Dirigido por Kim Jee-woon, Na Teia da Aranha se utiliza da metalinguagem para retratar até onde vamos por nossos objetivos
Com a pandemia de COVID 19, e os impactos causados com o adventos do streaming, o cinema teve que se transformar, por bem ou ou por mal, seja em questões técnicas quanto narrativas, não a toa, existe uma crise criativa que permeia grandes estúdios de Hollywood, porém, apesar de o cinema estar longe de se extinguir, nos perguntamos como proteger o seu estado único como sétima arte?
Enquanto países como EUA se recuperaram após a pandemia, países como a Coreia do Sul ainda sofrem os impactos, assim, Kim Jee-woon fez Na Teia da Aranha com o intuito de lidar com uma ansiedade causada por tantos medos da indústria cinematográfica sempre permeada de crises, se inspirando nos cineastas da década de 1970, que mesmo durante uma ditadura, ainda encontravam formas de mostrar sua arte.
Confira abaixo o texto de Na Teia da Aranha e continue lendo a crítica
Divulgado como uma comédia, porém, podendo ser considerado um filme bem mais dramático e metalinguístico, no estilo de A Noite Americana (1973, François Truffaut), porém, com muito mais caos e absurdos durante as filmagens, Na Teia da Aranha se divide em duas partes, separadas de modo bem didático: a primeira em preto e branco é o filme rodado por seu protagonista, o Diretor Kim, enquanto a segunda parte, é o processo de filmagem deste filme em si.

Krystal Jung em cena de Na Teia da Aranha-Divulgação Pandora Filmes
Recheada de homenagens ao cinema como produções de Alfred Hitchcock e Henri-Georges Clouzot, a produção se mantém de pé por meio de paralelos com o filme rodado e a própria vida dos atores e equipe, ocasionando absurdos dignos de novelas mexicanas, contratempos e um terceiro ato caótico envolvendo muito incêndio, extrapolando os absurdos de sets de filmagens à 10º potência, mesmo sem trazer risos altos da plateia, ele alcança sucesso por meio de suas situações inovadoras para filmes metalinguísticos do gênero, como
Ave, César! (2016, Ethan e Joel Coen) e o próprio Saneamento Básico (2007, Jorge Furtado), e personagens únicos para o seu meio.
Ao longo da história, foram introduzidos diversos arquétipos presentes em toda boa produção sobre sets de filmagens, desde o AD sempre a um dia de explodir, até as diversas dificuldades ocasionadas por atores, porém, com uma quantidade tão grande, seu próprio protagonista é apagado.
Após grandes sucessos como Parasita (2019, Bong Joon-ho), Song Kang-ho, diretor Kim, se limita em um papel tenso e com poucas nuâncias, repetindo sempre as mesmas ações e tiques, enquanto Yu-Rim, interpretado pela cantora Krystal Jung, se destaca bem mais como a atriz diva e mimada, um dos muitos tipos que existem no filme, incluindo a gerente do estúdio que não deseja financiar o filme, e a jovem produtora que quer se destacar no mundo.
Existem dois pontos fortes em Na Teia da Aranha, o primeiro deles é a metalinguagem e a loucura que presenciamos em Kim, um diretor que busca o melhor projeto possível, refazendo um filme já finalizado. No melhor estilo Francis Ford Coppola – O Apocalipse de Um Cineasta (1991, Eleanor Coppola), presenciamos a decadência de um homem controlado, em alguém que faria de tudo para não comprometer sua visão artística.
O segundo ponto forte é o exagero e o roteiro absurdo, apesar de não ser tão engraçado quanto almeja, ou quanto prometia no trailer, o caos e as situações, incluindo diálogos nem um pouco naturalistas e extremamente expositivos, construindo uma dramatização exagerada, que segundo o diretor, Kim Jee-woon, levou o público coreano aos risos, segura a produção enquanto ainda tem fôlego para contar uma história filmada em um enorme galpão, na Coreia do Sul dos anos 1970.

Jeon Yeo-been e Song Kang-ho em cena de Na Teia da Aranha-Divulgação Pandora Filmes
Em questão do período histórico, o filme aborda o período da ditadura sul-coreana de Park Chung-hee, um momento que limitou liberdades civis e manteve artistas, jornalistas e intelectuais sobre extrema censura, porém, além do estúdio, pouco vemos do mundo exterior, apresentando somente a visão da equipe responsável pela produção do filme nomeado de Na Teia da Aranha, o que prejudica nosso contato para com esta população.
Com 135 minutos de duração, um tempo que facilmente poderia ser reduzido, sem impacto narrativo na produção, Na Teia da Aranha cansa o espectador com as fobias de Kim e as relações cansativas de bastidoras, tornando as cenas do “filme dentro do filme”, bem mais interessante do que os bastidores.
Apesar de falho em certos pontos, Na Teia da Aranha entretém como uma homenagem ao cinema em todas as suas facetas, e em seu retrato da perseverança necessária para se vencer dentro da arte, nunca estando satisfeito com seu trabalho final, porém, sempre lutando por seus ideais.
Com distribuição da Pandora Filmes, Na Teia da Aranha estreia nos cinemas no dia 12 de Junho de 2025.
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