Onze mulheres negras, através de entrevistas e performances emocionantes, emergem como protagonistas de suas próprias narrativas, enfrentando a exclusão social que por muito tempo foi deixada de lado. Esse é o mote do excelente documentário “Corpos Invisíveis”.
Assistir a esse filme foi como abrir uma porta para um mundo que muitas vezes permanece invisível para a sociedade em geral. As histórias, as experiências e as performances das onze mulheres negras me transportaram para uma jornada emocional que percorreu os corredores da minha própria vida. Ver essas mulheres ocupando o espaço e se manifestando de maneira tão autêntica foi revigorante. Foi como se finalmente alguém tivesse dito aqui em alto e bom som que nossas vidas, nossas lutas e nossas alegrias importam, que somos visíveis e merecemos ser ouvidas.
Um pouco antes de entrar na sala para ver o filme, estava esperando o elevador para subir até o quarto andar, havia um grupo de meninas negras esperando o elevador ao lado, um casal aparentemente na faixa de 50 e poucos anos parou para entrar tambem no elevador. Todos eles entraram e o elevador deu excesso de peso, o casal que havia chegado depois se recusou a sair, as meninas negras saíram para o casal poder subir. Achei um absurdo elas terem que sair, pois bem, vi aquela cena com desprezo, se fosse eu não me retiraria, não se trata de prioridade, se trata de ter educação, coisa que o casal não tiveram com as meninas, o casal também estava indo para o evento de cinema, então porque não esperar a vez deles? O racismo vai muito além do que podemos observar.
Aliás, saiba mais sobre o filme no vídeo abaixo, e continue lendo:
No longa, a memória coletiva compartilhada pelas mulheres no filme tocou profundamente meu coração. Elas transmitiram histórias de lutas passadas, de resistência e conquistas significativas na busca por igualdade.
O que eu percebo é como a mulher negra na sociedade muitas vezes é invisível, sua voz abafada, suas lutas ignoradas. Ela enfrenta um labirinto de estereótipos racistas, preconceitos arraigados e um sistema que muitas vezes é relegado à margem. No entanto, a sua força é incomparável, a sua resiliência é indomável, e a sua contribuição para a humanidade é imensurável.
Assim, “Corpos Invisíveis” não é apenas um documentário, é um manifesto. Um chamado à ação. Um espelho que reflete a força e a resiliência das mulheres negras no Brasil. É uma resposta poderosa à pergunta: “O que é ser mulher negra no Brasil?” É ser visível, ser forte, ser resiliente, ser uma voz que ecoa e quebra o silêncio.
Minhas lembranças
As relações interpessoais e as redes de apoio destacadas no filme ressoaram fortemente em mim. Lembrei de quando era criança, minha mãe era loira na época e usava lentes de contato verde, em alguns lugares que frequentamos, as pessoas achavam que ela não era a minha mãe, talvez não a biológica, por eu ser negra da pele escura e ela ser uma mulher de pele mais clara. O filme me tocou tão profundamente que chorei no mínimo umas três vezes. Sendo que na última vez foi quase impossível conter minhas lágrimas.
A maternidade, uma experiência que ainda não vivi, foi apresentada como um ato político e de amor. Isso me fez refletir sobre as responsabilidades e os desafios que as mães negras enfrentam em nossa sociedade.
As entrevistas e performances capturam a evolução contínua da identidade das mulheres negras no Brasil. Eles não são apenas definidas por estereótipos ou expectativas sociais, mas reivindicam sua identidade de maneira dinâmica, moldada por suas próprias histórias e escolhas.
Afinal, assista a esta obra-prima cinematográfica e deixe-se mergulhar nessa jornada reflexiva e impactante.
“Corpos Invisíveis” terá uma exibição aberta no Festival do Rio neste domingo, 08/10, às 16:30, na Estação NET Rio 5, seguida de debate.
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