O Fim do Mundo é um bom filme feito numa co-produção da Suíça com Portugal. O início traz o batismo de uma criança, como se fosse um novo começo, uma nova esperança. Mas, será que isso é possível? O filme tem várias coisas diferenciadas, por exemplo, conta com um elenco não profissional. Além disso, foi filmado no bairro periférico da Reboleira em Lisboa pelo diretor Basil da Cunha, um suíço filho de imigrantes portugueses. É o segundo longa dele.
O filme me fez pensar nas favelas do Rio de Janeiro. No bairro da Reboleira, a maioria da população é ou descende de imigrantes das antigas colônias portuguesas na África, ou seja, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, e, a maior parte, de Cabo Verde. A questão histórica se faz presente, os resquícios da colonização, assim como é no Brasil.
O fato do elenco ser amador traz uma outra veracidade ao filme e Basil consegue imprimir uma beleza romântica em várias cenas, ao mesmo tempo que não foge de mostrar a realidade pobre do local, a falta de perspectivas dos jovens e a especulação imobiliária que não se preocupa com as pessoas e suas vidas.
Retrato da Reboleira
O Fim do Mundo tem como protagonista o jovem Spira, de 18 anos. O rapaz passou os últimos 8 anos de sua vida num reformatório. De volta à Reboleira, a favela onde cresceu em Lisboa, reencontra seus amigos. Spira percebe que as coisas estão mudando. E o quanto ele mudou? Ao longo do filme, vamos pescando pequenas informações sobre ele, até que seus atos e palavras demonstram o que está no seu coração. Apesar de tudo, alguns ainda sonham, como Iara, por quem Spira se apaixona, ou Giovani que quer se tornar um dos grandes chefes do crime. Ainda por cima, tem o traficante Kikas, louco pelo time do Benfica.
Certamente, é o retrato de uma geração que vive naquelas situações que se apresentam durante o filme. Acaba por trazer também toda uma crítica social por trás, da mesma forma que Basil homenageia o bairro pelo qual tem tanto carinho, colocando seus moradores na frente das câmeras para viver outras vidas que na verdade são as mesmas. Será que há espaço para o amor quando não há espaço para sonhos?
*O Vivente Andante recebeu o convite para ver antes alguns dos principais filmes do Panorama Digital do Cinema Suíço que chega à sua 8ª edição. O evento acontece de 27 de agosto a 6 de setembro. Os filmes serão exibidos gratuitamente na plataforma Sesc Digital. O festival é uma realização do Consulado da Suíça em São Paulo e do Sesc São Paulo, com a agência de cinema Swiss Films.