“O Tigre Branco” (The White Tiger) é mais uma viagem pela Índia, mas num outro lado, entre as luzes e as trevas da realidade. O filme já começa bem e traz ensinamentos e reflexões sobre a cultura indiana, incluindo o grande número de deuses que possuem. O protagonista-narrador, Balram (Adarsh Gourav, muito bem), vai trazendo diversas críticas sobre seu país e conecta a história de sua vida com a da Índia. Um pobre de casta baixa que quer mais e consegue virar motorista de gente rica na busca de subir as escadas da prosperidade.
A direção é eficiente, enquanto a fotografia tem um ar soturno, melancólico. É uma Índia bem diferente do colorido dos estúdios de yoga. Aqui, o cinza predomina e a pobreza e a violência dominam. A vida de um criado, de um serviçal não permite muitos prazeres e isso é cultural.
As atuações são ótimas e, dos filmes indianos que já vi, esse talvez seja o melhor na concepção cinematográfica. Mas não se atenha a um “bom filme indiano”, pois é cinema de qualidade. A complexidade do personagem principal é deveras interessante em seu caminho até o inferno. Há cenas emblemáticas como aquela em que ele escova os dentes tentando apagar o passado. Não, Balram, não é possível apagar o passado. O diretor Ramin Bahrani usa os closes com consciência e chega a usar a quebra da quarta parede em momento crucial na vida do protagonista, para elevar o drama e e exaltar aquela virada.
“O Tigre Branco” prende, entretém e provoca o espectador dentro da Índia discrepante e enlouquecedora, berço de humilhações e pecados.