Estive na estreia do espetáculo “Moria”, na Casa de Cultura Laura Alvim. Nos últimos tempos tenho visto muitas boas obras e espetáculos que falam de orixás, ancestralidade e outras divindades que vieram a partir da cultura africana, como “Mãe de Santo“, com a excelente Vilma Melo, ou “Cosmogonia Africana“. Também vi o belo “Helena Blavatsky, A Voz do Silêncio“, sobre a criadora da Teosofia. Porém, não lembro da última vez em que vi uma peça que abordasse a fé cristã. “Moria” faz isso, mas vai muito além, ao conectar essa fé com a questão dos refugiados e aprofundar na alma humana, e seus pecados e virtudes.
A princípio, “Moria” narra a história de três mulheres aprisionadas em um campo de refugiados na ilha de Lesbos, na Grécia. Duas são atrizes que escaparam do Irã, Abda e Bahar, que, nas primeiras horas da manhã, escondidas, ensaiam uma peça sobre os Apóstolos Paulo e Tiago. Essa discussão oferece bons momentos, ao vermos dúvidas dos primórdios do cristianismo em paralelo aos tempos atuais representados pelo debate entre Abda e Bahar. Enquanto ensaiam, elas sofrem perseguição por serem mulheres e cristãs. As protagonistas ganham vida através das boas atuações de Claudia Lira e Tarciana Giesen. A terceira mulher é Carol Alves. Em especial, Tarciana se destaca e, em diversos momentos, conseguiu me comover.
Em meio a tudo isso, temos toda uma metalinguagem, explícita desde o início, e bem utilizada pelo texto de Moacyr Góes. A peça é como uma ode ao teatro ao colocar essa tão nobre arte como a possibilidade de liberdade dessas duas atrizes refugiadas, quase como uma salvação. Aliás, Moacyr ainda está nas funções de diretor, cenógrafo e figurinista.
Aulas
A peça é uma relevante aula de teatro, história e fé. Gera reflexões na mescla entre o passado e o contemporâneo, e nas tantas referências que faz. De “Hamlet” a “Zorba, o Grego”, passando pela mitologia grega diversas vezes, como ao citar Antígona e Cassandra com seu dom da profecia. A Grécia em si é bastante agraciada no texto e várias de suas riquezas materiais e imateriais. Tudo se mistura numa grande crítica contra a intolerância e a perseguição aos cristãos, que é pesada em muitos lugares do mundo. Aqui, em especial, são mulheres cristãs, cujo sofrimento é muito maior, cuja cruz é muito mais árdua.
Ainda por cima, o texto traz algumas pérolas como “a ironia nao é boa conselheira”, e passa uma mensagem contra a vingança. Não foge de criticar a hipocrisia de tantos que se dizem cristãos, mas vai no cerne do cristianismo em suas mensagens benéficas e principais. Lembrei bastante de um filme que recomendo: “Paulo, o Apóstolo de Cristo“.
Afinal, este é o primeiro capítulo da trilogia “Mistério da Fé” de Moacyr, na qual ele pretende explorar a relação entre a fé e o mundo atual. Fiquei curioso para o que virá a seguir, pois, ao fim do espetáculo, saí com duas vontades, uma de louvar e agradecer ao teatro, por todo seu poder, magia, conhecimento e alegria que proporciona e outra de louvar a Jesus, por todos os ensinamentos de humildade e elevação humana que nos trouxe. Somos parte do plano?
SERVIÇO:
“MORIA” – @moria.teatro
Temporada: 05 a 20 de setembro
Dias da semana: Terças e quartas-feiras, às 20h
Ingressos: R$ 50 (inteira) / R$ 25 (meia-entrada)
Link de vendas: https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/70bff98a5ab504ef6d2126dc0c2b13857af31bae
Local: Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim
Endereço: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema
Informações: (21) 2332-2016
Lotação: 190 lugares
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 75 minutos
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia, Direção, Cenário e Figurino: Moacyr Góes
Colaboração no Texto: Andre Chevitarese
Iluminação: Adriana Ortiz
Música Original e Direção Musical: Miguel de Góes e Tom Veloso
Projeto Gráfico: Lavorare
Redes Sociais: Isabel Rizzo e Isabel Miranda
Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria
Preparação Corporal: Ursula Mandina
Fonoaudióloga: Mônica Marques e Rosi Santos
Assistência de Direção: Miguel de Góes
Produção Executiva: Victor Vasconcellos
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