“Besouro Azul” (Blue Beetle) é um tipo de mosaico cultural. O filme emerge como um esforço de ser algo relativamente novo dentro do gênero de super-heróis. Mas não é. É genérico e mistura Venom, Homem-Aranha, Homem de Ferro, Homem-Formiga num garoto mexicano. Seu mérito é o foco nesse público-alvo, revelando uma rica tapeçaria de referências culturais latino-americanas que adiciona boas camadas à trama.
O filme da Warner Bros. Pictures marca a estreia desse desconhecido super herói da DC Comics nas telonas. A direção de Angel Manuel Soto é boa, com cenas divertidas de ação e bom timing para comédia, sem novidades, estilo feijão com arroz. Entretanto, fazer arroz com feijão bem feito já é uma qualidade, certo? Xolo Maridueña está bem no papel principal de Jaime Reyes.
Na sinopse, o recém-formado na faculdade, Jaime, retorna para casa cheio de aspirações para o futuro, apenas para descobrir que sua casa não está exatamente como ele a deixou. Enquanto busca encontrar seu propósito no mundo, o destino intervém quando Jaime se vê inesperadamente em posse de uma relíquia antiga de biotecnologia alienígena que o escolhe para hospedeiro simbiótico. Dessa forma, ele ganha uma armadura capaz de poderes extraordinários que dependem da sua própria imaginação.
Há sim algumas passagens notáveis, onde destaca-se a cena em que Jaime Reyes, o protagonista, após transformado, encontra seu reflexo na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, a santa padroeira dos latino-americanos, na parede da casa de sua família. Essa escolha simbólica não apenas vincula Jaime a um destino maior, mas também estabelece uma conexão espiritual que permeia todo o enredo. Isso é algo que fica bastante claro em outra cena que evoca a icônica imagem da criação de Adão por Deus. A dualidade entre sua vida cotidiana e sua jornada como Besouro Azul ganha um caráter mais profundo através desses elementos. Essas referências não apenas reforçam as raízes culturais, latinas e católicas, mas também insere um toque de transcendência e propósito na jornada do herói. É um bom diferencial de tantos outros filmes de herois esse gole de catolicismo e fé.
Aliás, veja o trailer de “Besouro Azul” e siga lendo:
Além disso, há outros detalhes sutis de marcas da cultura pop latina, como os bonecos de Cheech e Chong presentes no carro do tio Rudy, o qual, aliás, funciona bem como alívio cômico durante a exibição. Ainda por cima, a novela mexicana “Maria do Bairro” é citada diversas vezes.
Posso ressaltar também que o filme acerta ao explorar as relações familiares. A jornada de Jaime, marcada por sua busca por identidade e responsabilidade, ecoa temas similares explorados em “Shazam”, especialmente essa questão da família que participa ativamente. A vovó diverte e é usada para momentos “lacração”.
Algo que não poderia deixar de falar é sobre a contribuição de Bruna Marquezine como parte do elenco. Sua atuação elegante e carismática acrescenta ao filme, conferindo-lhe um frescor cativantemente brasileiro. A atuação dela é boa, e talvez só perca para a excelente Susan Sarandon, que mesmo com um péssimo texto e personagem entrega uma excelente interpretação.
“Besouro Azul” flerta o tempo todo com elementos de outros heróis da cultura pop e sua maior distinção é exatamente essa ênfase dedicada ao público latino-americano e brasileiro. Essa é a grande estratégia de marketing, mas até acaba por conferir ao filme um certo ar de autenticidade e identificação.
No entanto, seria bom ver alguma coisa realmente inovadora, e não somente uma colagem em espanhol de tantos outros filmes de heróis num roteiro simplório. Em suma, “Besouro Azul” se esforça para encontrar seu lugar entre os heróis cinematográficos e tem um ar de “Sessão da Tarde” despretensioso do início ao fim, o que pode ser visto como um mérito.
Em suma, o retorno financeiro desejado do longa dependerá, em grande medida, da resposta do público que busca não apenas ação, mas também uma conexão profunda com suas origens. Porém, o Chapolin Colorado seguirá sendo o melhor e maior mexicano herói da cultura pop. E, lógico, se faz presente no filme.