“Blue Jean” chega com um pouco de atraso nos cinemas brasileiros. Isso porque o filme britânico estreou na gringa no ano passado e fez um grande sucesso. Foi destaque no Festival Filmelier no Cinema e foi reconhecido em diversos circuitos internacionais. Alguns exemplos são o Festival de Cinema de Veneza, na categoria de voto popular, o British Independent Film Award, onde teve cinco indicações, levando o prêmio de Melhor Atriz. Além disso, a diretora Georgia Oakley foi indicada ao BAFTA deste ano na categoria Melhor Estreia de Roteirista, Diretor ou Produtor Britânico.
Mas do que se trata “Blue Jean”? Fique com o trailer pra matar um pouco a curiosidade.
“Blue Jean” e as mulheres lésbicas no audiovisual
Escrito e dirigido por Georgia Oakley em sua estreia na direção, “Blue Jean” poderia ser só mais um filme com protagonista lésbica que só sofre. Essa é uma reclamação recorrente das mulheres lésbicas: no audiovisual, há uma tendência a mostrar protagonistas lésbicas só se dando mal por causa de sua orientação sexual. Enquanto personagens gays já aparecem com histórias mais diversas em filmes e séries, as mulheres continuam tendo muito pouco espaço para serem felizes. Isso está mudando, claro, e já é possível ver, hoje, produções audiovisuais onde a personagem lésbica não é fadada a sofrer – isso quando não morre. Principalmente produções feitas para adolescentes já colocam um enfoque mais positivo nessas personagens (aleluia!).
Divisão evidente
Na primeira metade de “Blue Jean”, porém, parece que será esse mais do mesmo. Jean, mulher lésbica não se aceita totalmente, não tem apoio da família, não fica com quem ama, precisa viver se escondendo. Dá para entender dado o contexto? Sim. O filme se passa em 1988, durante o governo da primeira ministra conservadora Margaret Thatcher no Reino Unido, em plena campanha contra a população LGBTQIAPN+. Ou seja, uma época muito difícil para mostrar quem se era quando quem se é estava sendo perseguido. Mas é exatamente essa atmosfera de perseguição e tristeza e desesperança que já cansou. Já há filmes suficientes que mostram essa vertente da vida das pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. Então o filme parece um pouco deslocado no início, como se ele tivesse sido lançado tarde demais. Talvez se tivesse estreado 20 anos atrás…
Porém, na segunda metade, o filme se mostra a que veio e traz uma perspectiva mais otimista. O enfoque dado à relação de Jean, que é professora de Educação Física, com sua aluna que é abertamente lésbica faz toda a diferença para essa mudança do meio para o final do longa. A diretora poderia, talvez, ter adiantado e aprofundado um pouco mais o foco nessa relação, que acaba sendo crucial para Jean. Contudo, apesar de demorada, essa virada é o que torna o filme agradável de ser assistido. E acaba fugindo do estereótipo (ainda bem).
Estreias
Além da estreia de Georgia Oakley na direção, o longa marca também a estreia da atriz Lucy Halliday. No papel da aluna de Jean, Lois, Lucy carrega tão bem os sentimentos da personagem que recebeu uma indicação ao British Independent Film Awards. Assim como sua rival no filme, Lydia Page. Ela faz o espectador ter raiva de sua Siobhan, aluna popular que faz muito bullying com Lois por causa de sua orientação sexual. No papel de Jean, Rose McEwan consegue demonstrar com facilidade a inabilidade de viver naquele mundo que Jean carrega. O espectador enxerga sua tristeza não nos seus gestos e grandiloquência, mas pela falta deles. Sua atuação contida é o que mostra o quanto Jean sofre no seu dia a dia.
É um filme, assim como Jean, sofrido de se assistir (até certo ponto). Porém, é muito bonito. E por causa de sua virada na segunda metade, necessário.
“Blue Jean” estreou nas salas de cinema no dia 27 de julho.
Ficha técnica
Blue Jean (2022)
Duração: 1h37min
Direção e roteiro: Georgia Oakley
Distribuição: Synapse Distribution