Dirigido Ayse Polat, Ponto Oculto se utiliza de diferentes pontos de vistas narrativos, para construir uma alegoria sobre violência e perseguição politica.
Muito antes de Quentin Tarantino ter eternizado a estrutura da AntiTrama na cultura pop com Pulp Fiction (1995, Quentin Tarantino), cineastas como Akira Kurosawa já haviam trabalhado com este conceito explorado tão afinco pelo estudioso Robert McKee em seu livro Story (2006, Robert McKee). Resumidamente, uma Antitrama é uma forma de narrativa que contradiz as formas mais tradicionais, com o intuito de explorar, ou até mesmo ridicularizar, a ideia dos princípios formais. O cineasta que trabalha com a Antitrama raramente quer suavizar sua visão, deixando claro suas ambições “revolucionárias”, tendendo para a extravagância e o exagero autoconsciente.
Não enxergo uma melhor maneira de iniciar um texto sobre Ponto Oculto do que explicando esta terminologia, afinal, a produção de Ayse Polat é um exemplo claro desta estrutura, seguindo a risca tanto narrativamente quanto esteticamente a descrição de Mckee, realizando algo semelhante ao feito por Hirokazu Koreeda, em seu premiado Monster (2023, Hirokazu Koreeda), porém, ao invés das diferentes visões sobre o amor entre dois meninos, Ponto Oculto é um thriller investigativo que explora o clima político e opressor da Turquia.
Confira abaixo o trailer de Ponto Oculto e continue lendo a crítica
Narrativamente o filme apresenta dois núcleos distintos, o primeiro é sobre uma equipe de documentário alemã que vai até a Turquia com o intuito de entrevistar uma mulher sobre memoriais invisíveis, durante estas gravações eles conhecem uma jovem menina sensitiva chamada Melek, interpretada de modo assustador pela jovem Ça?la Yurga, e a partir da jovem, somos apresentados ao segundo núcleo envolvendo ela e seu pai, Zafer.
Dividido didaticamente em três capítulos, Ponto Oculto apresenta estéticas visuais bem distintas que vão desde Steadicam, câmera imóvel no tripé, gravação feita por celular, câmera dentro de mala, câmera escondida atuando como vigilância, entre outras que exploram todas as possibilidades que a direção de fotografia idealizou com o intuito de tornar o filme dinâmico e, podemos dizer, estranho para a sua audiência, trazendo um misto de curiosidade e desconforto para o espectador.

Cena de Ponto Oculto- Divulgação Pandora Filmes
A produção se passa em uma remota aldeia curda na Turquia, uma região marcada pelo preconceito e pela “repressão invisível”. As diferentes câmeras idealizadas por Polat, remetem ao senso de Pan-óptico idealizado por Jeremy Bentham, em que somente uma única pessoa observa a todos, sem que eles saibam se estão sendo vigiados ou não, por consequência, todos vivem em um medo constante, como visto por meio do personagem de Zafer e sua divisão entre o dever, e a proteção de sua família, surgindo um senso de paranoia e preocupação.
A produção junta em sua narrativa o thriller investigativo, o filme experimental, a intriga política e um pouco de sobrenatural. Se utilizando de alegorias para abordar de modo maduro os diferentes crimes de ódio, e a tensão sentida por seus personagens, fazendo uso de uma narrativa não linear e propositalmente confusa, que nem mesmo seu final é satisfatório, deixando ainda algumas dúvidas para o espectador que abrem possibilidades diferentes de interpretação e simbolismos, dentro de um quebra-cabeça investigativo e político que diverte e paradoxalmente, incomoda o espectador.

Ahmet Varl? como Zaref em cena de Ponto Oculto- Divulgação Pandora Filmes
Ganhador da Tulipa Dourada de melhor filme no Festival de Cinema de Istambul, além de melhor roteiro e edição, Ponto Oculto estreia nos cinemas brasileiros no dia 24 de Julho, com distribuição da Pandora Filmes.
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