É muito bom ver o cinema nacional se diversificando cada vez mais. E temos encontrado cada vez mais gêneros cinematográficos nas produções brasileiras. É o caso de Uma família feliz, filme de suspense brasileiro que estreou na última quinta-feira, 04 de abril. Baseado no livro homônimo de Raphael Montes, o filme tem roteiro do próprio autor e direção de José Eduardo Belmonte, que também dirigiu Alemão, Billi Pig e Carcereiros, entre outros filmes e séries.
A sinopse diz o seguinte: Eva acabou de dar à luz o seu terceiro filho e se depara com a angústia de uma depressão pós-parto em meio a uma vida burguesa supostamente perfeita. O ar tranquilo de sua família feliz é invadido por acontecimentos estranhos quando suas filhas gêmeas aparecem machucadas. Eva é acusada e retaliada pela comunidade. Isolada e questionada por seu próprio marido, ela precisa superar sua fragilidade para provar sua inocência e reestruturar sua família.

Suspense raiz
Como diz a sinopse, um ar de dúvida paira no ambiente durante as quase duas horas de filme (o longa tem duração de uma hora e 50 minutos). Muito parecido com o motivo da instalação desse questionamento do filme Instinto materno, recentemente criticado por aqui, o filme te leva a se perguntar o tempo inteiro quem é o real culpado das situações estranhas que começam a acontecer com as crianças. Ou seja, Uma família feliz tem êxito no gênero suspense, já que realmente deixa o espectador indagando durante muito tempo qual é o motivo de tudo o que está acontecendo. Ao contrário de muitos longas que têm sido lançados que entregam logo no início o culpado, mesmo achando que não (a quantidade de filme de suspense que não tem um pingo de suspense que tem por aí não está no gibi).
Cinéfilos muitos acostumados a assistir filmes do gênero (ou leitores que são amantes de literatura policial e de suspense) podem até descobrir o que está acontecendo antes do tempo, mas, no geral, o filme consegue, sim, manter o clima de mistério por bastante tempo.
Final acelerado
Há apenas uma reclamação a ser feita sobre o fato: a resolução é muito rápida. Sabe-se que o que importa em uma produção de suspense é a permanência do mistério. Quanto mais se deixa em suspenso a dúvida, quanto mais se prolonga a atmosfera de indagação, quanto mais prováveis culpados aparecem, mais interessado o público se mantém. Contudo, é bom haver uma resolução tão bem construída quanto o desenvolvimento. E, infelizmente, ela acaba sendo um pouco apressada. Até muito repentina demais, talvez.
Faltou um pouco de paciência para o espectador aproveitar melhor a cartada final (usando metáforas para não dar spoilers por aqui). Não sei como está escrito no livro. Sendo Raphael Montes o roteirista e autor, acredito que não esteja muito diferente assim. Mas é sabido que, sendo plataformas diferentes, o foco acaba sendo outro, e é preciso modificar algumas questões para “caber” em uma tela de cinema. Portanto, pode ser que o problema esteja apenas na adaptação do livro. Mas esse ponto não é de maneira alguma algo que atrapalhe a fruição do filme.

Grazi Massafera
Sei que já ficou muito pra trás a época em que as pessoas enchiam a boca pra falar mal da atuação de Grazi Massafera. Mas é muito bom assisti-la arrasando na atuação e calando cada vez mais essas pessoas que a detonavam pelo simples fato de ela ter saído de um reality show (para quem não sabe, a atriz participou do Big Brother Brasil 5, em 2005). Grazi vem, desde então, se tornando uma grande atriz e ela carrega esse filme nas costas.
Não há como dizer que Reynaldo Gianecchini está ruim. Não está de jeito nenhum. Ele faz seu papel direitinho e não dá nenhum motivo para o público criticar sua performance. No entanto, é Grazi quem entrega tudo de si em uma atuação emocionante.
Claro que o fato de sua personagem ter uma carga de dramaticidade muito maior ajuda. É ela que passa por uma severa depressão pós-parto. É ela que é acusada de atos horríveis. Além disso, é ela também que sofre todos os horrores que uma mulher, infelizmente, está acostumada a passar. Portanto, é Grazi Massafera que tem mais chance de mostrar toda sua veia dramática. Mas ela mostra. Ela faz o espectador sentir com Eva tudo o que ela sente. É ela quem mexe com o emocional do espectador. Obra de um texto bem-escrito também? Com certeza. Mas a atriz é o elo entre texto e espectador, e Grazi faz essa ligação muito bem.
As crianças
As duas crianças, Juliana Bim e Luiza Antunes, também são grande revelações do filme. Principalmente Juliana, que interpreta a gêmea mais disposta entre as duas. É ainda mais impactante saber que esse foi o primeiro trabalho audiovisual de Juliana. Se quiser seguir realmente a carreira de atriz, a menina terá um futuro promissor.
Há de se adicionar, também, que as duas meninas adicionam um ar de terror ao filme. Crianças acabam sempre deixando os filmes de suspense e terror ainda mais horripilantes. Sendo gêmeas então, não há como não lembrarmos de O iluminado. Ou seja, roteiristas e diretores, se vocês quiserem deixar seus filmes ainda mais assustadores, adicionem crianças em suas tramas. O espectador vai sentir medo na hora!
Fique, finalmente, com o trailer de Uma família feliz:
Ficha Técnica
UMA FAMÍLIA FELIZ
Brasil | 2024 | 110min. | Suspense
Direção: José Eduardo Belmonte
Argumento, Roteiro e Diretor Assistente: Raphael Montes
Elenco principal: Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini, Luiza Antunes e Juliana Bim
Produção: Barry Company
Coproducão: Globo Filmes e Telecine
Distribuição: Pandora Filmes
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