Coisa Mais Linda (Girls from Ipanema) é uma ode ao feminismo. O mar libertador. Quem cresceu em cidade litorânea, ah, na verdade, qualquer pessoas que já viu o oceano, percebe que ali tem uma força… diferente. Para completar ainda tem a rainha do mar, Iemanjá, para fixar essa metáfora das energias do mar e da proteção dessa divindade que traz exatamente o arquétipo feminino.
A série traz a Bossa Nova em seu início, um Rio de Janeiro quase romântico de outros tempos. Aliás, acaba tendo um gosto de nostalgia, enquanto critica o machismo aprisionante e trágico. Inclusive, aborda temas como relacionamentos abusivos e a violência contra a mulher. Ao mesmo tempo, traz a base da união das mulheres, onde uma ajuda a outra; quando uma cresce, leva outra junto, e assim sucessivamente. O fortalecimento mútuo acima de tudo.
O machismo quer que Maria Luiza (Maria Casadevall) fique quieta e fraca e duvida de sua capacidade. Mas quem existe agora é Malu, que não aceita as derrotas que parecem se sobressair, inclusive com um sistema jurídico que favorece somente os homens. Enquanto isso, Adélia (Pathy Dejesus) está nas voltas com um noivado que traz dúvidas. Ivone (Larissa Nunes) ganha destaque nessa segunda temporada e movimenta o grupo de heroínas com dinamismo, afastando o conservadorismo vigente.
Espiritualidade
A espiritualidade fica presente tanto com a imagem de Iemanjá, lá no começo da série, quanto logo nos primeiros episódios da segunda temporada. Mas não é nada aprofundado. Inclusive, fantasmas do passado ressurgem querendo reconquistar espaços perdidos. A temporada já começa mostrando algumas mudanças importantes com novos problemas que precisarão ser solucionados. Os diálogos às vezes tem alguns problemas, uma certa pieguice. Talvez pelo fato da série ser escrita em inglês primeiro para depois ser traduzida para o português. Contudo, o relevante assunto principal – a luta feminina por seu espaço de direito na sociedade machista – é bem trabalhado, trazendo grande indignação nos espetadores em diversos momentos. Indubitavelmente, provoca reflexões.
O preconceito das elites está lá. A relação de um homem de classe média com a trabalhadora negra que resulta numa filha. Novos formatos de relações ‘avançadas’ para a época. A pressão para manter as mulheres fora de um protagonismo e dentro de um comodismo enjaulador é gritante. Agora vemos também as mulheres nas rádios, na personagem de Mel Lisboa.
Enfim, a série continua interessante. O sabor da Bossa Nova e o esplendor do Samba abrem novos rumos. Novos e velhos amores batalham entre si. E, no palco, a luz ilumina o sucesso que vem sob as bençãos do Cristo Redentor – e de Iemanjá.