Uma das gratas surpresas do Festival do Rio 2023 foi o longa “Até que a Música Pare”, da diretora Cristiane Oliveira. Ambientado no interior do Rio Grande do Sul e tendo grande parte dos seus diálogos em Talian, língua falada no interior do Sul por descendentes de italianos, a obra, que poderia nos causar um distanciamento pelo enfoque regional, é capaz de tocar a qualquer pessoa, pois tem sua força na humanidade de seus personagens.
Não há heróis e vilões, mas pessoas com suas contradições, facilmente reconhecíveis nas nossas famílias; diferenças políticas, religiosas, geracionais capazes de criar divisões por vezes irreparáveis ou transformar as diferenças em pontes para se relacionar com os outros.
Na sinopse, depois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha. Uma tartaruga e baralhos de carta colocarão à prova mais de 50 anos de vida a dois.
Aliás, veja o trailer de “Até que a música pare” e siga lendo:
A câmera está a serviço dos atores e temos todo o tempo necessário para adentrar no universo dos personagens que defendem; aliás o tempo no qual a história de desvela e permanecemos na vida daquelas pessoas passa de forma respeitosa, sem pressa ou cortes bruscos graças ao trabalho de montagem.
Afinal, vê-se na tela um sensível dialogo entre as diversas partes unidas para a realização do filme – e isso é notado na sintonia entre o elenco. Destaque para a matriarca Chiara que através da interpretação de Cibele Tedesco desperta nossa empatia diante de suas fragilidades perante a vida. “Até que a Música Pare” é um exemplo que o nosso cinema vai muito além do eixo Rio – São Paulo e que a língua, o sotaque a culturas locais ao invés de nos separar, pode nos fazer mergulhar outros universos. Tão semelhantes ao meu e ao seu.
Ademais, veja mais:
‘Corpos Invisíveis’ é uma obra que transcende a tela e penetra na alma