Filmes com mansões mal assombradas e fantasmas costumam ser meus favoritos dentre os vários subgêneros do Terror. Todavia, Os Órfãos (The Turning) que estreia no Brasil no dia 30 de janeiro, prometeu me dar sustos, contudo, na verdade deixou muitas dúvidas. O longa-metragem é mais uma adaptação de “A outra volta do parafuso” de Henry James, livro de 1898.
Nesta nova versão o filme conta a história de Kate (Mackenzie Davis), uma professora contratada para cuidar da educação da jovem Flora (Brooklyn Prince) passando a morar na mansão de uma família rica. Flora e o adolescente Miles (Finn Wolfhard, astro de Stranger Things) são órfãos. Miles é expulso do colégio interno e volta para casa passando a entrar em conflito com Kate, enquanto coisas sobrenaturais acontecem fazendo a professora questionar sua própria sanidade.
Muito erros, poucos sustos
De todos os erros da produção talvez o maior seja o roteiro. Haviam muitos caminhos que o os irmãos Hayes poderiam ter tomado mas o escolhido foi um preguiçoso roteiro com sustos baratos. A falta de consistência e motivação verossímil faz com que os personagens se afundem em plot twists que não existem.
O que faz refletir: o roteiro é ruim porque falta talento na dupla de irmãos roteiristas ou o estúdio foi castrando todas as ideias até restar tudo o que vemos? Acredito que o roteiro tenha sido tratado e depenado a exaustão. Falta de coragem o não aprofundamento de assuntos como masculinidade tóxica ou uma suposta atração sexual entre a professora e o adolescente.
Sequência de sustos vazios que cansam
Infelizmente a intervenção do estúdio é notável. Os assuntos vão ficando no ar e não são expostos e debatidos, empobrecendo o roteiro. Seria para não aumentar a classificação etária de um filme com um astro adolescente de uma série de sucesso? A pretensão de atingir a um público mais jovem faz com que assuntos complexos não sejam tratados com maior profundidade.
Infelizmente esse “polimento” exagerado no roteiro é um tiro que pode sair pela culatra por acabar com o processo criativo do roteirista. A falta de profundidade afunda o próprio filme, que acaba se tornando uma sequência de sustos vazios que cansam. Diálogos clichês, frases prontas e pouco desenvolvimento da psique dos personagens.
Terror
Sem um bom roteiro todo o filme desandou. Me parece que, no geral , todos os setores da produção estavam desconectados. A direção de Floria Sigismondi só serve para colar o péssimo roteiro dentro de quadros bem decupados, até. Nota-se um esforçado olhar da diretora mas para um filme de terror tudo estava esteticamente destoando, muitas vezes parecia um comercial de perfume, outra hora, um vídeo clipe. Hollywood ainda não percebeu que o público que consome Terror não quer apenas tomar sustos vagos? Infelizmente, Os Órfãos deixa a sensação de “talento” desperdiçado, e que de fato, é.
Talvez o caminho mais seguro para Os Órfãos teria sido se inspirar na fórmula Stranger Things fazendo uma releitura de “A outra volta do parafuso” dentro dos anos noventa com muitas referências visuais e da cultura pop misturando assuntos sérios com terror mas ao mesmo tempo usando o humor como auto reflexão de um gênero.