista dos touros, ou a maquiagem em momentos na transformação de Nejma, sendo tão tenso do que a transformação de Nina em Cisne Negro (2011, Darren Aronofsky), por meio de efeitos práticos e maquiagem, sendo a mudança final após pequenas nuâncias físicas de Nejma ao longo do filme, como cabelo e postura.
O que torna Animale um filme inferior ao seu potencial, é o fato de a grande surpresa ser mostrada bem antes de seu clímax. Em vários momentos, o público consegue deduzir os acontecimentos futuros, ocasionando uma previsibilidade, como o olhar de Nejma para com os touros, ficando com os olhos negros e sendo respeitada por eles, como uma líder. Caso Emma Benestan tivesse guardado esta surpresa para um pouco mais tarde, deixando mais nos simbolismos e menos na imaginação e conclusão do público, que consegue deduzir o acontecimento do estupro na cena seguinte, focando ao invés disso no bodyhorror por si e em um senso de mistério, a produção poderia ser excelente, ao invés de somente um bom filme.

Oulaya Amamra em cena de Animale- Divulgação oficial
Filme de encerramento da semana crítica de Cannes, em Maio de 2024, Animale estreia nos cinemas nacionais no dia 15 de Maio, com distribuição da Pandora Filmes.
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