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Crítica | ‘Ela Disse’ escancara o sistema que oprime as mulheres

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Ela disse é um filme baseado na reportagem vencedora do prêmio Pulitzer, do jornal “New York Times”, que virou também um livro de mesmo nome do longa. Na película, distribuída pela Universal Pictures, as atrizes Carey Mulligan (Bela Vingança) e Zoe Kazan (Doentes de Amor) protagonizam no papel das repórteres Megan Twohey e Jodi Kantor, que publicaram a história que ajudou a lançar o movimento #Metoo, sobre o tema do abuso sexual em Hollywood.

A princípio, ver esse filme pode ser difícil por causa da história abordar um tema muito sensível, mas extremamante necessário. Inclusive, caso o tema de abuso sexual possa servir como algum gatilho, é importante ler esse texto e ver o filme sabendo disso.

O longa nos permite ver não só a uma história de jornalismo investigativo, mas, principalmente, perceber, nem que seja um pouco, todo um sistema voltado para o abuso sexual e assédio de mulheres. Porém, mais do que ver esse sistema montado bem na nossa frente, também vemos a história das vítimas e como tudo isso afetou as mulheres.

Detalhes

Assim que o filme começa vemos cenas que talvez possam parecer pouco importantes, mas que são parte daqueles pequenos detalhes que vão nos dando sinais de que há algo de errado. Enquanto acompanhamos as jornalistas logo de início indo para o trabalho, atrás delas vemos imagens de mulheres seminuas ou em pose sexualizadas em cartazes, bem como uma mãe com uma criança de colo em pé no metrô com vários homens sentados e ninguém se levantando. É com essas pequenas violências, que já são costumeiras e normalizadas, que o filme abre para nós mostrando que esse sistema de abuso não é só sexual.

Em Ela disse vemos ser escancarado todo o sistema que o ex-produtor de filmes Harvey Weinstein usava para abusar de suas vítimas. Vemos duas mulheres que são mães, uma delas tendo acabado de ter um bebê, lidando com um ambiente de trabalho onde ouve várias atrocidades. Além disso, é pulsante a maneira como o mundo tenta calar cada uma dessas mulheres. É impressionante a dupla jornada das mães e como sempre estão tentando equilibrar tudo, e que mesmo com ajuda isso pode ser muito difícil de fazer devido ao volume de trabalho e tempo que demanda.

Entretanto, apesar de tudo isso ser bem mostrado, o longa me faz questionar algumas coisas relevantes. Nós temos todo esse sistema mostrado bem em nossa frente, e isso é bom, mas será que várias pessoas não sabiam o que estava acontecendo? E por quais motivos essas pessoas decidiram fazer nada? Por que o filme não deu algum enfoque nisso também?

Discussão

Não sei dizer se o livro mostra como haviam pessoas que acabavam acobertando todo esse sistema, porém, isso não muda o fato de que no filme Ela disse poderia haver uma discussão em relação a isso também. Afinal, são essas pessoas que as vezes detém poderes e trabalham para que esse sistema continue operando.

Talvez uma ironia que o longa nos mostra, também, é que as coisas começam a andar melhor quando alguns homens perto de Harvey decidem começar a abrir um pouco a boca. Mais especificamente há uma fala simplesmente reveladora e que transmite bem a realidade:

“Eu achava que eram só puladas de cerca”.

Nesse ponto é possível ver como por vezes essa cumplicidade masculina ou até o famoso “não quero me meter nesse problema”, são coisas que acabam ferindo várias mulheres pelo mundo. Com essa fala, vemos que tudo bem enganar sua própria esposa, faltar com a palavra com ela, que está tudo bem e que iremos acobertar. Isso mostra bem como muitos homens veem as mulheres. Como simples objetos, que tudo bem você enganar, usar, não tem problema, inclusive seus amigos podem te ajudar a acobertar tudo.

Também vemos como vários homens que são acusados de abuso sexual usam de adjetivos e difamações como “maluca”, “louca”, “histérica”, e tantas outras manobras baixas e ofensivas para acabar com a mulher que os acusa. Não mostram provas, não mostram nada que prove o contrário, basta um adjetivo, uma pequena calúnia, e pronto, todos estão contra aquela mulher. Mais fácil ainda se você tiver algum poder, porque é só dizer que ela dormiu com o cara e está fazendo isso para ganhar promoção.

Aliás, veja o trailer, e siga lendo:

O filme tecnicamente não nos mostra nada de diferente, mas seu tema, as várias verdades e histórias que ele mostra, deixam explícito em nossa face todo o sistema criado para opressão e abuso sexual e que é realmente necessário que conversemos sobre isso. Que vejamos esse filme para ampliarmos essa discussão. Discussão essa que inclusive não se limita ao cinema, afinal, no início desse ano de 2022 a Activision Blizzard recebeu um processo por diversos casos de denúncia de assédio, abuso sexual e discriminação contra funcionárias mulheres.

No processo pode ser visto que os funcionários homens chegavam de ressaca para trabalhar, jogavam vídeo game enquanto as mulheres faziam o trabalho todo da empresa. Ainda por cima, existiam “jogos” em que homens passavam por baixo das mesas das mulheres fazendo comportamentos inapropriados, faziam piada sobre estupro; há relatos de homens que bebiam sem permissão o leite materno que mulheres tiravam e deixavam na geladeira para levar depois para os seus bebês. E a “punição” da empresa? Ser vendida para a Microsoft e o principal responsável por permitir tudo isso ser recolocado como um dos chefes da empresa. E devido a compra, não se fala mais sobre isso, mas sim se realmente essa venda vai acontecer.

Ela disse, que estreia neste 8 de dezembro, tem direção da vencedora do Emmy, Maria Schrader (minissérie Nada Ortodoxa), a partir do roteiro escrito por Rebecca Lenkiewicz (Ida), vencedora do Oscar. É um daqueles filmes que precisamos ver para debater e tentar solucionar esse problema que acaba com a vida de várias mulheres pelo mundo todo. E para lembrar que devemos não só combater os Harvey Weinstein, mas também aqueles que acobertam e permitem que todo um sistema assim funcione.

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Estudante de Cinema, editora de vídeo e formada em Design de Animação. Ama jogos, filmes, séries, quadrinhos, mangás, livros, não importa a mídia sempre procura histórias.

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Crítica | Transformers: O Despertar das Feras

Sétimo da franquia é mais do mesmo, mas superior a outros

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transformers o despertar das feras

O início de Transformers O Despertar das Feras (Transformers: Rise of the Beasts) é frenético, com uma boa batalha. Em seguida, conhecemos os protagonistas humanos, que são mais cativantes do que de outros filmes. O rapaz latino Noah Diaz (Anthony Ramos) e seu irmão (Dean Scott Vazquez), o qual serve mais como uma metáfora para o espectador. E a divertida Dominique Fishback, como Elena Wallace.

Nessa primeira parte do filme há algumas boas críticas, como o fato de Elena ser uma estagiária e saber muito mais que sua chefe, porém, sem levar nenhum crédito por isso. Enquanto Noah tem dificuldades de arrumar um emprego. Há aqui uma relevante abordagem sobre periferia (Brooklyn) ao vermos alguns dos desafios da familia de Noah, o que o leva a tomar decisões errôneas. A princípio, é um bom destaque essa caracterização dos personagens, em especial, favorece o fato da história se passar em 1994.

Dessa vez, o diretor é Steven Caple Jr., o qual não tem a mesma capacidade de Michael Bay para explosões loucas e sequências de ação. Steven faz sua primeira participação nesse que é o sétimo filme dos robôs gigantes. Ele era fã de Transformers quando criança e procura mostrar os Maximals (Transformers no estilo animal) de uma maneira autêntica.

Aliás, veja um vídeo de bastidores e siga lendo:

O público alvo do longa é o infanto-juvenil, que pode se empolgar com algumas cenas. Contudo, no geral, o roteiro é um ponto fraco. O Transformer com mais destaque aqui é Mirage, que fornece os instantes mais engraçados da história e faz boa dupla com Noah.

Além disso, as cenas no Peru e a mescla de cultura Inca com os robôs alienígenas é válida, com alguma criatividade e algumas sequências tipo Indiana Jones. Há muitas cenas em Machu Picchu e na região peruana que são belíssimas e utilizam bem aquele cenário maravilhoso. Vemos, por exemplo, o famoso festival Inti Raymi em Cusco, antiga capital do Império Inca, o qual o longa usa com alguma inteligência. Pessoalmente, essas partes me trouxeram lembranças pelo fato de que já mochilei por lá (veja abaixo), então aqui o filme ganhou em em relevância pra mim.

O longa se baseia na temporada Beast Wars da animação e traz o vilão Unicron, um Terrorcon capaz de destruir planetas inteiros. Na cabine de imprensa, vimos a versão dublada, a qual ajuda a inserir no contexto dos anos 90 com gírias da época.

Por fim, dentre os filmes dessa franquia que pude ver, esse sétimo está entre os melhores, apesar de ser somente regular, e conta com momentos divertidos. Além disso, a cena pós-crédito (só há uma) promete um crossover com muita nostalgia, Transformers: O Despertar das Feras chega aos cinemas de todo o país na próxima quinta-feira, 8 de junho.

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