Quando acabar a quarentena, uma boa pedida de cinema é o longa O Chão Sob Meus Pés (The ground beneath my feet). Assisti pelo Vivente Andante em sessão especial para a imprensa. Dirigido por Marie Kreutzer, o filme mostra a vida em seu percurso e como este se desfaz, por mais doloroso que seja. É sob os nossos pés que se reconstituem os fatos, o recomeço. A película austríaca, dirigida por Marie Kreutzer, mostra a sutileza do desvanecer da realidade, por mais que controlemos a nossa existência e façamos dela uma moldura voltada para o real, em que este real é o que tentamos mostrar aos outros, conforme observamos a protagonista Lola (Valerie Pachner) fazer. Seu trabalho como alta executiva é impecável e sua vida particular parece ser uma extensão de sua vida profissional; no entanto, percebemos que muitos aspectos destoam do que “realmente” acontece por dentro de sua vida.
Sutilezas
Conny (Pia Hierzegger), irmã mais velha de Lola, encontra-se internada em uma instituição psiquiátrica por ter tentado suicídio. Conny é uma dessas bifurcações da realidade ou da realidade oficial contada por Lola, já que ninguém sabe dessa situação na vida da executiva. Em visitas a Conny, Lola sempre ouve pedidos de auxílio, mas duvida da realidade contada pela irmã. Do mesmo modo, a executiva começa a desenvolver uma série de alucinações, em que Conny a telefona, quando na verdade isto não aconteceu em momento algum, algo confirmado quando a executiva liga para o hospital.
Com esta sutileza, a diretora evidencia como tudo se nos esvai e nosso conceito de veracidade, de realidade é tênue. Depois de um incidente, Lola precisa reconstruir seus caminhos e suas crenças passam por uma relevante releitura depois que a sua vida vai ao chão.
O Chão Sob Meus Pés, distribuído pela Supo Mungam Films, seria lançado no dia 19 de março de 2020 nos cinemas, mas foi adiado devido ao coronavírus e a pandemia.