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‘De Quem é o Sutiã?’ traz poesia sem diálogos em meio ao Azerbaijão

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De QUem é o Sutiã? De Veit Helmer. Leia a crítica por Alvaro Tallarico.

De Quem é o Sutiã? (The Bra) é um filme que preza por uma beleza em suas imagens, como o início em câmera lenta, em planos-detalhe. Cada som do longa-metragem nos coloca mais dentro da experiência imersiva naquele mundo, onde um trem passa no meio de uma comunidade. A direção de Veit Helmer percorre paisagens muito bonitas e iluminadas, contrastando com o escuro e melancólico quarto do protagonista. Inclusive, o mérito dessa fotografia enaltecedora da poesia presente no filme é de Felix Leiberg, o qual aproveita desde os cenários dramáticos montanhosos ao triste quarto de hotel. Aliás, o roteiro de Veit Helmer traz algo que poderia incomodar alguns: o filme não tem diálogos.

Isso mesmo. Lembra os antigos filmes mudos em diversos momentos, contudo, usa tal fato como diferencial, e, como citado no parágrafo anterior, os sons estão presentes – e muito. Apitos, gemidos, risos e músicas permeiam a exibição. A cinematografia não decepciona, é o clássico “uma imagem vale mais que mil palavras”. Para isso, o diretor Veit Helmer usa o tempo necessário para construir o mundo que quer nos apresentar. Como no caso de Kamai (vivido com comicidade por Denis Lavant), um maquinista conectado com a música, o que é demonstrado logo no início, quando ele faz com um martelo em vários pontos do trem. Inclusive, esse personagem é responsável por bons momentos cômicos.

Nurlan, o solitário

Predrag ‘Miki’ Manojlovic vive o protagonista, um solitário maquinista de trem, Nurlan, que acaba iniciando uma aventura em busca da dona de um sutiã azul. Pedrag, com seu rosto de cão abandonado, grita com seus olhares e expressões de surpresa e decepção. Nurlan, está indo a Baku (Azerbaijão) pela última vez antes da aposentadoria. Porém, seu trem esbarra em um varal e derruba esse sutiã. Em verdade, na maioria das vezes que o trem passa, pega alguma peça esquecida em algum varal, afinal, a linha do trem passa bem no meio de uma localidade em Baku. Essas cenas são uma diversão à parte, com um menino fofo e trabalhador que, ao ver o sinal, sai pelo meio da linha com um apito, avisando que o trem está vindo. Aí é aquela correria para todo mundo sair do caminho. Nurlan precisa estar atento para evitar acidentes.

Visando escapar da sua existência solitária, Nurlan embarca atrás de um amor, de uma Cinderela. Ou seja, De Quem é o Sutiã? é um grande conto de Cinderela no Azerbaijão. Mas essa seria uma forma fútil de resumir o filme, o qual está milhas longe de ser tão simplório, pois Nurlan segue na jornada mais emocionante de sua vida rotineira por cenários pitorescos, querendo um amor que faça seus últimos anos ganharem significado. Ainda por cima, temos a participação da atriz espanhola Paz Vega com toda sua graça e talento.

Enfim, aqui o fato de não ter diálogos faz o espectador aproveitar mais a experiência. O longa foge da lascividade – o herói tem coração puro, e está longe da pecha de galã ou aproveitador, viajando entre a melancolia e o humor. Além disso, a rota que o trem de Helmer escolhe passa por vários desvios satisfatórios antes de chegar a um destino bem-vindo – e merecido.

Por fim, veja o trailer do longa distribuído pela Pandora Filmes que tem previsão de estreia para 20 de fevereiro:

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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