Dirigido por Hayao Miyazaki, O Castelo Animado é um dos filmes mais grandiosos do diretor e também um de seus mais bonitos
Assistir a um filme de Hayao Miyazaki é sempre um exercício de contemplação e redescoberta. Cada obra do mestre japonês, oferece não apenas uma narrativa animada, mas uma experiência estética e filosófica que atravessa gerações. Dentro da filmografia do Studio Ghibli, O Castelo Animado (2004) ocupa um lugar singular. Não apenas por ser considerado pelo próprio Miyazaki como sua obra favorita, mas por condensar em suas imagens e personagens muitas das tensões, afetos e compromissos éticos que moldam a identidade do estúdio. É um filme que, ao mesmo tempo, dialoga com narrativas eternas, denuncia o militarismo contemporâneo e constrói uma fábula de amor e amadurecimento.
A trama acompanha Sophie, uma jovem modesta e insegura, amaldiçoada por uma bruxa a viver no corpo de uma idosa, permitindo que em sua jornada alcance coragem e libertação. Ao lado de Howl, o feiticeiro que habita um castelo errante e misterioso, Sophie mergulha em um mundo marcado por guerras, feitiçarias e pactos sombrios. A relação entre os dois, mais do que um romance, revela um processo de autodescoberta e de responsabilidade mútua, onde o amor se constrói na confiança e na coragem um com o outro.

Cena de O Castelo Animado- Divulgação Sinny
Se, à primeira vista, a narrativa parece guiada por um enredo de fantasia tradicional, logo se percebe que Miyazaki articula camadas de crítica social e política, se inspirando em conflitos grandiosos como a Guerra do Iraque, e criando nítidos paralelos entre a atmosfera bélica da produção e os conflitos contemporâneos.
Acima de tudo, a crítica antimilitarista de Miyazaki não é panfletária. Ela se infiltra na própria lógica do filme: o verdadeiro perigo não está nas criaturas mágicas ou nas bruxas, mas na ambição destrutiva dos humanos, nos regimes autoritários que consomem vidas e paisagens. Nesse sentido, O Castelo Animado atualiza uma mensagem presente em Nausicaä do Vale do Vento (1984, Hayao Miyazaki): diante da violência, sempre se deve escolher a bondade, o amor e o pacifismo.
O universo construído é, ao mesmo tempo, vasto e íntimo, passando uma beleza única em cada detalhe: as engrenagens do castelo, as cidades em guerra, os campos ensolarados, porém, este espetáculo visual, nunca se sobrepõe ao enredo; ao contrário, amplia sua densidade, criando um espaço onde magia e realidade se unem em harmonia. A cena em que Sophie presencia o pacto entre Howl e Calcifer é um exemplo magistral dessa fusão: estética, narrativa e emoção convergem em uma das sequências mais fortes da produção.
Outro elemento essencial é a trilha sonora de Joe Hisaishi, não atuando como um mero acompanhamento, a música em O Castelo Animado traz uma extensão emocional das imagens, sustentando desde os momentos cômicos até os de tensão existencial, alegorias bélicas, ou histórias clássicas de amor como A Bela e A Fera (1740, Gabrielle-Suzanne Barbot).

Cena de O Castelo Animado- Divulgação Sinny
Uma das poucas questões críticas de O Castelo Animado, seria o acúmulo de reviravoltas e subtramas que confundem a audiência em certos momentos, sendo o universo grande e complexo demais para somente uma produção, porém, em uma análise final, este excesso é parte da riqueza do filme, permitindo que a narrativa se abra em múltiplos caminhos, que sempre trazem um significado novo.
Ao final, o que resta é a força de uma épica fábula. Mais do que somente uma história de amor, O Castelo Animado é um convite à diversas reflexões: a coragem de ser vulnerável, a escolha da bondade em tempos de violência e a capacidade humana de imaginar mundos alternativos ao militarismo e ao medo, se tornando um filme eterno: um ode animado ao poder da imaginação e um lembrete de que a verdadeira magia reside no afeto e na compreensão mútua.
Castelo Animado foi assistido durante a primeira parte do festival Ghibli que ocorrerá até o dia 01 de Outubro em diversos cinemas de país, passando 14 obras do estúdio incluindo Nausicaä do Vale do Vento (1984, Hayao Miyazaki), Memórias de Ontem (1991, Isao Takahata), entre tantos outros clássicos.
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