O Telhado (The Roof) é um filme essencialmente meditativo: a audiência não se depara com alguma forma de evolução de personagem ou com um arco narrativo grandioso, mas isso não importa. Este documentário de 63 tem como cerne um dos maiores dramas éticos e humanitários do último século: a invasão da Palestina. Ao longo de pouco mais de uma hora, o diretor Kamal Aljafari nos guia pela sua vizinhança nativa e a casa que sua família ocupa de forma impessoal.
Primeiramente, O Telhado é mais do que uma obra que deve ser consumida e vida que segue. O documentário abre espaço para uma discussão séria sobre pertencimento, direito sobre terras, direitos humanos e tanto mais. Ainda assim pode se notar uma certa distância emocional que a câmera (e por extensão nós) mantém dos seus objetos de retrato; essa distância não é apática, mas sim uma visualização da situação psicológica na qual essas pessoas se encontram. Mesmo depois de 60 anos, os protagonistas da história não se sentem confortáveis na casa que ocupam. Seu lar foi destruído durante a primeira Intifada em 1948 e desde então eles procuram uma existência digno numa terra invadida e controlada por um povo belicoso.
Palestina, não Israel
Ainda assim, essa caminhada quase em estado de estupor por um subúrbio de Tel Aviv é bela e calma mesmo sendo praticamente uma zona de guerra. Nosso diretor caminha e dirige por várias ruelas, se encontrando com casas em escombros e conversando com desconhecidos. Ele parece tentar se conectar com alguma identidade que árabe que não pode se exprimir com liberdade. Ainda mais, a todo momento a violência do estado Israelense se manifesta de como uma névoa densa sobre toda a terra. Não existe nenhuma conversa, ambiente, pessoa ou vida que não seja direta e negativamente afetada por este governo malquisto.
Por fim, a visita de Aljafari parece ser breve e em essência efêmera; sua presença como mero espectador é o suficiente criar uma conexão com a audiência. Infelizmente (ou não) O Telhado é um filme meio difícil de digerir. A abordagem zen de um tema geralmente relegado a narrativas mais viscerais é uma linguagem pouco explorada que pode cansar alguns expectadores novatos. Mesmo assim, é um belo filme que mostra como é a vida de um não judeu em Israel.
Para uma visão menos poética e mais única desse mundo, leia a graphic novel Notas Sobre Gaza, do ilustrador Joe Sacco. É um livro grande mas dotado de uma narrativa jornalística pesada que não decepciona. Você pode ver o filme aqui no forumdoc.bh.
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